Volta da fome no Brasil é inadmissível, diz FAO, das Nações Unidas

Representante da agência Rafael Zavala vê com preocupação o retrocesso no país, que funciona como “motor de alimentação” do mundo. “É inaceitável ver os atuais níveis de insegurança alimentar” afirma Zavala

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O Brasil havia saído do Mapa da Fome da ONU em 2014, no governo Dilma

Parceira do Brasil em políticas públicas de combate à insegurança alimentar dos governos petistas, a Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) vê com preocupação o retrocesso ocorrido nos últimos anos. Representante do órgão em terras nacionais desde 2018, o mexicano Rafael Zavala considera “inadmissível” um país que funciona como “cesta de pão” ou “motor de alimentação” para o mundo abrigar mais da metade de sua população em situação de insegurança alimentar.

“É inaceitável ver os atuais níveis de insegurança alimentar no país, sobretudo em centros urbanos”, critica Zavala, para quem “o desafio é da fome, mas também da melhor nutrição”. “Com pandemia e inflação, piorou muito a quantidade e a qualidade das dietas. Há muito consumo de ultraprocessados, que favorece a obesidade infantil”, explica o zootecnista em entrevista ao jornal Valor Econômico.

O representante da FAO prevê que o preço dos alimentos continuará alto em todo o mundo. Também destaca que, diferentemente da América Latina, “o problema no Brasil é mais a dependência dos fertilizantes que o preço dos alimentos”. “A soma da alta dependência dos fertilizantes com os altos preços do petróleo significa um cenário de uma estabilidade de altos preços”, afirmou, juntando as peças do golpe continuado que desde 2015 acumula ataques ao bem-estar social no Brasil.

Zavala chamou a atenção ainda para o avanço do garimpo e de atividades de mineração ilegais no Brasil, desmatando e contaminando águas enquanto o desgoverno Bolsonaro desmantela o sistema de proteção ambiental do país. “Temos desmatamento para pecuária e agricultura, mas o mais expressivo são as atividades ilegais e extrativas”, apontou, pedindo mais rigor contra o desmatamento. “O Brasil não precisa ampliar sua superfície plantada, mas melhorar sua produção com a mesma superfície”, argumentou.

“Fica muito claro que precisamos gerar políticas públicas para assegurar a defesa e a conservação da Amazônia. O Brasil é a cesta do pão do mundo, mas ela fica no coração da biodiversidade mundial. E a Amazônia é compartilhada entre nove estados no Brasil, mas também por nove países”, declarou Zavala. Ele defende a criação de um cinturão de fronteira dos países amazônicos com a integração de lavoura, pecuária e floresta.

Combate à miséria e à fome foi prioridade dos governos do PT

“O próximo governo, não importa a filiação política, precisa dar mais atenção para as políticas sociais de segurança alimentar”, pregou ainda Zavala. “Por outro lado, fica muito claro que o Brasil é dos países com melhores lições, com políticas bem-sucedidas de combate à fome, especialmente nos últimos 20 anos. Mas o número de pobres aumentou e isso significa maior risco de fome e de má alimentação.”

Diplomático, Zavala descreveu o retrocesso, mas não mencionou que, após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, há exatos seis anos (12 de maio de 2016), a extrema pobreza já regrediu aos patamares de 2006.

A pobreza voltou com o desemprego, o desmonte da CLT e da política de valorização do salário mínimo, com o fim de recursos para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e para cisternas, com o desmantelamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário, com cortes em programas estratégicos como o PRONAF e ações de apoio à agricultura familiar, e com a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), no primeiro dia do mandato de Jair Bolsonaro.

No último ano de Bolsonaro no Palácio do Planalto, mais da metade da população (116 milhões) vive com algum grau de insegurança alimentar e ao menos 19 milhões passam fome, aponta a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Retrocesso impensável em 2014, quando o país finalmente saíra do Mapa da Fome das Nações Unidas.

Historicamente marcado pela miséria e pela fome, apesar da pujança agrícola, o Brasil só começou a virar o jogo em 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva lançou a estratégia Fome Zero para evidenciar a prioridade do combate à fome e mobilizar a sociedade.

Graças à ampliação do acesso a trabalho e renda, aliada ao fortalecimento da Agricultura Familiar com programas como o PRONAF, Garantia Safra, PAA e o PNAE (Alimentação Escolar), a fome no Brasil caiu 82% entre 2003 e 2014, quando a FAO anunciou a conquista brasileira.

Quase 20 anos após iniciar a grande revolução alimentar brasileira, o presidente mais popular da história conclama o povo a se unir para novamente desconstruir o Brasil da fome, do desemprego e da injustiça e reconstruir o país sonhado pela maioria.

“Não é possível as pessoas continuarem imaginando que os pobres só gostam de coisa de segunda categoria. Não, a gente gosta de coisa boa, a gente quer comer e beber bem, se vestir bem, poder frequentar restaurante. A gente não gosta de carne de segunda, a gente gosta é de carne de primeira. Esse país é possível ser construído e não é por ninguém que venha de Marte. Somos nós, vocês e eu”, garantiu Lula nesta segunda-feira (9), em Belo Horizonte, no lançamento do movimento Todos Juntos pelo Brasil.

Da Redação

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