A resistência vem da luta e da unidade dos Movimentos Sociais

Carla Ayres, Ivan Alex de Lima e Sheila Oliveira escrevem sobre a importância da luta social organizada, ampla e unida na diversidade

Paulo Pinto/AGPT

Movimentos sociais

Foram mais de 70 assassinatos de lideranças populares no ano de 2018. O que já sinalizava que a política a ser adotada contra os movimentos sociais e populares, sua criminalização, iria (e irá) além das esferas legais e formais: o que presenciamos são “as vias de fato”.

O golpe no Brasil aprofunda-se. Não há mais garantias de direitos constitucionais. Reina a insegurança jurídica. Avança o desmonte do Estado e das políticas sociais. O objetivo deste governo e seus aliados neoliberais, neofascistas e conservadores é impor à força e pela violência o retrocesso antidemocrático.

A derrota da esquerda no processo eleitoral foi marcada pelas mentiras, artimanhas jurídicas-midiáticas e uma facada. Uma verdadeira fraude que prendeu e deixou incomunicável o principal candidato popular, líder nas pesquisas. Esta derrota também teve o protagonismo dos movimentos sociais e populares na luta incansável contra a brutal ofensiva da ultradireita, pela defesa do direito de se auto organizar e existir diante de um evidente retrocesso civilizatório.

Desde o Impeachment da presidenta Dilma, a resistência das mulheres, dos jovens, dos negros, das pessoas LGBTs, quilombolas, indígenas, movimentos sindicais, rurais, de intelectuais, de artistas ganharam uma dimensão estratégica. Nunca antes na história deste país, as pautas de luta de cada um destes movimentos se conectaram com as lutas gerais do povo brasileiro por democracia, por direitos, por liberdade, por igualdade e pelo respeito à diversidade.

De todos os retrocessos impostos à classe trabalhadora, o que não volta mais é esta consciência de que na luta de classes, o lado dos trabalhadores é também o da igualdade para as mulheres, da reparação para os negros, oportunidade para os jovens, respeito à diversidade LGBTs proteção aos quilombolas, indígenas, identidade cultural, terra, trabalho e liberdade, no campo e na cidade.

Com estas forças reunidas estrategicamente não é possível dar espaço nem tempo para a defensiva. Diante do autoritarismo emergente e do avanço voraz sobre os direitos de todos, a luta pela democracia é o elo para que as organizações populares e sindicais retomem as iniciativas e o protagonismo nas mobilizações. Esta unidade de ação é essencial na defesa dos direitos da classe trabalhadora. Ela será capaz, inclusive, de indicar a necessária unidade política no campo institucional da esquerda brasileira.

A era de ódio deste governo já inaugura com ações criminosas e de impunidade no campo e nas periferias das cidades contra a lideranças e organizações sociais, na tática de construção da figura do inexistente inimigo nacional.

A brutal ofensiva sobre os direitos como a exclusão da população LGBT da lista de políticas e diretrizes destinadas à promoção dos Direitos Humanos – que intensifica os casos de LGBTfobia sem garantias de direitos, o fim da política de segurança alimentar, a transferência das atribuições de identificação, demarcação de terras indígenas e titulação de quilombolas; além do licenciamento ambiental e políticas de reforma agrária geridas pelas mãos do agronegócio.

Em seguida virá a reforma trabalhista e da previdência. Há em tudo isso um jogo de ação orquestrado em que as ações não podem ser interpretadas como “casos isolados” contra esse ou aquele segmento da população. Trata-se da construção passo a passo de um modelo de sociedade que desvaloriza educação e o livre pensar, que cerceia a liberdade de imprensa, impõe modelos retrógrados e antidemocráticos, legitima o machismo a LGBTfobia, o racismo e a xenofobia, e ainda vilipendiosamente mantém o privilégio das elites, aumentando o fosso das injustiças sociais, penalizando os pobres.

O símbolo principal deste estágio do golpe é a manutenção de Lula como refém do golpe brasileiro. O Brasil nunca será democrático enquanto Lula estiver preso. A luta pela libertação do Presidente Lula é estratégica e simboliza a polarização de projetos diametralmente opostos.

Nesta nova esquina da política brasileira é importante também ajustar a atuação nos governos e dos mandatos de esquerda. A prioridade da luta institucional é articulá-la com as mobilizações populares e impulsionar a organização e as lutas do povo. O Nordeste brasileiro poderá ser uma referência central nessa luta e trincheira desta resistência. É preciso intensificar estes laços, especialmente, nos municípios e nos estados. O povo se envolve, conversa e se realiza lá, no seu local, onde a vida se constrói e se reproduz.

Esta necessária retomada de relação e diálogo com a população não é patrimônio de nenhuma das siglas de esquerda. É de todas. É uma urgência história. A Frente Brasil Popular, articulada com a Frente Povo Sem Medo, é espaço estratégico desta construção. A organização do Congresso do Povo é o momento de ampliação da atuação junto à população, assim como o melhor exemplo de unidade na base da luta social.

A aposta de mudança na correlação de forças na sociedade passa pela conscientização de que a luta contra os prejuízos econômicos e sociais são a base para os enfrentamentos de problemas estruturais como a pobreza, a falta de alimento, moradia, violência, saúde, educação e os Direitos Humanos.

É fundamentalmente a luta social organizada, ampla e unida na sua diversidade, capaz de garantir a resistência e a retomada da democracia e dos direitos sociais.

Por Carla Ayres, Ivan Alex de Lima e Sheila Oliveira, membros do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Esquerda Popular Socialista (EPS).

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast