Comissão da Verdade identifica restos de militante morto na ditadura

Homem morto há 43 anos é o primeiro desaparecido político identificado pela Comissão da Verdade

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) e o Instituto Médico Legal do DF identificaram os restos mortais de Epaminondas Gomes de Oliveira, morto há 43 anos, após ter sido preso e torturado durante o regime militar. Esse foi o primeiro caso identificado pela comissão, que pediu a exumação de restos mortais em setembro de 2013.

O maranhense Epaminondas Gomes de Oliveira, líder comunista e camponês, foi preso em um garimpo no Pará, durante a Operação Mesopotâmia, realizada pelo exército para prender líderes políticos em oposição ao regime. Epaminondas foi levado para Brasília e lá foi morto, sob custódia do exército, no Hospital da Guarnição Militar.

O Exército não entregou o corpo para a família, apenas um documento oficial informando o local de seu sepultamento e que cabia aos seus parentes a responsabilidade do traslado do corpo. No aviso, o exército proibia a família de abrir a sepultura antes de 1976. A CVN interpretou o fato como uma tentativa de impedir a apuração da real causa da morte de Epaminondas.

O exército apontou que a morte foi decorrente de crise hepática aguda, causa comum em laudos de morte de presos políticos, vítimas da tortura do Regime.

Com medo, a família não realizou a exumação, mas aceitou e apoiou a iniciativa da CNV que, a fim de apurar a verdade sobre a morte de Epaminondas, pediu a exumação em 2013.

O laudo, assinado pelos médicos legistas Aluísio Trindade Filho e Malthus Fonseca Galvão, e pela odontolegista Heloísa Maria da Costa aponta que “que o esqueleto humano exumado em 24 de setembro de 2013, da sepultura 135, da quadra 504 e do setor A do Cemitério Campo da Esperança, representa os restos mortais de Epaminondas Gomes de Oliveira”.

Ao todo a CNV colheu 41 depoimentos sobre Epaminondas e a Operação Mesopotâmia. De acordo com testemunhas, os presos pela Operação foram colocados em um caminhão aberto para serem exibidos pelas ruas de Porto Franco, no Maranhão. “Eram acorrentados ou amarrados com cordas, de forma humilhante, alguns deles após terem sofrido espancamentos”, mostra o relatório.

Depois os oficiais do Exército levaram os presos para um acampamento do DNER e lá sofreram torturas. O depoimento de uma testemunha relata: “Levaram ele pra lá, lá judiaram dele, bateram nele de palmatória, bateram na bunda dele, deram choque no ouvido dele e ele gritava.” Os oficiais ainda obrigaram os companheiros de Epaminondas a formarem um corredor polonês e o agredir, com socos e tapas.

Neste sábado (30) a família de Epaminondas e representantes da Comissão vão levar o caixão com os restos mortais de  para Porto Franco, no Maranhão. Depois de 43 anos, a família vai poder enterrar Epaminondas ao lado de sua mulher, Avelina da Rocha.

O relatório preliminar da CNV sobre o caso está disponível em http://www.cnv.gov.br/images/pdf/EGO_Relatorio_Preliminar.pdf

 

Por Aline Baeza, da Agência PT de Notícias

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