Entidades repudiam negócios com vacinas e defendem acesso universal e gratuito

Carta ‘Vacinar no SUS é um direito de todas e todos e um dever do Estado’ foi assinada por 29 instituições da área de saúde, entre elas o Conselho Nacional de Saúde (CNS). “Numa sociedade como a nossa, marcada por grotescas desigualdades sociais, é moralmente inaceitável que a capacidade de pagar seja critério para acesso preferencial à vacinação contra a Covid-19”, aponta a carta. “Bolsonaro atrasa a vacinação, favorecendo a rede privada. Paga com a vida quem não pode pagar pela vacina”, adverte Fernando Haddad

Cerca de 29 entidades e instituições da área de saúde lançaram, nesta terça-feia (5), uma carta em defesa da vacinação universal e gratuita para todos os brasileiros por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). O documento  ‘Vacinar no SUS é um direito de todas e todos e um dever do Estado’, uma iniciativa da Frente pela Vida, que reúne entidades em defesa do SUS, como o Conselho Nacional de Saúde (CNS), é uma reação à transformação das imunizações contra a Covid-19 em negócios para clínicas particulares. No domingo (3), a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas anunciou que clínicas privadas negociam a importação de 5 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19.

Para o ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad, as clínicas particulares ganham com o atraso do início das imunizações. “Bolsonaro atrasa a vacinação, favorecendo a rede privada. Paga com a vida quem não pode pagar pela vacina”, advertiu Haddad.

De acordo com a carta, a compra de vacinas pela rede privada representa um risco para o combate à pandemia. “Numa sociedade como a nossa, marcada por grotescas desigualdades sociais, é moralmente inaceitável que a capacidade de pagar seja critério para acesso preferencial à vacinação contra a Covid-19”, aponta o documento das entidades de saúde.

“A abertura da vacinação para clínicas privadas pode impactar negativamente o controle da pandemia, aumentar as desigualdades sociais na saúde e os riscos inerentes ao prolongamento da circulação do vírus na população”, alerta o CNS. “Caso isso ocorra, uma fila com base em riscos de se infectar, adoecer e morrer será desmontada. É inadmissível, portanto, permitir que pessoas com dinheiro pulem a fila de vacinação por meio da compra de vacinas em clínicas privadas”, denunciam ainda as instituições.

As entidades destacam ainda o papel do SUS e do Programa Nacional de Imunização (PNI), reconhecido internacionalmente em campanhas para a cobertura vacinal do país. “As vacinas objetos dos acordos de compra e transferência de tecnologia já estabelecidos com as empresas Sinovac e AstraZeneca devem formar a espinha dorsal da campanha de vacinação no País sob a coordenação do PNI”, recomenda o documento.

As entidades advertem ainda que “o aumento do número de pessoas com doses incompletas de vacina (sem tomar as duas doses) tem maior probabilidade de ocorrer entre as pessoas vacinadas no setor privado, diminuindo a eficácia e a efetividade da vacinação”.

“Imoralidade”

A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), advertiu para o risco de novas mutações do coronavírus caso as imunizações sejam feitas de forma desordenada, sem a coordenação de um plano nacional integrado pela rede pública. “Ninguém se salva sozinho”, alertou.

O professor de saúde pública da USP Gonzalo Vecina Neto também defendeu que a rede privada atue em conjunto com o SUS, priorizando os mesmos grupos na vacinação. “Mas não é essa a proposta que está aí. A proposta é pegar gente que, do meu ponto de vista, estaria na posição número 30 [no grupo de prioridades para a vacina] e colocar na posição número 1. Isso não é parceria. Isso é inominável”, opinou o médico sanitarista à ‘Folha de S. Paulo’.

Segundo Neto, “é uma imoralidade as pessoas que têm dinheiro terem acesso à vacina antes das pessoas que não têm dinheiro numa sociedade tão desigual como a nossa”.

Governo suspende compra de seringas

Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro trabalha meticulosamente pelo atraso do início da vacinação. Nesta quarta-feira (6), ele anunciou que a compra de seringas está suspensa “até que preços voltem à normalidade”. “Estados e municípios têm estoques de seringas para o início das vacinações, já que a quantidade de vacinas num primeiro momento não é grande”, Bolsonaro limitou-se a dizer pelas redes sociais.

Na semana passada, a Saúde demonstrou sua incapacidade ao falhar na compra de 331 milhões de seringas e agulhas. Só conseguiu 7,9 milhões no pregão eletrônico. “E mais uma vez Bolsonaro tenta justificar sua incompetência e irresponsabilidade jogando a culpa no colo dos outros, inventando informações sem comprovação e desvirtuando o debate para tentar se livrar dos próprios erros”, reagiu o senador Humberto Costa (PT-PE).

Da Redação, com informações de ‘CNS’, ‘Folha’ e ‘Rede Brasil Atual’

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