Brasil Soberano ou Brasil Colônia: uma escolha do nosso tempo
Família Bolsonaro e seus aliados — como Sergio Moro e Tarcísio de Freitas — vêm operando em sintonia com os interesses estratégicos dos Estados Unidos
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O ato bolsonarista na Avenida Paulista, realizado em pleno 7 de setembro, escancarou o tipo de “patriotismo” que esse grupo defende. Em vez de celebrar a independência nacional com símbolos brasileiros, os manifestantes hastearam uma bandeira gigante dos Estados Unidos, cercada por pequenas bandeiras do Brasil — uma imagem que fala por si. Esse gesto revela uma clara submissão ideológica e geopolítica, alinhada aos interesses norte-americanos de manter o Brasil como mero fornecedor de matérias-primas, impedindo seu avanço tecnológico e sua consolidação como potência industrial. Em outras palavras, trata-se de um projeto que busca evitar que o Brasil trilhe o caminho de soberania e desenvolvimento que o Governo Lula vem construindo.
Resta a dúvida sobre há quanto tempo a família Bolsonaro e seus aliados — como Sergio Moro e Tarcísio de Freitas — vêm operando em sintonia com os interesses estratégicos dos Estados Unidos. A ofensiva começou com a Operação Lava Jato, que, sob o pretexto de combate à corrupção, desmantelou as principais empresas de engenharia nacionais, comprometendo a capacidade do Brasil de executar grandes projetos de infraestrutura. Em seguida, o governo Bolsonaro facilitou a tentativa de aquisição da Embraer pela Boeing, colocando em risco uma das poucas empresas brasileiras com protagonismo global em tecnologia de ponta. Paralelamente, enfraqueceu o papel do BNDES como agente de desenvolvimento, descontinuando linhas de financiamento competitivo para a indústria nacional e promovendo a alienação de ativos estratégicos da carteira do BNDESPAR. O conjunto dessas ações aponta para um projeto de desmonte da soberania econômica brasileira, alinhado à lógica de dependência e subordinação geopolítica.
Na área de energia, foi articulado um arranjo controverso para a privatização da Eletrobras — a maior empresa do setor elétrico da América do Sul. Essa operação não apenas comprometeu a autonomia do Brasil sobre seu próprio sistema energético, como também ameaça reduzir significativamente a demanda por insumos da indústria nacional, enfraquecendo cadeias produtivas estratégicas.
No setor de óleo e gás, o desmonte foi ainda mais profundo. A Petrobras Distribuidora — segunda maior empresa brasileira — foi vendida, assim como ativos internacionais sob controle da Petrobras, refinarias em território nacional e unidades operacionais que garantiam presença estratégica no mercado global. A estatal passou a adquirir equipamentos majoritariamente no exterior, provocando uma queda drástica nas encomendas à indústria brasileira e contribuindo para o colapso dos polos navais desenvolvidos nos governos Lula e Dilma.
Além disso, os investimentos da Petrobras foram severamente reduzidos, transformando a empresa em uma das maiores distribuidoras de dividendos do mundo. Essa mudança de perfil — de agente indutor do desenvolvimento para mera fonte de lucro — beneficiou sobretudo investidores estrangeiros, em detrimento da soberania energética e industrial do país.
É importante destacar o papel de Michel Temer no processo de enfraquecimento da Petrobras. Uma das medidas mais impactantes foi a sanção da lei que retirou a obrigatoriedade de participação exclusiva da estatal nos leilões de exploração do pré-sal. Essa mudança abriu caminho para o avanço de petroleiras internacionais sobre uma das maiores riquezas nacionais, comprometendo a soberania energética do país.
Como consequência direta dessa flexibilização, a multinacional britânica BP anunciou sua maior descoberta de petróleo em 25 anos, localizada na Bacia de Santos, no bloco conhecido como Bumerangue. O campo foi arrematado em leilão com condições extremamente favoráveis à empresa estrangeira, deixando ao Brasil apenas uma fração mínima do óleo excedente. Esse episódio ilustra como decisões políticas podem transferir ativos estratégicos para o controle externo, enfraquecendo o papel da Petrobras e limitando os benefícios que deveriam ser revertidos à sociedade brasileira.
Até mesmo no estratégico setor de semicondutores — onde o governo dos Estados Unidos adquiriu recentemente 10% da Intel como parte de sua política de fortalecimento tecnológico — o governo Bolsonaro atuou para frear o desenvolvimento nacional. Durante sua gestão, o CEITEC, única estrutura no Brasil com capacidade para produzir wafers de semicondutores e realizar o processamento “front-end” de chips, foi colocado em processo de liquidação. Essa decisão comprometeu gravemente a soberania tecnológica do país, desmobilizando uma infraestrutura essencial para que o Brasil pudesse se posicionar como player relevante no mercado global de microeletrônica.
Felizmente, o Governo Lula reverteu esse processo por meio de decreto presidencial, excluindo a CEITEC do Programa Nacional de Desestatização e iniciando sua reestruturação operacional. A retomada da empresa representa um passo decisivo para reposicionar o Brasil no mercado global de microeletrônica, com foco na recomposição dos quadros técnicos, recuperação das atividades produtivas e fortalecimento da soberania tecnológica nacional.
Diversas evidências apontam para o alinhamento explícito entre o clã Bolsonaro — e o bolsonarismo como força política — aos interesses estratégicos dos Estados Unidos. Essa aliança tem operado como instrumento de desmonte da economia nacional, da soberania tecnológica e da autonomia geopolítica do Brasil. A subordinação não é apenas evidente: em muitos casos, é assumida publicamente e sem qualquer constrangimento. Eduardo Bolsonaro, por exemplo, tem feito reiteradas declarações de agradecimento à ala ideológica do governo norte-americano.
Diante desse cenário, o Brasil não pode vacilar. A complacência com quem atenta contra a pátria é inadmissível. Traidores da nação não devem ser agraciados com anistia, mas sim responsabilizados com o rigor da lei e o agravamento das penas — uma resposta proporcional à gravidade dos atos cometidos.
O conluio entre a extrema direita brasileira e setores ideológicos do governo americano, que tenta frear o avanço soberano do Brasil, encontrará resistência firme. O Presidente Lula já iniciou interlocuções diretas com o Presidente Trump, com o objetivo de esclarecer as desinformações propagadas, sobretudo por Eduardo Bolsonaro, e reverter o tarifaço e as sanções injustamente impostas ao país.
O Governo Lula, respaldado pelo povo brasileiro, está comprometido com a reconstrução da soberania nacional, o fortalecimento da indústria e a retomada do papel estratégico do Estado no desenvolvimento. O Brasil não se curvará — e seguirá firme na defesa de seus interesses, de sua autonomia e de seu futuro.
Henrique Fontana – Secretário Geral do Partido dos Trabalhadores
Marcelo Lopes – Ex-Presidente do Badesul
