CPI: mais evidências de que Bolsonaro adotou imunidade de rebanho

Depoimentos de dois ex-ministros da Saúde e do atual titular da pasta evidenciam que Bolsonaro sabotou combate ao vírus para perseguir a imunidade coletiva sem vacinação, matando milhares de pessoas

Agência Senado

O relator da CPI, Renan Calheiros, e os senadores do PT Humberto Costa e Rogério Carvalho

A segunda semana da CPI da Covid, a primeira com a presença de testemunhas, avançou significativamente na coleta de evidências que apontam a responsabilidade de Jair Bolsonaro pela tragédia em que a pandemia se transformou no Brasil, matando mais de 417 mil pessoas até agora.

Os depoimentos dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich comprovaram que Bolsonaro ignorou qualquer plano de contenção do novo coronavírus, não tendo nenhum interesse em frear o avanço da pandemia, algo que seria essencial para reduzir o número de vítimas.

Mandetta chegou a concordar que Bolsonaro estabeleceu como estratégia a busca pela imunidade de rebanho sem vacina, por meio do contágio, algo condenado pela Organização Mundial da Saúde justamente pelo alto número de mortes que provocaria (entenda aqui o que é imunidade de rebanho e como Bolsonaro a utilizou).

Ao ser indagado pelo senador Humberto Costa se Bolsonaro havia adotado essa tática, Mandetta disse: “Acho que sim, porque essa era uma fala muito comum (…). A impressão que eu tenho é que era uma coisa nesse sentido”.

O ex-ministro disse ainda que não teve apoio para realizar campanhas educativas para a população e que o ministro da Economia, Paulo Guedes, era o maior opositor, além de Bolsonaro, a medidas de preservação de vidas, como o isolamento social e o lockdown. Confirmou ainda que o presidente utilizava um “assessoramento paralelo” para tomar suas decisões.

Nelson Teich, por sua vez, revelou que sua saída menos de um mês após assumir a pasta se deveu ao fato de Bolsonaro não dar a ele autonomia para fazer o que precisava para reduzir os contágios no país, ou seja, salvar vidas.

A gota d’água foi a pressão para recomendar o uso da cloroquina. “Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto a eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento de Covid-19”, declarou o médico. “Enquanto a minha convicção pessoal, baseada nos estudos, que naquele momento não existia eficácia para liberar, existia um entendimento diferente para o presidente.”

“Bolsonaro inundou o Ministério da Saúde de negacionismo”, denunciou o senador Humberto Costa. “Jogou os brasileiros para o vírus. Bolsonaro escolheu o caminho trágico que tomamos”.

Queiroga desmascarado

Até mesmo o atual ministro, Marcelo Queiroga, que buscou ao máximo defender Bolsonaro, foi obrigado a reconhecer ações de Bolsonaro contra a saúde pública: teve de defender a vacinação e recriminar aglomerações como as provocadas pelo atual presidente.

Queiroga, no entanto, tentou se esquivar de uma resposta clara sobre o uso da cloroquina em casos de Covid-19. Acabou passando vergonha ao ser confrontado com estudo publicado na renomada revista Nature que associa o uso da droga propagandeada por Bolsonaro a um maior número de mortes nos pacientes infectados com o novo coronavírus.

Deixou a CPI como um defensor de um presidente sabotador, como descreveu o senador Rogério Carvalho (PT-SE): “No ano passado, foi o Congresso Nacional que adotou o auxílio emergencial, que aprovou a lei que obrigava o uso de máscara, que foi vetada pelo presidente da República, foi o Congresso Nacional que tomou todas as iniciativas que ajudaram a conter a pandemia, junto com a pressão da sociedade, junto com a mídia, junto com o judiciário. Mas nós tivemos um grande sabotador. Nós tivemos um grande adversário e um grande promotor da pandemia: Jair Messias Bolsonaro”.

Da Redação

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