O que vale nos quartéis, governo nega ao povo, confirma Braga Netto

O ministro da Defesa afirmou que as Forças Armadas seguem todos os protocolos da OMS, como distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel, contrastando com o posicionamento do presidente Bolsonaro

Sérgio Lima

General Braga Netto

Apesar de defender com afinco o presidente Bolsonaro, o ministro da Defesa, general Braga Netto, acabou confirmando – de forma transversa – a conduta criminosa de Jair Bolsonaro ao promover aglomerações, se negar a usar máscara e desestimular o uso das vacinas, ao afirmar nesta quarta-feira (12) que as Forças Armadas seguem as recomendações da ciência no combate à Covid-19, contrariamente à “cartilha” negacionista difundida pelo presidente da República. A afirmação ocorreu durante audiência pública na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, que ouviu o ministro da Defesa sobre vagas ociosas nos Hospitais das Forças Armadas em plena pandemia.

Os deputados petistas Leo de Brito (AC) e Padre João (MG), que subscreveram o requerimento que viabilizou a reunião, questionaram o ministro da Defesa sobre o sumiço da página do Centro de Estudos Estratégicos do Exército de um estudo da instituição com recomendações sobre o combate à Covid-19 no Brasil. O estudo adotava, por exemplo, recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a importância do isolamento social e uso de máscara.

“Se o governo federal tivesse se guiado por esse estudo, poderíamos ter evitado milhares de mortes”, disse Leo de Brito ao criticar a conduta do governo no combate à pandemia. O deputado Padre João questionou o ministro da Defesa sobre o motivo do sumiço do estudo. “Por que esse estudo foi tirado da página? Essas recomendações que constam do estudo estão sendo adotados pelas Forças Armadas?”, indagou.

Ao responder aos petistas, Braga Netto disse que o estudo foi retirado apenas para “ajustes técnicos” e que logo vai voltar à página da instituição, porém, sem definir a data. O ministro da Defesa afirmou ainda que as Forças Armadas seguem todos os protocolos como distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel, contrastando com o posicionamento do presidente Bolsonaro que adota posição pública totalmente contrária.

Já o Diretor de Saúde do Exército, general Alexandre Falcão Corrêa, respondeu que as Forças Armadas adotam as recomendações da nota técnica. “Nós jamais deixamos de cumprir essas recomendações técnicas da Organização Mundial de Saúde”, garantiu.

Sobre a culpa atribuída ao governo Bolsonaro pela tragédia sanitária que já matou mais de 425 mil brasileiros e brasileiras, Braga Netto tentou defender o governo. Ele ressaltou que não concorda com a utilização do termo “genocídio” para classificar o que acontece no País, e ainda comemorou o fato de o Brasil ocupar o 4º lugar em doses de vacinas aplicadas no mundo.

O ministro foi alertado por outros parlamentares que o dado preocupante é que, em relação ao número de doses por habitante, o País ocupa apenas 54ª colocação no ranking mundial de vacinação.

Defesa de Pazuello

Em relação às críticas à condução da pandemia pelo ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, Braga Netto defendeu a atuação do colega de farda. Segundo ele, as vacinas que existem hoje no País foram negociadas na gestão Pazuello, classificado por ele como um militar “especialista em logística”.

Durante a gestão de Eduardo Pazuello o governo rejeitou oferta de vacinas, como 70 milhões de doses da Pfizer, e lotes de vacinas foram enviadas trocadas para o Amazonas e ao Amapá, por confusão na leitura das siglas AM e AP. Também na gestão do ex-ministro, que deverá ser ouvido pela CPI da Pandemia do Senado, o Ministério da Saúde deixou vencer a validade de oito milhões de testes para Covid e ignorou alertas de que faltaria oxigênio no sistema de saúde do Amazonas.

Vagas em hospitais das Forças Armadas

Sobre o tema específico da audiência pública, o deputado Leo de Brito defendeu que as vagas ociosas em hospitais militares possam ser usadas pelo SUS, principalmente diante de casos como o da pandemia da Covid-19. O petista disse inclusive que já apresentou um projeto de lei (PL 1.336/2021) com esse objetivo.

“A atual situação é como se fosse de guerra. Em uma guerra todo o País precisa atender suas vítimas, e nessa guerra contra a Covid o Brasil já tem mais de 425 mil mortos”, frisou.

O parlamentar lembrou que notícias da época em que ocorreu o pico de morte em Manaus, inclusive com falta de oxigênio, citavam que os hospitais das Forças Armadas na região tinham 84 leitos vagos, dos 116 existentes. Segundo Leo de Brito, esses leitos poderiam ter sido utilizados pelo SUS.

Ao responder a indagação, Braga Netto apresentou dados que dizem que o número de contaminação e de mortes entre os militares é maior do que entre civis, segundo ele por conta do trabalho presencial dos militares. Segundo ele, as vagas nos hospitais das Forças Armadas eram, portanto, circunstanciais e não ociosas, e não poderiam ser disponibilizadas.

Fabricação de cloroquina

Os deputados do PT também cobraram uma posição do ministro da Defesa sobre a fabricação de cloroquina pelo Laboratório do Exército. O deputado Padre João lembrou que em 2020, mesmo após a OMS já ter se posicionado sobre a ineficácia do medicamento para o tratamento da Covid, houve um aumento na fabricação da cloroquina pelo Exército. “Quanto foi gasto e como foi distribuído?”, perguntou Padre João.

O deputado Leo de Brito lembrou ainda que em 2017, último ano de fabricação do medicamento pelo Laboratório do Exército, foram produzidos 265 mil comprimidos de cloroquina. Já em 2020, o parlamentar apontou que a produção aumentou para 1,3 milhão de comprimidos.

“Ministro [Braga Netto], de 2017 para cá houve uma epidemia de malária no Brasil? Porque cloroquina só é indicada para tratar essa doença”, observou.

As indagações sobre a produção de cloroquina pelo Exército foram ignoradas por Braga Netto, que não respondeu as perguntas.

Porém, ao falar sobre o assunto o Diretor de Saúde do Exército, general Alexandre Falcão Corrêa, disse que as Forças Armadas não recomendam a utilização do medicamento como tratamento contra a Covid. O presidente Bolsonaro e parte de seus seguidores defendem a cloroquina como “tratamento precoce” para evitar complicações com o vírus.

“Nós acreditamos que a vacina possa resolver a crise sanitária causada pela pandemia, porque não temos, ainda, tratamento específico contra a Covid”, observou o médico militar.

Do PT na Câmara

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