BC reduz Selic em apenas 0,50 pp e compromete ritmo de retomada do crescimento

Novo patamar, de 11,25% ao ano, ainda sufoca o setor produtivo. “É veneno para o crescimento econômico”, diz Gleisi

Beto Nociti - Site do PT

Remédio amargo: para o presidente da CNI, Ricardo Alban, a atividade econômica sofre demais com o "nível absurdo da taxa de juros real"

Para alegria do rentismo e frustração do setor produtivo, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), presidido pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, voltou a reduzir, nesta quarta-feira (31), a taxa básica de juros (Selic) em apenas 0,50 ponto percentual. O novo patamar, de 11,25% ao ano, ainda é bastante elevado e representa um obstáculo a uma maior aceleração no ritmo de retomada do desenvolvimento do país.

Com a decisão, o Copom mantém uma posição conservadora que ignora o cenário de queda sustentada da inflação, de aumento das reservas internacionais e de melhoria da nota de crédito do país, entre outros avanços que abrem caminho para uma redução mais acelerada da Selic.

“Precisamos de menos conservadorismo do Banco Central, vis a vis, o que já começamos a ver nas demais economias”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban, que contava com uma redução da Selic de, no mínimo, 0,75 ponto percentual. Segundo o executivo, o BC tem adotado uma postura “equivocada” que penaliza ainda mais a atividade econômica no Brasil.

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Ao falar da inflação, o empresário lembrou que o IPCA vem caindo sistematicamente, tendo fechado 2023 em 4,6%, dentro do intervalo previsto na política de meta, e representado queda ante os 5,8% registrados em 2022. Segundo Alban, reduzir mais rapidamente a taxa de juros não irá, de forma alguma, comprometer o cumprimento das metas de inflação.

“A atividade econômica está sofrendo demais com esse nível absurdo da taxa de juros real. O nível de cumulatividade dos juros reais sobre as cadeias produtivas já nos permite dizer que esse é atualmente um dos problemas mais representativos do Custo Brasil”, disse Alban.

A CNI também ressalta que a tendência é de uma continuidade da queda da inflação ao longo de 2024, o que reforça a incompatibilidade entre o conservadorismo do Banco Central e a realidade do país.

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As expectativas levantadas pelo Boletim Focus, do próprio Banco Central, já apontam inflação de 3,8% no final de 2024. Há um mês, a projeção para este ano estava em 3,9%. Além de estarem em forte queda, as expectativas já apontam que a meta de inflação de 2024 (3% ao ano podendo variar entre 1,5% e 4,5% ao ano), será cumprida com folga.

Na contramão de outras economias

O presidente da CNI disse ainda que, enquanto no Brasil o Banco Central força uma queda desnecessária da economia, nos Estados Unidos o controle da inflação tem sido feito de forma compatível com um expressivo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2023, por exemplo, o índice de preços, que serve de base para o Banco Central Norte-Americano (Fed), o PCE, ficou em 2,6%, contra 5,4% em 2022. Ao mesmo tempo, o crescimento do PIB alcançou 2,5% em 2023, mais do que em de 2022, quando a alta foi de 1,9%.

“O nível atual da taxa de juros tem castigado desnecessariamente a atividade econômica [no Brasil]. Externamente é iminente o início da redução de taxas de juros pelos países desenvolvidos. Assim, se não acelerarmos os cortes da Selic, ficaremos ainda mais distantes do patamar de taxa de juros praticado nesses países”, frisou Alban.

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Insensibilidade e descompasso

A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), criticou a decisão do Copom e apontou incompatibilidade em relação ao cenário atual do país.

“Copom mostra mais uma vez sua insensibilidade e descompasso com a realidade econômica. Manter o ritmo a conta-gotas na redução da Selic é seguir submetendo o país a uma das maiores taxas de juro real do planeta. É veneno para o crescimento econômico”, afirmou a parlamentar, na rede social X.

Outro a criticar o comportamento do Banco Central foi o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). “Roberto Campos Neto, você é INIMIGO do Brasil!! Diminuir a Selic em APENAS 0,5% é querer ATRASAR o CRESCIMENTO do país! A inflação está lá embaixo, o PIB cresceu, a Bolsa subiu. O QUE MAIS É NECESSÁRIO? Cada vez fica mais nítido a IRRACIONALIDADE das decisões do Copom sob seu comando!”, afirmou, na rede social X.

Da Redação

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