Maio das Trabalhadoras | O que querem as comerciárias

Operadoras de caixa, atendentes de loja e de serviços, quais as dificuldades e os sonhos das trabalhadoras desse setor. Conversamos com Lucilene Binsfeld, diretora do Sindicato dos Empregados no Comércio do Extremo Oeste de SC

Elas atendem, cobram, embalam e ainda precisam perguntar ao cliente se faltou algum produto. Tem a pressão com o tamanho da fila do caixa, a gerência não abre mais caixas e os clientes pressionam as trabalhadoras em vez de cobrar a gerência pela abertura de outros caixas. Essa é uma das diversas pressões diárias que vivem as trabalhadoras empregadas em comércio. Machismo estrutural, racismo, imposições de “padrão de beleza”, baixos salários e precarização. 

Este é o Especial “Pelo que lutam as trabalhadoras”, iniciativa do projeto Elas Por Elas para a semana que celebra o 1 de maio, dia do trabalho. Diante dos desafios contemporâneos, conversamos com mulheres dirigentes de diversas categorias para difundir e compartilhar as demandas específicas das mulheres da classe trabalhadora.

Lucilene Binsfeld, mais conhecida como Tudi, é  comerciária, mãe e tem uma extensa história de luta no movimento sindical e partidário. Filiou-se ao Sindicato dos Empregados no Comércio do Extremo Oeste de SC em 1990 e compõe a direção dessa entidade desde 1997 até hoje. Por nove anos, foi presidenta da CONTRACS –  Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT, depois atuou como Secretária de Relações Internacionais  e atualmente é dirigente da CONTRACS, da CUT Brasil e Secretária Geral do Instituto Observatório Social. No PT, é filiada desde 2001, já foi candidata a vereadora, chegando à suplência em 2020, e é Secretária de Organização do PT de São Miguel do Oeste SC.

No comércio, as empresas exigem certo “padrão de beleza” para atender ao público. E, muitas vezes, colocam isso como requisito na vaga de trabalho: o que é absurdo. O racismo é presente e escancarado. É mínima a presença de mulheres negras no atendimento, apesar de nossa população ser a maioria negra. 

 

1)     Quais são as principais reivindicações das trabalhadoras comerciárias atualmente?

 Temos em nossa categoria várias demandas , entre elas destaco duas mais gerais como a igualdade de oportunidades, ou seja a condição de chegar a cargos de chefia e direção das empresas e equidade salarial, pois ainda em nosso país as mulheres recebem  25 a 30% menos que os homens no mesmo cargo. No âmbito das comerciárias especificamente, lutamos pela  

1) a diminuição da jornada de trabalho semanal (40 hs) e a questão do trabalho aos domingos e feriados, pois as comerciárias tem jornadas extensas no local de trabalho e ainda tem a dupla e tripla jornada

2) a dificuldade de acesso à creche e escola integral para os filhos estarem assistidos enquanto ela trabalha

3) trabalhar em local seguro sem assédio moral e sexual

4) licença maternidade de 180 dias

5) o direito de acompanhar seus filhos em consultas, exames e internamentos sem que haja desconto dos dias no seu pagamento

6) o direito de cuidar da sua saúde tendo acesso a exames preventivos

7) Nos supermercados: a diminuição do acúmulo de funções,  as operadoras de checkout que atendem, cobram, embalam e ainda precisam perguntar ao cliente se faltou algum produto, além de sofrer a pressão com o tamanho da fila no atendimento, pois muitas vezes tem filas enormes e checkouts fechados que a gerência não coloca em funcionamento e os clientes com impaciência pressionam as operadoras ao invés de cobrar a abertura de outros checkouts

8)  fim das lesões por esforços repetitivos.

 

2)     Quais as principais dificuldades de ser mulher dentro da categoria? (situações que acontecem no local de trabalho, específicas do setor)

 No comércio, nos deparamos com situações em que empresas exigem certo “padrão de beleza” para atender ao público. E, muitas vezes, colocam esse requisito na chamada da vaga de trabalho: o que é absurdo. Também percebemos o racismo, pois, se observarmos a presença de mulheres negras no front do atendimento, constataremos que ela é mínima, apesar de nossa população ser a maioria negra. 

Outro fator é o assédio moral e sexual que sofrem as trabalhadoras tanto de seus superiores, como de colegas de trabalho e de clientes, o que é inaceitável. 

Também é latente a falta de condições e oportunidade de se qualificar devido à dupla e tripla jornada

Do ponto de vista do movimento sindical, a falta de oportunidade das mulheres estarem nas mesas de negociação compostas por maioria de homens. Por outro lado, as dirigentes mulheres que estão nas negociações sofrem, já que a maioria dos negociadores são homens e se julgam superiores e ignoram as pautas relativas às mulheres

No que tange ao processo de diálogo, infelizmente percebemos uma dificuldade de aceitação do debate político na categoria. Isso se agravou devido ao ataque ao movimento sindical, nos últimos governos, que teve que reduzir seus quadros, dificultando o diálogo mais permanente e a construção de uma narrativa sob o olhar da classe trabalhadora na questão política e  na política partidária.

 

 3) Quais são as perspectivas de organização e conquistas para 2022 e no próximo período?

Nossas perspectivas são trabalhar e garantir conquistas como a ampliação da licença maternidade, redução da jornada de trabalho sem redução de salário, ambientes de trabalho seguros e saudáveis onde as doenças sejam evitadas e o assédio moral e sexual sejam eliminados, mas principalmente que a classe trabalhadora perceba a importância de sua organização, que entenda seu papel na construção de um país melhor,  e se mobilize para reconquistar os direitos retirados com as reformas e lute por condições melhores de vida para todas e todos. Eleger Lula Presidente e uma bancada expressiva de deputadas e deputados da classe trabalhadora que tenham compromisso com sua classe.

 

Sobre o Especial Maio das Trabalhadoras

Esta matéria faz parte do Especial 1 de maio, “Pelo que lutam as mulheres trabalhadoras”Nele, conversamos com metalúrgicas, domésticas, têxteis, pescadoras, quebradeiras de coco, enfermeiras, servidoras, professoras e diversas outras categorias para repercutir as pautas das mulheres nas mais diversas trincheiras do mundo do trabalho atualmente. Acesse aqui a tag e confira todas as matérias.

Ao longo da semana, publicamos duas entrevistas por dia com o objetivo de dar visibilidade não só para as demandas específicas das trabalhadoras de cada setor, mas também contar uma breve história de militância de cada uma das companheiras que atuam em defesa dos direitos de sua categoria.

E, claro, mais do que nunca, dar espaço para que elas contem o que esperam de 2022 e das perspectivas de reconstrução de um país em que ainda é possível sonhar e concretizar um mundo mais justo e solidário.

Ana Clara Ferrari e Dandara Maria Barbosa, Agência Todas

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