Depois de ameaçar democracia, Bolsonaro joga com a morte

Vinte e quatro horas depois de ir ao QG do Exécito, em Brasília, para apoiar intervenção militar, presidente sinaliza que pode suspender isolamento social esta semana. Ex-presidentes Lula e Dilma condenam ofensiva autoritária e STF reage

Sérgio Lima

Bolsonaro, tossindo, em ato em defesa de intervenção militar

O presidente Jair Bolsonaro voltou a brincar com a vida dos brasileiros ao anunciar nesta segunda-feira, 20, que pode vir a suspender as medidas de isolamento social para o enfrentamento da pandemia. “Espero que essa seja a última semana dessa quarentena”, disse na porta do Palácio da Alvorada. Ao ignorar as medidas de afastamento social, recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, o presidente brinca com a vida dos brasileiros e ignora o risco de morte de milhares de brasileiros. O país tem mais de 40 mil casos confirmados e contabiliza 2.845 mortos.

As declarações estapafúrdias ocorrem 24 horas depois de Bolsonaro participar de um ato em defesa de intervenção militar na vida política nacional, em frente ao Forte Apache, o Quartel General do Exército em Brasília. No domingo, o presidente anunciou que não pretende negociar nada com o Congresso e partiu para cima do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele acusa o parlamentar de tramar o impeachment.

A hipótese de abertura de um processo por crime de responsabilidade contra o presidente da República passou a ser tema de discussão no Congresso e é estimulada pelo PT. Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff apontaram a saída constitucional – legítima, diante dos crimes cometidos por Bolsonaro – e reagiram à escalada autoritária –, assim como o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Tóffoli. A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), também engrossa o coro dos críticos, que já inclui o presidente da Câmara, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de outros partidos políticos.

“A mesma Constituição que permite que um presidente seja eleito democraticamente têm mecanismos para impedir que ele conduza o país ao esfacelamento da democracia e a um genocídio da população”, disse Lula. Dilma foi na mesma linha. “Nenhuma instituição do Brasil e nenhum democrata podem se omitir diante do autoritarismo explícito de Bolsonaro”, criticou a ex-presidenta. “Devemos nos unir contra esta ameaça de implantar o caos. E a Constituição mostra o caminho”.

O presidente do STF disse, nesta segunda-feira, que considera “nefasto” o autoritarismo e os ataques à democracia. A frase foi dita durante uma videoconferência com representantes da OAB, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A escalada autoritária de Bolsonaro e a sugestão de que vai revogar medidas de contenção da doença – com o relaxamento das quarentenas – acontecem em plena ebulição de novos casos do coronavírus. Estimativas apontam que o número de contaminados e mortes pelo Covid-19 no país está subestimado. Cientistas e pesquisadores de universidades avaliam que o país já pode ter mais de 300 mil pessoas contaminadas. O Brasil é o país que menos testa no mundo entre os 15 mais infectados.

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