Conspiração no Brasil faria Frank Underwood corar, diz senadora

“Os anúncios de montagem desse novo governo, uma verdadeira e escandalosa feira de cargos, é reveladora da conspiração que faria corar Frank Underwood, de House Of Cards”

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

A senadora baiana Lídice da Mata (PSB-BA) fez um discurso inflamado na sessão do Senado que precede a votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, na madrugada desta quinta-feira (12). Para ela, é muito grave o atual momento, em que se está prestes a afastar uma presidenta da República eleita pelo voto de 54 milhões de brasileiros, sem provas.

Segundo a senadora, por mais esforço que tenha havido em todo o processo, ninguém conseguiu até o momento comprovar de forma cristalina e juridicamente incontestável que a presidenta tenha cometido crime de responsabilidade.

“Em vários discursos e manifestações dos favoráveis à admissibilidade do impedimento, o que menos se houve é a comprovação do cometimento do crime de responsabilidade, a essa altura já substituído pelo falacioso argumento do conjunto da obra, aí incluídas a crise econômica, o cruel desemprego, a difícil personalidade, a falta de humor e de diálogo da presidente da República, entre outros motivos, num flagrante desrespeito aos princípios constitucionais”, afirmou.

Lídice lembrou que o crime de responsabilidade de que acusam a presidenta é igual ao praticado por todos os outros presidentes e dezenas de governadores, incluindo o relator do processo no Senado, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG).

“O processo, no entanto, é político e, além de político, contaminado por um grave pecado original: ser urdido, iniciado, conduzido por um gesto de vingança pessoal pelo presidente afastado da Câmara dos Deputados, réu no STF por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, num evidente desvio de finalidade, e aprovado num clima de euforia por um parlamento onde parlamentares e partidos são citados na operação Lava Jato”.

A senadora afirmou também que nunca um governo foi tão sordidamente traído em um “espetáculo de arrivismo, traições, em que ministros ainda ontem no governo de Dilma e parlamentares da base do governo desde sempre apareciam em plenário com discursos indignados por atos dos quais foram autores ou partícipes”.

Para a senadora, o processo padece de outro componente corrosivo da atividade política – a conspiração. “Ao contrário do que fez no passado o vice-presidente Itamar Franco, quando do impeachment do presidente Collor, que se recolheu ao silêncio e à discrição até o julgamento final do Senado Federal, o vice-presidente atual transformou o Palácio do Jaburu num comitê eleitoral pró-impeachment, arregimentando votos de deputados em troca de promessas, benesses, espaços e cargos, a que hoje nós assistimos nos jornais”.

“Os anúncios de montagem desse novo governo – uma verdadeira e escandalosa feira de cargos – antes da manifestação final desta Casa, é uma atitude reveladora da conspiração que faria corar Frank Underwood, de House of Cards”, comparou.

De acordo com Lídice, grande parte desse amplo movimento envolveu o bastião do reacionarismo brasileiro, representado por entidades empresariais, pelo monopólio da mídia, políticos com amplo histórico de envolvimento em escândalos e também de velhos golpes, incluindo o golpe de 64. “Trata-se de uma velha e surrada pauta neoliberal derrotada nas últimas quatro eleições e de eficácia duvidosa no resto do mundo.”

Para a senadora, o golpe é também uma reação às conquistas obtidas nos governos Lula e Dilma, que reduziram as desigualdades sociais, ampliaram o direito dos trabalhadores, tiraram 33 milhões de brasileiros da pobreza, ampliaram o acesso das camadas mais pobres da população à universidade, aumentaram os recursos para investimento no Nordeste e Norte do país e em políticas de inclusão e empoderamento para mulheres, negros e outros segmentos marginalizados pela ordem conservadora.

A senadora frisou que tem críticas ao governo da presidenta Dilma, mas que não irá encampar a tese de um crime claramente não cometido, rasgando sua trajetória política e ideológica de militante da democracia. E lembrou que as ruas não são uníssonas e que há uma parte considerável da população contrária ao impeachment.

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Da Redação da Agência PT de Notícias

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