Com mais de 800 mil casos, Brasil encosta no Reino Unido em número de mortos 

País registra 41.162 mortes por coronavírus e está prestes a ultrapassar o Reino Unido em  óbitos por causa da doença. Total de infecções chega a 809.398, dos quais mais de 30 mil casos diários, marca ultrapassada pelo terceiro dia seguido. Em mais um ato de sabotagem, Bolsonaro recomenda a apoiadores “invasão” a hospitais. Oposição reage e condena sugestão “criminosa” do presidente

Foto: André Coelho

Sepultamento em Manaus (AM)

Cenário de um desastre anunciado há meses, o Brasil está prestes a ultrapassar o Reino Unido em número de mortos por Covid-19. De acordo com o balanço desta sexta-feira (12) feito pelo consórcio de veículos de imprensa, o país tem 41.162 mortos e 809.398 infectados pela doença. Na quinta-feira (11), foram registrados mais de 30 mil novos casos diários pelo terceiro dia consecutivo, além de mais de mil mortes em 24 horas. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro, em mais uma demonstração flagrante de desequilíbrio, recomendou a seguidores a invasão de hospitais com o pretexto de checar a ocupação de leitos nos hospitais.

“Tem um hospital de campanha perto de você, tem um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais gente tem que fazer, para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são compatíveis ou não. Isso nos ajuda”, disse o presidente, em vídeo distribuído nas redes sociais. Bolsonaro afirmou ainda que repassaria os vídeos enviados por seguidores para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e para a Polícia Federal. “Se chega ao meu conhecimento, eu envio para que seja analisado e sejam abertos processos investigatórios”

Ao deixar de mencionar os riscos da permanência de pessoas não infectadas em áreas contaminadas dentro dos hospitais, Bolsonaro roda mais uma vez a roleta russa da morte em direção ao povo brasileiro. As declarações do presidente geraram fortes reações por parte da oposição.

“Bolsonaro acusa governadores de manipular os dados da pandemia sem apresentar nenhuma prova e convoca o povo para “fiscalizar” leitos de UTI, colocando todo mundo ao risco de contaminação. Incita a desordem, é um arruaceiro”, definiu a deputada federal e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann.

Proposta genocida

O deputado federal e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também subiu o tom. “Bolsonaro age de forma irresponsável ao pedir que a população vá aos hospitais e grave a situação dos leitos. Incentiva que a população saia de casa em um momento que temos mais de 40 mil mortos, pedindo que atuem politicamente a seu favor. Proposta genocida pra população!”, atacou.

“As agressões às vítimas do coronavírus e sua tentativa de sabotar o combate à pandemia já não são novidade. Ontem, de forma criminosa, Bolsonaro incentivou a invasão de hospitais para filmar os leitos ocupados. Só com o fim desse governo poderemos respirar e pensar no futuro do Brasil”, disse o deputado federal Henrique Fontana (RS).

O governador do Maranhão, Flávio Dino, também reagiu. “Se Bolsonaro não fosse essa pessoa despreparada e desesperada, saberia que não precisa mandar invadir hospital. Basta verificar os boletins que os governos estaduais publicam com o número de leitos ocupados”, rebateu Dino. “E se ele quiser visitar os nossos hospitais, eu mesmo mostro para ele”, sugeriu.

OMS alerta

Perguntado nesta sexta-feira (12) sobre o pedido de Bolsonaro, o diretor do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan, não comentou diretamente o vídeo do presidente. Ryan alertou, contudo, para uma possível sobrecarga de leitos, apesar de frisar que poucos estados apresentam taxas de ocupação superiores a 80%. “Os números estão crescendo, são altos, com todas as 27 unidades federativas afetadas pela doença. Não sabemos como o sistema de saúde vai conseguir manter esse atendimento. Ele vai precisar de apoio”, advertiu Ryan, durante conferência de imprensa.

O diretor executivo da OMS lembrou que a situação no país é preocupante e que os números de novos casos e de mortes “continuam a ser altos”. Ryan informou ainda que a OMS e a agência regional têm monitorado os casos diários no Brasil, incluindo a taxa de ocupação das UTIs.

Em um cenário sem supressão do fluxo de circulação de pessoas, o Brasil pode ter mais de 8 milhões de casos até 11 de julho, segundo o sistema Geocovid-19. Foto: Reprodução.

Projeções alarmantes

Em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, a reabertura do comércio de rua e de shopping centers vem ocorrendo desde a quarta-feira (10),  causando várias aglomerações. Em alguns shoppings, instruções transmitidas por alto-falantes para que consumidores mantivessem a distância foram em vão. Na abertura de diversas lojas, filas se formaram nas primeiras horas da manhã.

Segundo dados do sistema Geocovid-19, hospedado no endereço www.covid.mapbiomas.org, que reúne dados e projeções para auxiliar autoridades nas tomadas de decisão em relação ao combate à pandemia, a taxa média de isolamento no Brasil está na casa de 38,6%.  Todos os estados e o Distrito Federal apresentam índices de distanciamento abaixo de 50%. O mais alto é o estado de Rondônia, na casa dos 45%. O portal faz atualizações constantes com base em informações repassadas pelas secretarias de Saúde.

O sistema Geocovid-19 também divulgou uma proteção alarmante para os próximos 30 dias. Em um cenário sem supressão do fluxo de circulação de pessoas, o Brasil pode ter mais de 8 milhões de casos até 11 de julho. Se aplicar uma taxa de isolamento de cerca de 50%, o contágio cairia para 2,4 milhões, número ainda assim astronômico.

Apenas no estado de São Paulo, cuja região metropolitana já passa por uma reabertura gradativa de atividades, haveria 1,2 milhão de infecções por Covid-19 em 30 dias. Com isolamento de 50%, o estado passaria a ter em torno de meio milhão de casos.

Da Redação

 

 

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