Bolsonarismo mantém ataque à China e ameaça exportações

As declarações do ministro da Educação têm causado desconforto em setores empresariais, especialmente os produtores ligados ao agronegócio brasileiro. Em 2019, o agronegócio brasileiro exportou U$ 31 bilhões para a China, contra U$ 16,8 bilhões para a União Européia e apenas U$ 7,2 para os EUA.

Nelson Ching

Governo Bolsonaro coloca em risco as exportações brasileiro com ataque à China

A irresponsabilidade travestida de ideologia do atual governo marcou novamente um gol contra os interesses do país. Em depoimento na Polícia Federal, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, voltou a atacar a China. Ele responde processo aberto  por ter feito comentário racista contra o país em seu perfil de Twitter.

“Não é mera ilação desse subscritor. Trata-se de tema discutido abertamente por diversos líderes mundiais”, declarou Weintraub no depoimento feito por escrito, na quinta-feira, 4, citando o presidente norte-americano, Donald Trump em sua defesa. O alinhamento à campanha difamatória de Trump, que ataca a China para desviar o foco do fracasso de seu governo, já custou uma dura crítica da Embaixada Chinesa no Brasil.

Ignorando a histórica relação diplomática com a China e as relações comerciais entre os dois países, Weintraub prosseguiu em suas acusações, sem qualquer prova, ou base em fatos. Para ele, “hoje há fortíssimas evidências que o vírus foi criado em laboratório, que o PCC (Partido Comunista Chinês) escondeu o início da epidemia e informou a Organização Mundial de Saúde (OMS) que não havia contágio entre humanos”.

Ainda, segundo Weintraub, “depois,de tudo, (a China) vendeu produtos necessários para o tratamento para todo o mundo. É razoável que o tema possa ser objeto de discussão livre”, disse ele. Na mesma semana em que ocorria o depoimento, comunidades chinesas em diversas capitais brasileiras realizaram doações de equipamentos médicos aos hospitais e profissionais que atendem as vítimas da Covid-19.

As relações diplomáticas e comerciais entre Brasil e China foram retomadas em 1974, durante o governo do general Ernesto Geisel. Na época, a medida encontrou forte resistência do general Sylvio Frota, referência de militares atualmente lotados no governo Bolsonaro. Ilustração: Site do PT.

Interesses nacionais sob risco

As declarações do ministro da Educação têm causado desconforto em setores empresariais, especialmente os produtores ligados ao agronegócio brasileiro. E com razão. Em 2019, o agronegócio brasileiro exportou U$ 31 bilhões para a China. No mesmo período, exportou U$ 16,8 bilhões para a União Européia. E também em 2019, exportou apenas U$ 7,2 para os Estados Unidos. Ou seja, o alvo dos ataques do atual governo foi o destino das exportações brasileiras do setor de um volume superior a soma do que exportou para a UE e EUA juntos.

A China representou 32% dos valores exportados pelo Brasil em 2019. O que, ao que parece, as exportação do país não tem a menor importância para Weintraub e o governo Bolsonaro, que atacam sistematicamente seu maior parceiro comercial. O que importa são os “interesses ideológicos” e o alinhamento a Donald Trump que cada vez mais se distancia dos parceiros servis. O desrespeito afronta a relação diplomática e comercial construída por governos anteriores, e aprofundada nos governos do PT.

As relações diplomáticas e comerciais entre Brasil e China foram retomadas em 1974, durante o governo do general Ernesto Geisel. Na época, a medida encontrou forte resistência do general Sylvio Frota, referência de militares atualmente lotados no governo Bolsonaro. Apesar da reação contrária, as relações foram reestabelecidas com sucesso. O general Sylvio Frota acabou sendo demitido por Geisel, em outubro de 1977.

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