Covid-19: Europa vive 2ª onda. Brasil deve se preparar para quarentena, alerta Nicolelis

Alemanha contabilizou 11,2 mil infecções em 24 horas e quadro é considerado gravíssimo. No Brasil, especialistas apontam recrudescimento da pandemia nos próximos meses se medidas de precaução não forem mantidas e ampliadas. “Temos que nos preparar agora. Isso significa pensar em fechar o espaço aéreo brasileiro, reabastecer de máscaras, testes, EPIs, medicamentos”, afirma o neurocientista Miguel Nicolelis, do Consórcio Comitê do Nordeste. O mundo registra 41,9 milhões de casos e mais de 1,1 milhão de mortes. No Brasil, até agora, 5,3 milhões de pessoas foram infectadas e 155,5 mil morreram em decorrência da doença

Enquanto o Brasil entra em uma perigosa fase de relaxamento, pairando sobre a população uma sensação de que a pandemia do coronavírus foi deixada para trás, a Europa mergulha em uma segunda onda de contaminações. A Alemanha, exemplo na condução das políticas de contenção da doença, relaxou e agora registra recorde de novos casos diários desde o início do surto. O país contabilizou 11,2 mil infecções nas últimas 24 horas, um aumento de 49% em relação aos casos de quarta-feira (22). O quadro é considerado gravíssimo e autoridades calculam que o vírus pode estar avançando de modo incontrolável. Itália, Espanha, Portugal e França também tiveram aumento de casos. Nesta quinta-feira (22), o mundo registrou 41,5 milhões de casos e mais de 1,1 milhão de mortes. No Brasil,  5,3 milhões de pessoas foram infectadas e 155,5 mil morreram em decorrência da doença.

Segundo o neurocientista Miguel Nicolelis, coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, o país vai passar por uma nova onda de contaminações e precisa se preparar para a expansão do vírus. Isso significa estocar medicamentos, EPIs (equipamentos de proteção individual), testes e outros insumos. Além disso, autoridades devem considerar novas medidas para a restrição da circulação de pessoas e o fechamento do comércio e de serviços não essenciais.

“Temos que nos preparar agora. Isso significa pensar em fechar o espaço aéreo brasileiro, reabastecer de máscaras, testes, EPIs, medicamentos”, afirmou Nicolelis, em entrevista concedida a O Globo. “Tudo que faltou no primeiro momento da nossa crise. E tem que preparar a população para a possibilidade de retorno de restrições mais rígidas como está acontecendo na França, Alemanha e Portugal”, justificou.

Apesar de a mortalidade ocorrer em menor intensidade nesta segunda onda europeia, o quadro é preocupante porque as infecções estão ocorrendo em ritmo mais acelerado. “Tem que ter um olhar global. É uma pandemia, o próprio nome já diz”, advertiu Nicolelis. “Não pode fazer planejamento do Nordeste, do Brasil, sem acompanhar a situação mundial. Isso é determinante para a atuação local”, observou.

Para Nicolelis, as festas de Natal e Ano Novo são uma preocupação a mais. “Eu já estou pensando no final do ano. Nas festas que, em teoria, não deveriam ocorrer. Deveriam ser coisas familiares, restritas. Se a maioria de lugares cancelou o carnaval, o Réveillon é a próxima bomba relógio”, alertou.

Verão deve dificultar restrições

Orientar a população brasileira para a necessidade de uma nova quarentena em plena chegada do verão será uma tarefa hercúlea para governadores e prefeitos, especialmente em um país com um presidente negacionista e sem equipe para lidar com a magnitude do desafio. O Ministério da Saúde encontra-se desmantelado e até hoje não apresentou um plano detalhado de integração das ações junto a estados e municípios para o enfrentamento da pandemia.

Assim, autoridades e gestores deverão desdobrar-se nos esforços de contenção das contaminações e na conscientização da população sobre a importância das medidas de controle sanitário. Sobretudo nas cidades litorâneas, onde há uma tendência maior para aglomerações  nas praias durante os finais de semana.

Não há justificativa para relaxamento

O país tem registrado uma queda na média de contaminações e mortes, que agora variam em torno de 525 por dia, em média, um número ainda elevado. De acordo com as projeções da Universidade de Washington, o país pode chegar a 175 mil mortes em janeiro de 2021. A variação poderá fica entre 170 mil e 181 mil óbitos.

Essa projeção, considerada otimista por alguns especialistas, depende do comportamento da população nos próximos meses. O instituto projeta um número menor de mortes diárias, de 122 óbitos, em média, caso pelo menos dois terços da população obedeça os protocolos de segurança, como o uso de máscara e o distanciamento social.

Nicolelis é taxativo quanto à necessidade de medidas extremas de precaução nos próximos meses. “É preciso organizar-se a nível nacional”, insiste ele, pelo Twitter. “Formar, treinar e equipar Brigadas Emergências de Saúde em todo o país, aumentar testagem, estocar medicamentos, equipamentos de proteção, aumentar adesão [ao isolamento]. Complacência, não”, exclamou.

Desigualdades nas regiões

O quadro geral do país, com quedas de casos e mortes, no entanto, ainda segue desigual pelas cinco regiões. Minas registra uma queda na taxa de incidência (32%) em duas semanas. Segundo o jornal Estado de Minas, enquanto três regiões avançam para onda verde de um programa de monitoramento da Secretaria estadual, outras duas regrediram para a onda amarela.

Em Santa Catarina, houve registro de mais de mil novos casos em 24 horas. O estado tem quase 3 mil óbitos. Em Florianópolis, profissionais de saúde têm relatado uma explosão de novos casos. A cidade tornou-se o epicentro da pandemia no estado. O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), está internado desde a semana passada.

Organizações de saúde locais alertam que “é grave a situação do Covid-19 em Florianópolis, que cresce em meio a um quadro muito preocupante de desinformação e negligência da Prefeitura”. Profissionais relatam que a realidade dentro das unidades de atendimento dos hospitais “não condiz com o cenário de segurança e controle anunciados nas propagandas oficiais” e que os serviços e os trabalhadores de saúde estão sobrecarregados e sujeitos ao risco de contaminação.

Toque de recolher e isolamento

Na Europa, o cenário de quarentena desenhado por Nicolelis no Brasil voltou a ser realidade. Na França, o toque de recolher, entre 0h e 6h, foi estendido para 38 regiões a partir desta sexta-feira (23). As medidas atingem a rotina de 46 milhões de franceses.

Em Portugal, três cidades do nortei, a região mais atingida pela pandemia, entrarão em quarentena. Apenas os serviços essenciais poderão funcionar. O país registra uma média de 3 mil casos diários e o número de pessoas hospitalizadas bateu o recorde de abril. O país já ultrapassou a marca de 109.541 doentes. Entre 30 outubro e 3 novembro, o governo português decidiu proibir a circulação de pessoas entre as regiões.

As perspectivas a curto prazo não são animadoras para a Europa. O continente vê-se diante de um duro inverno pela frente, justamente após a um certo fôlego que propiciou a reabertura das atividades econômicas. Frente ao quadro assustador, no último fim de semana, a chanceler alemã, Angela Merkel, pediu que a população permaneça em casa para evitar uma propagação ainda maior do vírus.

Apelo da chanceler

“Por favor, fiquem o máximo de tempo possível em casa e no lugar onde vivem. Eu sei que além de soar severo, representa um duro sacrifício”, conclamou Merkel. Ela sugeriu ainda que a população reduza o contato com pessoas dentro e fora de casa e que sejam suspensas “quaisquer viagens que não sejam estritamente necessárias”, e “qualquer festa que não seja estritamente necessária”.

Nesta semana, o diretor de emergências da OMS, Mike Ryan advertiu que o aumento de casos de Covid-19 na Europa também deve-se, em boa parte, ao relaxamento das medidas de quarentena. Um certo nível de controle levou a uma percepção de que era possível retomar o que especialistas chamam de “novo normal”.

“Cerca da metade dos membros da região europeia da OMS (que conta com 48) registraram uma alta de 50% de infecções na semana passada”, disse Ryan. 

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também advertiu para os perigos do relaxamento das medidas. “Sei que as pessoas estão cansadas, mas este vírus mostrou que se baixarmos a guarda, pode ressurgir com toda a velocidade e ameaçar os hospitais e os sistemas de saúde”, declarou, na mesma coletiva.

Da Redação, com informações de O Globo e agências

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