Lula defende integração como “necessidade de sobrevivência democrática”
Em visita oficial à Bolívia, presidente defende democracia na América do Sul e assina acordos para fortalecer integração do continente: “A desunião das forças democráticas só tem servido à extrema direita”
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As relações diplomáticas entre Brasil e Bolívia ingressaram em nova etapa. O presidente Lula foi recebido, nesta terça-feira (9), pelo colega boliviano, Luis Arce, na cidade de Santa Cruz de la Sierra, para a assinatura de acordos bilaterais entre os países. Em declaração à imprensa, Lula enfatizou a importância da democracia, da soberania e da cooperação na América do Sul e defendeu a integração do continente. No dia anterior, o governo de La Paz selou a entrada da Bolívia no Mercosul, durante conferência do bloco na capital do Paraguai, Assunção.
“A integração é uma necessidade de sobrevivência dos países da América do Sul, do Brasil e da Bolívia. Nós assinamos acordos aqui e temos consciência de que o que nós fizemos aqui tem como perspectiva melhorar a qualidade de vida do povo da Bolívia e melhorar a qualidade de vida do povo do Brasil. […] É preciso dar uma chance no século 21 para que Brasil, Bolívia e outros países da América do Sul deixem de ser tratados como países em vias de desenvolvimento”, afirmou Lula.
Ao iniciar a fala, Lula agradeceu a hospitalidade de Arce e exaltou as instituições democráticas bolivianas. Recentemente, o país vizinho resistiu a uma tentativa de golpe de Estado, a exemplo do Brasil, em 8 de janeiro de 2023. Para ingressarem no Mercosul, os países do continente precisam reiterar o compromisso com o regime democrático, termos previstos do Protocolo de Ushuaia.
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“Assim como no Brasil, a democracia boliviana prevaleceu após um longo caminho entrecortado por golpes e ditaduras. Mas o que julgávamos que era o fim da estrada provou ser ainda um terreno movediço. Em 2022, o Brasil completou o bicentenário de sua Independência num dos momentos mais sombrios de sua história. Em vez de celebrar, fomos tomados por uma onda de extremismo, que desembocou no 8 de janeiro, na tentativa de golpe”, lamentou Lula.
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“O povo boliviano já havia provado desse gosto amargo com o golpe de Estado de 2019 e agora se viu acometido pela tentativa de golpe no dia 26 de junho. Às vésperas de comemorar o seu bicentenário em 2025, a Bolívia não pode voltar a cair nessa armadilha”, prosseguiu o presidente.
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Acordos bilaterais
Lula e Arce firmaram tratados em diversas áreas, visando a integração física e energética dos dois países e da América do Sul. A Bolívia, cuja fronteira terrestre se estende do Mato Grosso ao Acre, por 3,4 mil km, é o principal fornecedor de gás natural à economia brasileira. Em reunião bilateral, os presidentes acertaram investimentos para ampliar as exportações da commodity. Lula detalhou as obras de infraestruturas a serem concluídas para conectar ainda mais os dois povos.
“O engajamento boliviano é chave para a conclusão do conjunto de rotas que o Brasil tem chamado de Quadrante Rondon. Com a construção da ponte binacional sobre o Rio Mamoré, o transporte de bens ficará mais barato, beneficiando, em particular, os estados de Beni e Pando, na Bolívia, e Rondônia e Acre, no Brasil”, explicou o presidente.
“As propostas brasileiras para melhorar a navegabilidade no Canal Tamengo e no Rio Paraguai também visam facilitar a nossa conexão”, acrescentou.
Lula anunciou ainda a construção de uma fábrica de nitrogenados, entre Corumbá e Puerto Quijarro, para incrementar a importação brasileira de fertilizantes da Bolívia, e ofereceu os conhecimentos da Petrobras em biocombustíveis para auxiliar o governo boliviano no imperativo da transição ecológica.
“No centro dessa transição, também estarão os minerais críticos. A Bolívia tem grandes reservas de lítio, enquanto o Brasil possui terras-raras, nióbio, cobalto, entre outros. Há pouco tempo, descobriu-se em solo brasileiro o terceiro maior depósito de manganês do planeta. Como bem descreveu Eduardo Galeano, pelas veias abertas da América Latina correram o ouro de Minas e a prata de Potosí, que enriqueceram outras partes do mundo”, disse Lula, referindo-se ao escritor uruguaio, antes de pregar a soberania dos países da região sobre suas riquezas naturais.
Ótima reunião bilateral com @LuchoXBolivia, presidente da Bolívia. Falamos da necessidade de integração regional na América do Sul não apenas como retórica, mas como sobrevivência democrática no continente. Também tratamos de projetos que serão desenvolvidos entre os dois países… pic.twitter.com/vx13PVqyTA
— Lula (@LulaOficial) July 9, 2024
BRICS e G20
Segundo o presidente Lula, o governo boliviano manifestou interesse em aderir ao BRICS. O bloco econômico – que era originalmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – incorporou, recentemente, a Arábia Saudita, o Irã, os Emirados Árabes Unidos, o Egito e a Etiópia. “O Brasil vê como muito positiva a inclusão da Bolívia e de outros países de nossa região”, definiu.
O presidente boliviano foi convidado a participar da Cúpula do G20, a ser realizada em novembro, no Rio de Janeiro. Em 2024, o Brasil exerce a presidência rotativa do grupo de países e tem pautado os debates em torno do desenvolvimento sustentável e do enfrentamento da fome e das desigualdades sociais.
“Além do excelente relacionamento bilateral, Bolívia e Brasil partilham de visões de mundo convergentes, o que nos faz parceiros naturais em diversos temas. A prioridade conferida à redução das desigualdades e à promoção da segurança alimentar é um deles. Por isso, fiz questão de convidar a Bolívia a participar da Cúpula do G20, em novembro, e a se somar à aliança global de combate à fome e à pobreza que será lançada pela presidência brasileira”, contou, antes de ser aplaudido.
Da Redação