Bolsonaro demite diretor do INPE para esconder verdade sobre a Amazônia

Antônio Nobre, especialista em rios voadores da Amazônia, lamenta demissão de Ricargo Galvão e adverte: “Os dados vão surgir, quer o governo queira, quer não.”

Fábio Garcia/ISA

Desmatamento em área privada no Mato Grosso, na fronteira do Território Indígena do Xingu

Bolsonaro segue tentando encobrir os seguidos fracassos de seu governo. Enquanto mais da metade da população não sabe apontar uma medida positiva de sua administração, Jair prefere manter seu discurso de preconceito e ódio sem parar. O desemprego e o desmatamento seguem em alta, e o ex-capitão insiste em ignorá-los. E agora, demite aqueles que expõem os dados, que claramente demonstram o desgoverno do país.

Em sua última negação dos fatos, Bolsonaro exonerou o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, órgão que divulgou o aumento de 68% do desmatamento na primeira quinzena de julho em relação ao mesmo período de 2018. Galvão assumiu o cargo em 2016, depois de passar por um criterioso processo de seleção. O processo de escolha, que acontece desde 1999, avalia o currículo e a carreira científica dos candidatos.

O pesquisador do Inpe, Antônio Nobre ressalta o espanto com a demissão inédita de um presidente do instituto: “Em 20 anos, nunca um diretor foi demitido. Eles são escolhidos em um processo meritocrático, que determina que a direção do órgão só pode ser exercida por quem passou por uma avaliação científica”, afirmou em entrevista à BBC Brasil.

Negação da realidade ou dissimulação?

No dia 19 de julho, após a divulgação dos dados, Jair sugeriu que o diretor poderia estar a “serviço de alguma ONG” e que se tratavam de “matérias repetidas que apenas ajudam a fazer com que o nome do Brasil seja malvisto lá fora”.

Galvão se defendeu dos ataques e afirmou ao Jornal Nacional, da TV Globo, que:  “a única coisa que o Inpe faz é colher dados, nada mais” e criticou as atitudes de Bolsonaro. “Ele tem um comportamento como se estivesse em botequim. Ou seja, ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas. Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um Presidente da República fazer”.

O desgaste aumentou após Marcos Pontes defender restrições à publicação de dados dos desmatamento. Pontes é ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e colabora com Bolsonaro para encobrir o panorama ambiental vexatório do Brasil. Sem apoio do astronauta, Galvão anunciou à imprensa sobre a própria exoneração, cansado do bate-boca público.

“Tentam incriminar o carteiro pela mensagem”

Antônio Nobre é especialista em rios voadores da Amazônia e está revoltado com a exoneração. “O que estamos vendo é um repique muito sério do desmatamento, relacionado à nova gestão federal, e eles tentam incriminar o carteiro pela mensagem. O mais triste dessa situação é que não há dúvidas, são questões fabricadas pelo governo”, disse à BBC News.

O pesquisador comentou a repercussão internacional negativa em relação à situação ambiental do país:  “A comunidade internacional está horrorizada com o que estão fazendo conosco. É muito grave que o governo queira suprimir informações que são públicas desde 2003. A intenção do governo é manipular os dados, os fatos não interessam”.

Bolsonaro foi capa do “New York Times” no domingo (28), em reportagem que destacava o avanço do desmatamento na Amazônia. A revista “The Economist” chegou a sugerir boicote a produtos brasileiros produzidos em área desmatada.

Da Redação da Agência PT de Notícias com informações da BBC Brasil

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