EUA fez vistas grossas às torturas praticadas no Brasil durante a ditadura

Diplomatas americanos reconheciam que “uso da força” desestimulava ações terroristas e comunistas

Uma série de relatórios enviados pelo governo dos Estados Unidos (EUA) à Comissão Nacional da Verdade (CNV) provam que diplomatas e lideranças daquele país tinham consciência das ações criminosas praticadas pela ditadura brasileira, mas nada fizeram para impedi-las. Ao todo, 43 documentos foram entregues à CNV durante a visita do vice-presidente americano Joe Biden, sendo que 18 deles permaneciam secretos até a entrega à comissão.
Os relatórios provam que os EUA conheciam em detalhes as práticas de tortura física e psicológica cometidos pelo governo militar. Um telegrama confidencial fala que a polícia usava choques elétricos, inanição e imobilização como “estratégias de interrogatório”. Os documentos, porém, não requerem nenhuma medida efetiva de combate às práticas de violência – em alguns casos chegam até a apoiar as técnicas.
“Muitos brasileiros atribuem o sucesso do combate ao terrorismo ao uso da força contra os subversivos”, afirma um telegrama de 1972 sobre as práticas de tortura no Brasil. Os americanos tinham conhecimento inclusive de que a violência física era empregada até contra prisioneiros sem ligação ao “comunismo e outras práticas subversivas”, havendo identificado 171 detentos “regularizados” vítimas de tortura só em São Paulo.
Repercussão  – Outra revelação importante dos documentos é de que haviam registros de prisioneiros políticos sendo torturados no interior de quartéis das Forças Armadas, prática que a Defesa nacional não admite. Os nomes dos envolvidos nesses crimes, porém, não foram divulgados. Os relatórios mostram que o governo americano tinha mais preocupação naquela época com a repercussão destas violências, comemorando até a “apatia da população” frente aos assuntos.
Por último, alguns documentos se debruçam também sobre a divulgação negativa que poderiam ter as “mortes suspeitas” de pessoas famosas, entre elas Zuzu Angel e Vladimir Herzog. Até as declarações do ex-presidente militar Ernesto Geisel sobre direitos humanos mereceram um relatório especial. “É dando moradia, educação, saúde e trabalho que nós poderemos aumentar o padrão de vida brasileiro ao nível da dignidade humana. Essas são os direitos humanos que me preocupam”, declarou ele em 1977.
Análises – Em nota, a CNV afirmou ter recebido os documentos do governo americano com “satisfação” e que pesquisadores estão fazendo uma análise de seus conteúdos. Não há, porém, um prazo para a conclusão dos estudos. A lista completa de documentos em foi disponibilizada on-line pela Comissão.

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