Coronavírus avança entre jovens na América Latina e Caribe, alerta OPAS

Somente no mês de julho, cerca de 200 mil adolescentes foram infectados e mais de 200 morreram na região, aponta diretora da OPAS, Carissa  Etienne. No Brasil, com reabertura de bares e restaurantes e o plano de volta às aulas em alguns estados, especialistas temem agravamento do contágio entre a população jovem. Coordenador do Consórcio Comitê do Nordeste, neurocientista Miguel Nicolelis condena o que considera uma tentativa “obsessiva” de retorno à normalidade: “o mundo como conhecíamos morreu”, adverte. Nesta quarta-feira (12), o país registrou 103,4 mil  mortes e 3,1 milhões de casos de Covid-19

Em pleno avanço da pandemia, a reabertura de bares e restaurantes – lugares de alta concentração de jovens -, bem como os planos de uma volta às aulas em alguns estados, podem provocar um agravamento da pandemia do coronavírus, alertam especialistas. Na terça-feira (11), a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne, reconheceu que a Covid-19 está avançando rapidamente entre adolescentes e jovens da América Latina e Caribe.

Dados da agência ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, somente no mês de julho, cerca de 200 mil adolescentes foram infectados e mais de 200 morreram na região, hoje epicentro da pandemia. Segundo lugar em mortes no mundo, o Brasil registrou, nesta quarta-feira (12), 103.421 mil óbitos e 3.123.109 milhões de casos de Covid-19.

De acordo com Etienne, vários fatores estão envolvidos nas causas das contaminações, principalmente a falta de respeito às medidas de isolamento social. “Jovens não são imunes, não tem poderes especiais contra a Covid-19. Eles também estão sob risco de casos graves de adoecimento, internação e morte”, alertou Etienne, acrescentando que no mês de julho também foram registrados mais de 10 mil internações de jovens na região.

Ela admite que o vírus está afetando os jovens da região de maneira desproporcional. “Reconhecemos que os jovens e os adolescentes são mais afetados na região por causa de uma gama de problemas”, disse Etienne, durante uma coletiva de imprensa, citando como exemplos a violência, a vulnerabilidade social, a falta de acesso a serviços de saúde e o estado de saúde mental.

A diretora chamou atenção para a necessidade crucial de cuidados especiais com a saúde mental dos jovens durante a pandemia. Ela citou o alarmante índice de suicídios, a terceira causa de morte entre jovens na região, atrás apenas de assassinatos e acidentes de trânsito. “Vivemos em circunstâncias extraordinárias e, mais do que nunca, precisamos atravessar juntos estes tempos difíceis”.

Outra preocupação é a alta incidência de casos assintomáticos entre jovens, facilitando as disseminações entre conhecidos e familiares mais velhos. “Sigam as medidas de segurança, lavem as mãos, mantenham distância social, apoiem ações comunitárias” recomendou Etienne, dirigindo-se à população jovem da América Latina e Caribe. 

Responsabilidade

Apesar do alerta, o diretor de operações de emergência da OMS, Mike Ryan, afirmou que não se deve responsabilizar o segmento da população pela crise sanitária. “A pandemia não é culpa dos jovens, não é culpa dos idosos. É um vírus que está se espalhando. Uma vez que consegue entrar e se estabelecer numa área geográfica ou grupo de pessoas, representa uma ameaça a todos”, afirmou Ryan.

Em comemoração ao Dia Internacional da Juventude, nesta quarta, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, celebrou a participação dos jovens nas lutas sociais e ambientais, em especial a das mulheres. “Muitos são mulheres jovens que estiveram na linha de frente da mobilização por justiça e ação climática – ao mesmo tempo em que atuaram na linha de frente da resposta à COVID-19”, comentou.

Nova onda na Europa

Com a chegada do verão europeu, autoridades enfrentam o surgimento de uma nova onda de contaminações, especialmente entre jovens. Segundo o ‘New York Times’, desde o fim do lockdown, há cerca de seis semanas, a Espanha tem lutado para conter novas infecções. A média de casos diários subiu de menos de 150 em junho para mais de 1.500 nos primeiros 12 dias de agosto.

Na França, houve um aumento expressivo de casos. Nas últimas semanas, as autoridades de saúde observaram que a proporção de testes positivos está aumentando em todas as faixas etárias, com um aumento significativamente mais acentuado em jovens adultos, informa o diário ‘Le Monde’.

Segundo relatório publicado no dia 6 de agosto pela agência nacional de saúde francesa, o número de casos aumentou 45% na faixa etária entre 15 e 44 anos, e 20% entre pessoas com idades entre 45 e  64 anos. Entre o grupo de 65 e 74 anos, o aumento foi de 5%. Jovens adultos entre 20 e 30 anos foram particularmente mais afetados. “E o aumento das triagens não basta, por si só, para justificar esse aumento, insiste a agência, argumentando que o aumento do número de casos é maior do que o aumento do número de pessoas rastreadas”, reporta o ‘Le Monde’.

Risco

“A população jovem acreditava que o risco para eles era relativamente baixo, mas não entendia bem que tinham que se proteger para proteger os outros e também o seu futuro”, disse o presidente do Conselho Científico da Covid-19 na França, Jean-François Delfraissy, em declaração reproduzida no diário ‘Le Monde’. “Precisamos encontrar uma forma nova de diálogo com os jovens”, reconheceu o imunologista. 

No fim de julho, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, já havia advertido que a chegada do verão acarretaria uma nova onda de propagações, tendo a população jovem como agente central. “As evidências sugerem que o aumento de casos em alguns países se deve em parte por jovens baixarem a guarda durante o verão do hemisfério norte”, destacou o diretor da OMS.

Volta às aulas

Voltar ou não as atividades escolares é um assunto polêmico, que divide opiniões entre especialistas e formadores de políticas públicas. Os defensores do retorno às aulas argumentam que o fechamento das escolas afeta a saúde mental dos estudantes a médio prazo. Um estudo da Unesco aponta que neste mês, 60% da população estudantil do mundo está sofrendo com o fechamento de escolas — o índice era 90% em abril, de acordo com a ‘BBC’.

No Brasil, Amazonas, Distrito Federal, São Paulo e Paraná já definiram datas para o retorno às aulas. A situação preocupa especialistas porque a reabertura é recomendada apenas em cidades onde a doença esteja controlada, com uma taxa de contaminação baixa e um sistema eficaz de rastreamento de contatos com pessoas infectadas, prática quase inexistente no país.

Agentes de transmissão

Além disso, um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA revela que crianças pequenas podem ser agentes de contaminação. “Essa investigação acrescenta dados às evidências que demonstram que crianças de todas as idades são suscetíveis à infecção por Sars-CoV-2 e, ao contrário de relatos anteriores, podem desempenhar um papel importante na transmissão”, diz o relatório, replicado pela ‘BBC’.

Coordenador do Consórcio Comitê do Nordeste, o neurocientista Miguel Nicolelis condena o que considera uma tentativa “obsessiva” de retorno à normalidade: “o mundo como conhecíamos morreu”, advertiu, em comentário reproduzido pelo canal Meteoro Brasil. “Esta fúria de tentar voltar às aulas é muito perigosa e pode gerar uma catástrofe se não for feita corretamente e no momento certo”, alertou, em julho, em entrevista à rede ‘CNN’.

“Os Estados Unidos atingiram no final de abril um platô de 20 mil casos”, lembrou. “Ficou assim basicamente por três meses. Eles abriram prematuramente todas as atividades no sul do país e estamos vendo o que aconteceu. Agora, atingiu um platô de mais de 65 mil casos”.

Da Redação, com informações de ‘OPAS’, ‘BBC’ e  ‘NY Times’

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