Brasil tem 5 mil mortes. Bolsonaro desdenha: “E daí?”

Presidente da República ignora tragédia que se abate sobre milhares de famílias, enquanto ministro da Saúde anuncia em coletiva, conformado, o agravamento da situação, sem sequer recomendar à população que permaneça em casa. Governo não tem plano para minimizar a pandemia

Michael Dantas/AFP

Cemitério de Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, onde os enterros estão ocorrendo em valas comuns, por causa do aumento dos óbitos na capital amazonense por Covid-19.

O presidente Jair Bolsonaro deixou as formalidades de lado e partiu para o deboche ao ser confrontado pela imprensa, na noite de quarta-feira (28), com a disparada do número de mortos no Brasil pelo Covid-19. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre”, desdenhou. Ha duas semanas, Bolsonaro havia declarado que o novo coronavírus não passava de uma “gripezinha” ou “resfriadinho”. Agora, no Brasil, subiu para 5.017 o número de mortos pelo Covid-19, ultrapassando a China.

“Esse é o genocida que governa o Brasil e que está pouco se lixando para o fato de termos, nas últimas 24 horas, um recorde de mortos por Covid-19”, criticou o senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde no governo Lula. “E os negacionistas, sob o berrante de Bolsonaro, seguem em uma cruzada irracional para empurrar mais brasileiros à cova. Responderão por isso”.

O país já tem 71.886 casos confirmados de pessoas infectadas, mas nem o ministro da Saúde, Nelson Teich, parece incomodado, ainda que reconheça o agravamento da pandemia. A notícia corre o mundo e agências internacionais de notícias destacam que o Brasil deve ser o novo foco da pandemia, com as medidas de afrouxamento do isolamento social que vinha sendo imposto pelos governos estaduais. 

Humberto Costa critica o presidente da República: “Esse é o genocida que governa o Brasil e que está pouco se lixando para o fato de termos, nas últimas 24 horas, um recorde de mortos por Covid-19”

Na coletiva, no final da tarde, o ministro da Saúde mostrou simplesmente que não tem qualquer plano ou sabe o que fazer para minimizar o impacto da doença. Passivo, limitou-se a colocar o segundo escalão para responder aos questionamentos de jornalistas, enquanto olhava para o vazio e balbuciava, conformado, que a crise sanitária estava se agravando.

“Há alguns dias eu coloquei que (o número de mortos e contaminações) poderia ser um acúmulo de casos de dias anteriores que foi simplesmente resgatado, mas como temos manutenção desses números elevados e crescentes, temos que abordar isso como um problema, como uma curva que vem crescendo, como um agravamento da situação”, disse.

Providências

Na semana passada, o PT ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para determinar ao governo que tome providências para manter o isolamento social. A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), pediu ao STF que obrigue o governo a explicitar as providências que vêm sendo tomadas para aparelhar estados e municípios para a realização de testes massivos.

Na entrevista à imprensa, Teich não se opôs sequer a advertir a população que se mantenha confinada em casa ou condenou as medidas de relaxamento da quarentena que vinha sendo perseguida nas cidades brasileiras e recomeçou em muitos estados. “O ministro da Saúde não apresentou até agora sequer um plano de ação enquanto o vírus se alastra”, cobra o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da Saúde no governo Dilma.

Enquanto isso, a situação ganha contornos trágicos. Na região metropolitana de São Paulo, 81% dos leitos de hospitais estão ocupados. No Rio de Janeiro, cemitérios aumentam vagas e constroem gavetões para enterrar vítimas. E pior. O coronavírus foi identificado pela Fiocruz até em esgotos.

Em Manaus, cidade onde os efeitos da pandemia são mais intensos, os parentes das vítimas protestaram contra o modo como ocorrem os sepultamentos, com caixões sobrepostos em camadas em uma vala comum. O cemitério passou ontem a promover enterros durante a noite, diante do aumento súbito do número de óbitos na capital do Amazonas.

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