Temporão: é preciso fortalecer o SUS para garantir uma campanha nacional de vacinação

Ex ministro da Saúde do governo Lula afirma que graças à resiliência do Sistema Único de Saúde o quadro brasileiro na pandemia não é mais grave. “Os 200 mil óbitos mostram que fomos derrotados por esse vírus, mas, sem o SUS, seria uma situação de barbárie social, o caos total”, afirma José Gomes Temporão, em entrevista ao ‘Globo’. “O Brasil é dos únicos países que conseguem em um único dia vacinar 10 milhões”. Enquanto isso, os EUA, que não dispõem de uma rede pública de saúde, atrasaram vacinações e correm risco de perder milhões de vacinas por incapacidade logística

Foto: André Dusek

Temporão: "É preciso uma estratégia de mobilização envolvendo empresariado, setor público e privado, igrejas, ONGs, partidos”

O fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) é o único caminho para proteger a população contra a ameaça do coronavírus e garantir uma vacinação gratuita e universal. A defesa do papel do SUS no enfrentamento da pandemia deve ser uma das prioridades no país, afirma o ex-ministro da Saúde do governo Lula, José Gomes Temporão. Em entrevista ao ‘Globo’, publicada no dia 8, Temporão avaliou que graças ao SUS o Brasil não está em uma situação ainda mais crítica na crise sanitária. O sanitarista, que conduziu a rápida resposta brasileira na pandemia do H1N1, em 2009, criticou duramente a atuação do governo federal na pandemia mas disse que ainda há tempo para um engajamento nacional em uma campanha de vacinação.

“É nossa última oportunidade de tentar consertar todos os equívocos cometidos anteriormente, organizar uma campanha de vacinação nacional, liderada pelo PNI [Programa Nacional de Imunizações], visando atingir no prazo mais curto possível uma alta cobertura vacinal”, afirmou o ex-ministro.

Diferentemente dos EUA, que não dispõem de uma rede pública de saúde e atrasaram vacinações, correndo o risco de perder milhões de vacinas por falta de logística, o Brasil é uma das poucas nações com  capacidade de coordenar uma campanha nacional.

“Em 2010 vacinamos 80 milhões de pessoas contra a H1N1 em três meses; em 2009, 40 milhões de adultos jovens contra rubéola e a síndrome da rubéola congênita”, lembrou Temporão. “O Brasil é um dos únicos países do mundo que consegue, em um único dia, vacinar 10 milhões de crianças contra a poliomelite”, apontou.

Mas, para isso, ele defende que seja implementado um plano de ampla cobertura, que envolva vários setores da sociedade. “É preciso uma estratégia de mobilização envolvendo empresariado, setor público e privado, igrejas, ONGs, partidos”, enumera o sanitarista.

“Tudo vai depender da velocidade com que a gente faça a campanha de vacinação. Se conseguirmos atingir pelo menos a metade da população até o meio do ano, e é possível, será um sucesso. Os sinais de preocupação vêm da paralisia do governo federal, que está nos levando a um beco sem saída”, observou Temporão, para quem o governo precisa “deixar de atrapalhar”.

“O ministro da Saúde não entende nada, não é respeitado nessa área, foi posto no ministério como um interventor” criticou o ex-ministro. “Se o governo federal finalmente decidir chamar os sanitaristas, epidemiólogos, os técnicos e cientistas do PNI e entregar a eles a condução e a coordenação do esforço de vacinação, nós teremos sucesso”.

Vacinas sob risco nos EUA

Os EUA sofrem por incapacidade logística de coordenar um plano de imunização nacional. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC), cerca de 6,7 milhões de pessoas receberam pelo menos uma dose da vacina Covid-19, muito aquém da meta estabelecida pelas autoridades federais estabelecidasde imunizar pelo menos 20 milhões de pessoas antes do final de dezembro.

O governo federal disse na sexta-feira que entregou mais de 22,1 milhões de doses a estados, territórios e agências federais. O CDC reconhece, no entanto, as dificuldades de armazenamento e distribuição. “Atualmente, há um fornecimento limitado da vacina nos Estados Unidos, mas o fornecimento aumentará nas próximas semanas e meses”, garante o órgão.

O CDC informou, por exemplo, que apenas 693.246 pessoas em lares de idosos e centros de tratamento receberam as primeiras vacinas por meio de um programa federal, embora mais de 4 milhões de doses tenham sido distribuídas para as instalações. As mortes nessas instalações foram responsáveis ​​por mais de um terço do total de óbitos por coronavírus no país durante a maior parte da pandemia.

O país corre contra o tempo enquanto bate recordes, semana após semana, de infecções e mortes. Milhões de vacinas podem para no lixo por problemas de armazenamento, caso da vacina da Pfizer-BioNTech, que precisa ser alocada em temperatura de cerca de 70ºC negativos.

Da Redação, com informações de ‘O Globo’, ‘NY Times’ e ‘BBC’

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