Assassinatos no campo batem maior recorde desde 2003

Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou os dados de assassinatos em conflitos no campo no Brasil em 2017, que chegaram a 70 mortes

MST

Os assassinatos em Pau D´Arco registraram o maior massacre campesino desde Eldorado do Carajás, em 1996

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou nesta segunda-feira (16) dados preliminares do relatório “Conflitos no Campo Brasil”, com o número de assassinatos em conflitos no campo no Brasil em 2017, que chegou a 70 mortes – o maior número desde o ano de 2003. A CPT também denuncia ataques hackers que sofreu no último ano, o que acabou impossibilitando a conclusão e o lançamento do relatório anual na data inicialmente prevista.

O número de mortes em 2017 corresponde a um aumento de 15% em relação ao número de 2016. Dentre essas mortes, a CPT destaca 4 massacres, ocorridos nos estados da Bahia, Mato Grosso, Pará e Rondônia. O número de mortes no campo vêm aumentando conforme avançou o processo do golpe que retirou a presidenta Dilma Rousseff do poder.

A entidade ainda afirma suspeitar de ter ocorrido mais um massacre, de indígenas isolados, conhecidos como “índios flecheiros”, do Vale do Javari, no Amazonas, entre julho e agosto de 2017. Seriam, pelas denúncias, mais de 10 vítimas. Contudo, uma vez que o Ministério Público Federal no Amazonas e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) não chegaram a um consenso, e diante das poucas informações a que a CPT teve acesso, por se tratar de povos isolados, o caso não foi inserido na listagem.

Os assassinatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra, de indígenas, quilombolas, posseiros, pescadores, assentados, entre outros, tiveram um crescimento brusco a partir de 2015, ano em que começou o impeachment.

O estado do Pará lidera o ranking de 2017 com 21 pessoas assassinadas, sendo 10 no Massacre de Pau D’Arco; seguido pelo estado de Rondônia, com 17, e pela Bahia, com 10 assassinatos.

Dos 70 assassinatos em 2017, 28 ocorreram em massacres, o que corresponde a 40% do total. Segundo levantamento da CPT, desde 1985 já ocorreram 46 massacres com 220 vítimas. O estado do Pará também lidera esse ranking, com 26 massacres ao longo desses 32 anos, que vitimaram 125 pessoas.

Assassinatos e Julgamentos

A CPT registra os dados de conflitos no campo de modo sistemático desde 1985. Entre os anos de 1985 e 2017, a CPT registrou 1.438 casos de conflitos no campo em que ocorreram assassinatos, com 1.904 vítimas. Desse total de casos, apenas 113 foram julgados, o que corresponde a 8% dos casos, em que 31 mandantes dos assassinatos e 94 executores foram condenados. Isso mostra como a impunidade ainda é um dos pilares mantenedores da violência no campo.

Nesses 32 anos, a região Norte contabiliza 658 casos com 970 vítimas. O Pará é o estado que lidera na região e no resto do país, com 466 casos e 702 vítimas. Maranhão vem em segundo lugar com 168 vítimas em 157 casos. E o estado de Rondônia em terceiro, com 147 pessoas assassinadas em 102 casos.

Ataques hackers atrapalham conclusão do relatório anual da CPT

A partir do segundo semestre de 2017, a Secretaria Nacional da CPT, situada em Goiânia (GO), sofreu seguidos ataques hackers, orquestrados e direcionados a setores estratégicos, que forçaram a limitação do funcionamento de seus servidores na tentativa de manter a segurança do sistema, o que acabou comprometendo o desempenho das tarefas diárias da Pastoral.

O Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, responsável pela catalogação e compilação dos dados de conflitos no campo divulgados pela entidade, foi prejudicado, atrasando o fechamento do relatório anual da CPT, o “Conflitos no Campo Brasil”, e impossibilitando o seu lançamento na data costumeira, a semana do 17 de abril, Dia Internacional de Luta Camponesa, em memória aos trabalhadores rurais sem-terra assassinados na Curva do S, em Eldorado dos Carajás, Pará, em 1996.

Esses ataques podem, também, fazer parte do processo de criminalização empreendido contra organizações e movimentos sociais de luta. O caso foi denunciado às instâncias policiais competentes e segue sob investigação. De qualquer forma, a CPT julga de extrema importância denunciar, ainda que de forma incompleta, algumas das diversas formas de violência exercidas contra os povos do campo em 2017 e chamar a atenção para os dados alarmantes que agora analisamos. Em breve será divulgado, enfim, o relatório “Conflitos no Campo Brasil 2017”, completo. A CPT aproveita para reafirmar seu compromisso com as causas do povo pobre do campo, e que não conseguirão nos calar!

Confira a íntegra da tabela elaborada pelo CEDOC Dom Tomás Balduino – CPT:

Da redação da Agência PT de notícias, com informações da CPT

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