Em Vitória, o bolsonarismo tem a expressão ameaçadora da extrema-direita com Pazolini

Ex-prefeito João Coser, candidato do PT, enfrenta o candidato de Jair Bolsonaro, um delegado de polícia que atendeu à chamada de Damares Alves para intimidar menina estuprada que queria interromper a gravidez na rede pública e surfa no oportunismo político com uma agenda conservadora. À ‘Folha’, ele jura que é de centro, mas chegou a invadir hospital público em junho, em plena pandemia do novo coronavírus, para apontar a “farsa do Covid-19”

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Pauta ideológica. A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, e o deputado Lorenzo Pazolini, em encontro na Assembleia Legislativa do Espírito Santo. Ele alertou o governo federal para o caso da menina de 10 anos que foi estuprada e queria interromper a gravidez na rede pública de saúde

Neste segundo turno das eleições municipais, um duelo entre duas forças políticas em uma capital brasileira coloca a disputa municipal com contornos dramáticos de uma briga entre civilização e barbárie. De um lado, o candidato do PT à Prefeitura de Vitória (ES), João Coser, ex-prefeito, advogado e sindicalista, que faz campanha defendendo uma agenda propositiva e com visão humanista, e tem ganhado o apoio de intelectuais, progressistas e das forças políticas com os melhores valores da luta social.

De outro, um reacionário extremista de direita, adepto do bolsonarismo, que nega a ciência e confronta os direitos humanos. Este é o perfil de Lorezo Pazolini (Republicanos), que se orgulha em desfilar com o brasão de polícia no peito e, aos 38 anos, é uma das esperanças do Palácio do Planalto em conquistar uma capital.

Em manifestação nas redes sociais, o cantor e compositor Caetano Veloso denunciou que a cidade não pode correr o risco de retrocesso. “A cidade é Vitória do Espírito Santo. Não pode voltar aos problemas que teve antes, como se fosse uma cidade de milicianos. Não pode. A cidade tem que reafirmar a clareza, a luz e a verdade: João Coser”, declarou, no final de semana. 

Pazolini é o candidato do atraso

Pazolini é o caso de delegado que surfou na anti-política, junto com Jair Bolsonaro, nas eleições gerais de 2018, aproveitando-se das teses do falso moralismo e da demagogia. Deputado estadual, chegou a presidente da Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente da Assembleia Legislativa depois de ter ganhado notoriedade na cidade supostamente combatendo a pedofilia. Em junho, durante a pandemia, sua ação política ganhou repercussão nacional ao invadir um hospital público em Serra (ES), acompanhado de outros quatro deputados estaduais – dois do PSL, um do Avante e um do PSDB –, atendendo a uma manifestação de Bolsonaro, para mostrar a “farsa do Covid”.

Em agosto, Pazolini ganhou novamente a atenção do país ao notificar o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, comandado por Damares Alves, sobre um episódio envolvendo uma menina estuprada que pedia para interromper a gravidez. Aos 10 anos, ela havia sido vítima de estupros seriais cometidos desde os 6 anos de idade por um tio, um ex-detento de 33 anos já condenado por tráfico de drogas. A garota vivia em São Mateus, no norte do estado, e, em 7 de agosto, passou a ser alvo de uma campanha sórdida antiaborto orquestrada por bolsonaristas nas redes sociais.

Em Recife, protesto mobilizou a rede bolsonarista que queria impedir menina de 10 anos, estuprada desde os 6 anos, interrompesse a gravidez em hospital público

Suspeita de exposição de menor

Seu prontuário médico foi vazado pela Prefeitura de São Mateus quanto Pazolini esteve na cidade, acompanhado de assessores de Damares. Os funcionários vieram de Brasília especialmente para acompanhar o caso da garota, que só conseguiria realizar depois a interrupção da gravidez no Recife. Antes disso, contudo, ela teve o nome divulgado na internet e chegou a ser chamada de assassina por bolsonaristas.

O Ministério Público do Espírito Santo apura o vazamento, que ocorreu no período das visitas de Pazolini e assessores. O grupo teve acesso a todos os dados da criança, incluindo o prontuário médico, e vazado. O deputado negou que tivesse vazado. E o governo federal também. O caso segue sob investigação e, formalmente, Pazolini não é o alvo da apuração.

De qualquer maneira, a garota jamais conseguirá voltar a viver na cidade de São Mateus, que deixou junto com a família. O tio foi preso pouco depois em Betim (MG). O episódio traumático segue sem conclusão sobre a responsabilidade da exposição da menor, mas mostra bem como um demagogo com poderes pode influenciar de maneira impactante a vida de uma comunidade.

Daí o risco que a disputa na capital capixaba representa. Pazolini é esse tipo de homem público suspeito, que posa de bom moço e atua como um miliciano, que Vitória corre o risco de eleger no próximo domingo. Embora pose de bom moço e tente dizer que atua no interesse da opinião pública, o delegado dublê de deputado representa um tipo de conservador moralista que cresceu na antipolítica junto com o bolsonarismo.

Lobo em pele de cordeiro

À Folha de S.Paulo, que o entrevistou no final de semana, Pazolini colocou a veste de lebre sob a pele de lobo, como se fosse um homem que se equilibra no bom-senso, quando tem usado todo o tipo de estratégia dos extremistas que cercam Jair Bolsonaro. “Sempre fui de centro-direita, mas com bom senso, com tranquilidade, com análise crítica”, disse ao jornal, candidamente. É um mentiroso.

Rumo à vitória. Jackeline Rocha, candidata a vice-prefeita, e João Coser enfrentam o candidato de Jair Bolsonaro na corrida pelo comando da capital capixaba

O ex-prefeito de Vitória João Coser o desmascarou. “Ele sabe que o declínio do bolsonarismo é visível”, aponta. “Vai esconder o perfil e a história”, afirma, lembrando que Pazolini esteve com a equipe de Damares Alves para não permitir que uma criança abortasse e expôs a criança à fúria das redes sociais, no melhor estilo do Gabinete do Ódio manipulado pelos filhos do presidente da República. “Ele foi na ocupação de um hospital quando Bolsonaro pediu, seguindo orientação do presidente, quando determinou que entrassem em hospitais”, ataca o petista.

Sobre a invasão ao hospital – que rendeu uma representação apresentada pelo governador Renato Casagrande, o deputado extremista desconversa. “Realizei uma inspeção, que é direito constitucional de parlamentar”, resume. “Politizaram algo que não deveria ter sido politizado. O papel do governo era reconhecer, corrigir”, rebateu. Casagrande denunciou a invasão e pediu a abertura de investigação. O caso ainda segue em apuração.

Da Redação, com informações da revista Piauí e Folha de S.Paulo

     

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