Haddad: é possível fazer ainda mais do que já fizemos

Após derrotar Jair Bolsonaro e a extrema-direita, brasileiros terão muito trabalho para reconstruir o Brasil. Mas as condições para novas conquistas existem, avalia Fernando Haddad

Ricardo Stuckert

Fernando Haddad

“O Brasil vai mudar muito mais nesta década do que mudou na primeira década deste século. Tenho certeza do que estou falando.” Ao dizer essas palavras, durante o ato de filiação de Douglas Belchior ao PT, na segunda-feira (6), o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad exprimiu um desejo que hoje é compartilhado pela maioria do povo brasileiro: além de se livrar de Jair Bolsonaro, é preciso não só retomar as conquistas sociais alcançadas a partir da chegada de Lula à Presidência, mas fazer muito mais.

Haddad deu como exemplo as conquistas obtidas durante os governos do PT pelo movimento negro brasileiro, do qual Belchior é hoje um dos principais líderes. Marcos importantes, como a inclusão da história africana nos currículos escolares e políticas como a Lei de Cotas e o ProUni, que deram acesso à universidade a vários jovens negros e da periferia, devem ser celebrados e defendidos. Porém, lembrou Haddad, ainda não são suficientes.

“Há tanto a fazer que precisamos reconhecer que o que foi feito é pouco”, disse o ex-ministro. “Hoje eu entro em uma sala de aula e falo ‘o Brasil está aqui’, coisa que eu não via quando entrei na faculdade. Hoje, entro na faculdade, ela tem cheiro, tem gosto, tem cor de Brasil. Mas é a sala de aula, apenas ela. Quantos outros espaços vão ganhar essa coloração?”, indagou (assista ao discurso de Haddad no vídeo abaixo, já programado para começar em sua fala).

A certeza de Haddad de que é possível fazer mais se apoia em dados concretos. Primeiro, o acesso de jovens negros e da periferia à universidade gerou um volume de pessoas comprometidas e com capacidade de promover a mudança como nunca visto no país. “Estamos formando uma massa crítica agora, que está ganhando volume. E volume não é pouca coisa na briga política. Sempre tivemos intelectuais negros no Brasil, desde sempre, mas densidade é muito importante, sobretudo neste momento. E isso está aflorando com uma força extraordinária”, analisou.

Outro ponto importante é a experiência acumulada pelo Partido dos Trabalhadores de construção de políticas públicas em conjunto com os movimentos sociais. Por isso, Haddad saudou a chegada de Belchior ao PT. “Agora, meu amigo, você vai ter que liderar, não é ajudar, é liderar. Você vai estar nos nossos governos, você vai ter poder. E vai liderar, a partir de dentro do aparato estatal, o processo de transformação para passos mais ambiciosos. Porque não podemos aceitar que, voltando ao poder, pela liderança do presidente Lula, a gente não possa imaginar o que falta fazer”, disse o ex-ministro ao historiador.

Convite de Lula aos brasileiros

Ao falar sobre as próximas conquistas do movimento negro, Haddad resumiu uma das mensagens que Lula tem transmitido com frequência em cada discurso que faz e cada entrevista que dá: é possível e é preciso fazer mais, e isso será alcançado com a participação popular, não só na luta para derrotar a extrema-direita, mas na construção de um novo projeto de país.

Em suas falas recentes, Lula tem constantemente lembrado que o sucesso do seu governo se deveu às dezenas de conferências nacionais que realizou para que a sociedade civil apontasse o que precisava ser feito no país nas mais diversas áreas. E, agora, a cada encontro com cada categoria, Lula refaz o mesmo convite, pedindo que educadores, profissionais da saúde, juristas, intelectuais, artistas, religiosos, cientistas, operários, estudantes, mulheres, negros, LGBTs debatam o futuro do país e elaborem suas propostas. É assim, diz Lula, que o povo “retomará a democracia para o Brasil”.

E cabe ao povo salvar o Brasil, lembra Lula, como disse na quarta-feira (8), ao se reunir com as centrais sindicais em São Paulo. “Nós estamos numa encalacrada e somos nós que vamos ter de resolver. Vai depender de nós. Vamos ter de fazer mais do que fizemos. Vamos ter de enfrentar nossos adversários com muito mais força. A gente precisa lutar, resistir. A palavra resistir não pode sair da nossa boca, porque não podemos desistir”, disse.

Da Redação

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