OMS pede “solidariedade global” e “união nacional” no combate à pandemia

Diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus prevê fim da pandemia em até dois anos. “Acima de tudo, se conseguirmos unir esforços, usar ao máximo os recursos disponíveis e torcer para que possamos ter ferramentas complementares como as vacinas, acho que podemos acabar [a pandemia] em um período de tempo mais curto do que a gripe de 1918”, disse

A perspectiva de avanço nos testes para a produção de uma vacina eficaz contra o coronavírus até 2021 acendeu esperanças de uma cura para a doença e a tão desejada “volta à normalidade” até 2021. A Organização Mundial de Saúde (OMS) mantém, no entanto o tom de cautela quanto ao resultado dos testes e o fim do surto. Nesta sexta-feira (21), o diretor-geral da agência, Tedros Adhanom Ghebreyesus, falou em união dos governos e “solidariedade global” neste momento de crise. O diretor-geral também disse que espera ver a pandemia superada em até dois anos, em um cenário otimista.

Ghebreyesus enfatizou que é fundamental que governos tenham responsabilidade no reforço de medidas de controle da disseminação do vírus, ainda em elevada onda de propagação: o mundo ultrapassou nesta sexta a marca de 23 milhões de contaminações e mais de 800 mil mortes. O Brasil responde por mais de 3,5 milhões de casos e 112,6 mil óbitos por Covid-19, permanecendo refém do tenebroso platô de mil mortes diárias em média e mais de 40 mil novas infecções.

O diretor da OMS fez uma comparação com a duração da chamada Gripe Espanhola de 1918, que durou dois anos e matou entre 30 milhões e 50 milhões de pessoas. “Esperamos acabar com essa pandemia em menos de dois anos”, declarou ele, em entrevista coletiva realizada em Genebra, na Suíça.

“Acima de tudo, se conseguirmos unir esforços, usar ao máximo os recursos disponíveis e torcer para que possamos ter ferramentas complementares como as vacinas, acho que podemos acabar com um período de tempo mais curto do que a gripe de 1918”, afirmou o diretor-geral da OMS, alertando que a vacina por si só não é garantia de que a pandemia irá desaparecer sozinha.

Tedros ressaltou que a tecnologia e alta conectividade entre os povos, combinadas, constituem sinais positivos e negativos no cenário da pandemia. “E em nossa situação, agora com mais tecnologia e, claro, com mais conectividade, o vírus tem uma chance melhor de se espalhar mais rapidamente”, observou o diretor-geral.

“Mas, ao mesmo tempo”, frisou Tedros, “também temos a tecnologia e o conhecimento para frear o vírus. Portanto, temos a desvantagem da globalização, proximidade, conectividade, mas a vantagem de uma tecnologia melhor”.

Ele usou os termos “união nacional” e “solidariedade global” para referir-se à abordagem que a OMS considera necessária para o enfrentamento e mitigação dos efeitos da doença. “Isso é realmente fundamental para utilizar ao máximo os instrumentos disponíveis”.

Populismo negacionista

O apelo do diretor da OMS esbarra, contudo, em uma das maiores barreiras enfrentadas pela população mundial e governos locais, desde o início da pandemia: o negacionismo. Parte essencial do discurso de líderes populistas de extrema direita, como Jair Bolsonaro, Donald Trump e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, entre outros, a estratégia de ignorar análises científicas e recomendações de autoridades de saúde foi fundamental para que países como EUA e Brasil passassem a liderar o ranking de contágio e mortes pela doença.

Para o colunista do diário britânico ‘Financial Times’, chama a atenção que populistas como Trump e Bolsonaro não estejam interessados em governar de fato. “Eles estão interessados em politica como performance, não ligam para governar, não entendem para que serve o governo e são indiferentes a isso”, comentou Wolf, no portal do jornal, semana passada.

Desmonte do Estado

Para o articulista, há uma clara tentativa de desmonte do Estado e suas atribuições. “Dessa maneira,  é óbvio que não é possível controlar a pandemia”. Segundo Wolf, um desmanche do Estado puro e simples, no entanto, pode ter um preço alto. “Há outros políticos autocráticos, também populistas, que entendem que, em última instância, sua reivindicação de poder depende de ser razoavelmente eficaz para lidar com uma doença gravíssima desse tipo”, argumenta o articulista.

“Portanto, a questão interessante é o que isso sugere sobre o futuro”, observa Wolf. “E o que eu diria é que se tornou mais provável que o tipo de populistas que simplesmente não se importam com o governo sejam eliminados”. É o risco pelo qual passa agora o presidente americano, às vésperas de enfrentar o peso nas costas de quase 180 mil cadáveres na disputa eleitoral deste ano.

Em defesa da democracia

No mês passado, Martin Wolf abordou o assunto em um artigo em defesa da democracia e de uma reforma do Estado à luz dos efeitos da pandemia. “As instituições da esfera política deveriam ser suscetíveis à influência de todos os cidadãos, não apenas dos mais ricos”, escreveu Wolf. “A política econômica deveria ter por objetivo criar e sustentar uma classe média vigorosa, enquanto assegura uma rede de segurança social para todos”, avaliou.

Wolf também reforçou a ideia de uma unidade baseada na identidade nacional. “Em uma democracia, as pessoas não são apenas consumidores, trabalhadores, proprietários de negócios, poupadores ou investidores. Somos cidadãos. Este é o laço que une as pessoas em um esforço compartilhado”, ressaltou.

“Agir em conjunto, dentro de uma democracia, significa agir e pensar como cidadãos. Se não o fizermos, a democracia fracassará. É dever de nossa geração garantir que não fracasse”, concluiu o articulista.

Da Redação, com ‘Reuters’ e ‘Financial Times’

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