Araújo terá de explicar novo ataque dos EUA à soberania sul-americana

Com objetivo de inviabilizar as eleições legislativas na Venezuela, visita do secretário de Estado norte-americano a Roraima foi repudiada pelo PT, pelo presidente da Câmara e por ex-chanceleres brasileiros. “É um absurdo que esse monitoramento esteja sendo admitido, transformando o Brasil num quintal americano. Queremos uma relação com os EUA com independência”, criticou o senador Jaques Wagner (PT-BA). Bancada do PT decidiu obstruir sessões da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CRE) para sabatinar indicados às embaixadas brasileiras no exterior. Ministro das Relações Exteriores deverá apresentar explicações sobre visita de Mike Pompeo nesta quinta-feira (24), no Senado

O grau de submissão do governo Bolsonaro aos interesses dos EUA envergonha a diplomacia brasileira aos olhos do mundo desde o início do mandato do ocupante do Planalto. A última demonstração inequívoca de vassalagem do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ao presidente Donald Trump, no entanto, ultrapassou todos os limites.

Realizada para atender as estratégias eleitorais de Trump, a visita do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, a Roraima, na sexta-feira (18), representa um sério risco à estabilidade da América do Sul, além de um ataque direto à Constituição.  Além de Roraima, onde se encontrou com Aráujo, Pompeo também foi à Colômbia, à Guiana e ao Suriname. O objetivo de Pompeo, a pretexto de prestar solidariedade a venezuelanos exilados no Brasil, é inviabilizar as eleições legislativas na Venezuela.

Diante da gravidade da crise que se avizinha, a bancada do PT no Senado decidiu obstruir as sessões da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CRE) para sabatinar indicados às embaixadas brasileiras no exterior. Na quinta-feira (24), Araújo comparecerá ao Senado para prestar explicações à Comissão. 

“É um absurdo que esse monitoramento esteja sendo admitido, transformando o Brasil num quintal americano. Queremos uma relação com os EUA com independência”, alerta o senador Jaques Wagner (PT-BA)

“Não somos base dos EUA”, reagiu o senador Jaques Wagner (PT-BA). “Não precisamos macular nossas relações com os EUA nem com os vizinhos da América do Sul. É um absurdo que esse monitoramento esteja sendo admitido, transformando o Brasil num quintal americano. Queremos uma relação com os EUA com independência”, argumentou o senador.

Para Wagner, a visita de Pompeo não foi um ato corriqueiro. “Ele visitou o entorno da Venezuela, a quem eles querem ameaçar por conta das eleições legislativas que acontecerão em dezembro”, disse. “Por isso, propus um voto de censura à visita do Departamento Americano a Roraima, por considerar a forma inapropriada como essa visita foi feita, fora de tempo, fora de lugar, usando o nosso solo nacional para ameaçar o povo venezuelano”, justificou o senador.

Reações

A visita de Pompeo também repercutiu na Câmara dos Deputados, cujo presidente, Rodrigo Maia, defendeu, no final de semana, o adiamento das sabatinas. Para Maia, a visita de Pompeo não condiz com a boa prática diplomática internacional” e “afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa”. Ex-embaixadores brasileiros também endossaram a avaliação de Maia e divulgaram uma dura nota de repúdio.

“Conforme salientado na Nota do Presidente da Câmara, temos a obrigação de zelar pela estabilidade das fronteiras e o convívio pacífico e respeitoso com os vizinhos, pilares da soberania e da defesa”, diz a nota. “Nesse sentido, condenamos a utilização espúria do solo nacional por um país estrangeiro como plataforma de provocação e hostilidade a uma nação vizinha”, afirmam os ex-chanceleres. A nota foi assinada por Celso Amorim, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aloysio Nunes, Celso Lafer e Francisco Rezek.

Perigosa instabilidade

A bancada do PT alerta que a interferência americana na Região pode mergulhar a Venezuela em uma guerra civil e transformar a América do Sul em um novo Oriente Médio. Para impedir o agravamento de uma já perigosa instabilidade, o PT defende a realização das eleições como forma de garantir uma solução pacífica aos conflitos internos do país.

“Melhor faríamos nós, brasileiros, se designássemos uma comissão que fosse aceita pelo governo venezuelano para acompanhar o que vai acontecer nas eleições. Melhor do que ficar torcendo para que o caos se instale por lá e a gente depois não consiga sequer poder opinar”, sugeriu Jaques Wagner.

Nota de repúdio do PT

Antecipando-se à visita de Pompeo, o PT publicou, na quarta-feira, uma nota de repúdio a mais uma humilhação histórica, imposta pelo governo entreguista de Bolsonaro, à diplomacia brasileira. “O governo brasileiro, capitaneado por Jair Bolsonaro, demonstra mais uma vez sua submissão aos ditames do governo de Donald Trump, colocando-se sempre aberto a seguir suas ordens ou receber seus representantes em nosso território, num processo contínuo de afronta a nossa soberania“, diz a nota.

“O PT não se calará ante mais este ataque a nosso país e seguirá o caminho de sempre em sua defesa, sua total independência nas relações internacionais e a implementação de uma política soberana para toda a América do Sul”, conclui a nota do partido.

Em Roraima, Pompeo deixou claras as intenções de Trump na Venezuela. “Não devemos esquecer que ele [o presidente Nicolas Maduro] é um líder que destruiu o seu próprio país, mas também é um traficante de drogas, que envia drogas ilícitas para os EUA todos os dias, impactando os americanos todos os dias”, disparou o secretário de Estado.

Da Redação

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