Sem rumo, Bolsonaro isola Brasil na comunidade internacional

A cada semana, imagem do país é borrada aos olhos do planeta pela incompetência do governo na condução da pandemia. Nesta terça, o presidente voltou a sinalizar que vai romper com a OMS. Imprensa estrangeira se espanta com mudanças nas estatísticas e arroubos do líder da extrema-direita

Divulgação

Protesto em Brasília. Artistas relembram as mais de 37 mil mortes pelo Covid-19 em ato realizado em Brasília na segunda-feira.

O Brasil está sendo apequenado pelo governo Jair Bolsonaro com seus erros na condução do enfrentamento da pandemia. O fato de Bolsonaro reiterar absurdos, quase diariamente, como a disposição de esconder dados do Covid-19 da sociedade brasileira e da comunidade internacional, é só mais uma das provas de sua estupidez que envergonha tanto a Nação. Na imprensa internacional, a expressão mais usada ante à crise é que o país está fraturado por Bolsonaro.

Nesta terça-feira, o presidente deu novas provas de desatino ao colocar em risco a possibilidade do país vir a receber ajuda da comunidade internacional ao voltar a atacar a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele disse que o órgão “perdeu sua credibilidade”. “O efeito colateral desse isolamento vai ser muito maior que o vírus em si”, disse. “A OMS, em grande parte, perdeu sua credibilidade”.  Ele não descarta deixar o órgão das Nações Unidas.

Na sexta-feira passada, Bolsonaro já havia anunciado que estuda romper com o órgão que trata da saúde no âmbito da ONU. “Ou a OMS trabalha sem viés ideológico, ou vamos estar fora também”, declarou, na porta do Alvorada. “Não precisamos de ninguém de lá de fora para dar palpite na saúde aqui dentro”. O desprezo aos alertas de sanitaristas é uma das principais críticas ao comportamento do presidente na imprensa internacional.

“Reação furiosa”

O fato de o Ministério da Saúde ter alterado os relatórios de dados epidemiológicos sobre o Covid-19 tem despertado reações de veículos da mídia americana e europeia. O jornal The New York Times publicou nesta terça-feira que a reação da comunidade científica e política brasileira ao esforço do governo de esconder a doença é grave. Mas saúda a “reação furiosa no Brasil” após o Ministério da Saúde reter dados do coronavírus. O jornal diz que congressistas e especialistas em saúde atacaram Bolsonaro “em termos extraordinariamente empolgantes”.

Outro jornal influente, o diário Wall Street Journal também noticiou que o Brasil está a chamar a atenção do planeta ao alterar relatórios de dados sobre os casos de coronavírus no país. O jornal diz que Bolsonaro determinou a revisão do número de mortos no país, que vive “um dos piores surtos do mundo”.

O espanhol El Mundo diz que “Bolsonaro decidiu maquiar os dados do coronavírus”, enquanto a pandemia progride sem freio no país. O diário madrilenho El País informa que o site do Ministério da Saúde eliminou o número total de mortes e infecções, o que impede que a evolução da pandemia seja seguida. E diz que uma nova onda de críticas se volta contra Bolsonaro.

O português Diário de Notícias também destaca o fato de o governo brasileiro divulgar dados diferentes da situação da pandemia no país. Em outra reportagem, o jornal relata que, no maior cemitério da América Latina, choram-se mortos até de noite. Há filas de espera das famílias para cumprir, mesmo que seja à noite, as cerimónias fúnebres.

Desigualdade histórica e extrema

O inglês The Times traz reportagem do correspondente Matthew Campbell que diz haver no Brasil dois vírus: o Covid-19 e Bolsonaro, apontando que o presidente não demonstra nenhuma empatia com as vítimas da doença, que já contaminou mais de 700 mil brasileiros e matou 37 mil pessoas no país.

O alemão Sueddeutsche Zeitung noticia que Bolsonaro foi obrigado a recuar na decisão de proibir as estatísticas no país, por conta da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. O diário britânico The Guardian traz longa reportagem sobre a desigualdade racial no Brasil, apontando a existência de “disparidades enormes” nas taxas de mortalidade entre as vítimas do Covid-19. De acordo com o Guardian, a pobreza, o acesso precário a serviços de saúde e a superlotação contribuem para um número desproporcional de mortes.

Em artigo publicado nesta terça-feira, Andres Schipani, correspondente do Financial Times no Brasil, também trata da desigualdade, apontando um paralelo para a desigualdade no país e nos Estados Unidos, mas ressaltando que a situação brasileira é pior por causa de Bolsonaro e do racismo estrutural.

“Os protestos contra o anti-racismo que eclodiram nos EUA após o assassinato de George Floyd atingiram um nervo cru no Brasil”, escreve. “As tensões estão aumentando entre os temores de que o presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro – que fez seu nome parcialmente por menosprezar os negros e elogiar os policiais – esteja se tornando cada vez mais autoritário”.

O jornal The Guardian havia alertado, na semana passada, que o Brasil está condenado a uma tragédia histórica pela resposta ao vírus adotada por Bolsonaro. “Os mais pobres sofrerão mais”, destacou o jornal, reproduzindo declaração do famoso oncologista Drauzio Varella. “A situação não poderia ser pior. Simplesmente não podia”, lamentou.

Da Redação

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