Lula: “Quem é responsável pela inflação é o governo Bolsonaro”
“Se o governo não controla os preços, não tem moral para passar confiança a quem vende produtos ao povo”, afirmou Lula à Jovem Pan de Sorocaba. Ex-presidente voltou a defender o papel do social do Estado
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Quando o Estado brasileiro investe na população, o povo mais vulnerável deixa de ser um problema e passa a ser parte da solução, contribuindo diretamente para o desenvolvimento do país e da atividade econômica. Crescimento econômico só se consegue quando o Estado assume seu papel de indutor social, defende o ex-presidente Lula. Em entrevista à Jovem Pan de Sorocaba, nesta quinta-feira (28), o petista explicou que uma expansão do crédito deve ser alinhada a uma política que gere emprego e distribua renda aos mais pobres. “O Estado não está cumprindo com as suas funções sociais”, resumiu Lula. Ele criticou duramente o governo Bolsonaro por trazer de volta a inflação e destruir o poder de compra e a renda da população.
“Quem é responsável pela inflação é o governo, a inflação está descontrolada nos preços controlados: no preço da gasolina, do gás, do óleo diesel, da energia, do aluguel”, acusou Lula.“Se o governo não controla os preços, ele não tem moral para passar confiança a quem vende produtos para o povo consumir. Então a carne foge do controle, a cebola, a batata, o pimentão, e volta a prejudicar o povo pobre mais uma vez”, ressaltou o líder petista.
“Não tem nenhuma lógica a gasolina a R$ 7, o diesel no preço que está, o gás, a energia. O governo tem de tomar decisão, não é falar, fazer fake news. Governo age, faz. Lamentavelmente, não temos governo”, sentenciou. “Hoje temos mais de 70% da sociedade endividada, com dificuldade de pagar seu cartão de crédito e a economia não anda assim”.
Expansão do crédito
“Quando chegamos ao governo, em 2003, todo o dinheiro disponibilizado para o crédito chegava a R$ 380 bilhões. Quando saímos, já estávamos com R$ 2 trilhões e 700 bilhões”, disse Lula. “Expandimos muito o crédito, mas expandimos também a oferta de emprego, o aumento de salário. O salário mínimo aumentou 74%, financiamos a agricultura familiar, criamos o Bolsa Família, fizemos um programa habitacional que foi o mais inovador da história desse país que foi o Minha Casa, Minha Vida. Legalizamos seis milhões de pequenas empresas”, apontou.
Lula argumentou que a atividade econômica deve funcionar de modo articulado, em uma cadeia alimentada pela própria população. ”Quando a economia começa a andar, você tem que fazer com que o crédito chegue na mão das pessoas, para poderem consumir. Consumindo, gera emprego, mais salário, que gera mais consumo. E a roda gigante da economia começa a funcionar de forma saudável”, defendeu.
“Do jeito que está hoje, há muito desemprego, gente passando fome, as pessoas vão se endividando no cartão de crédito e depois não podem pagar”, lamentou. “É preciso que o dinheiro chegue na mão das pessoas. Quando a gente faz o dinheiro chegar no bolso do povo, o pobre deixa de ser problema e passa a ser solução. Geramos 20 milhões de empregos com carteira assinada quando a Europa e os EUA desempregaram 100 milhões”.
Papel social do Estado
“Para que a iniciativa privada se apodere do Estado, se vendeu uma falácia de que o Estado no Brasil é pesado. Investir em Educação, por exemplo, não pode ser visto como gasto, é investimento. Investir na formação de um jovem é investimento produtivo”, comentou Lula. “Quando colocamos, só no estado de São Paulo, 680 mil jovens para tomar crédito do FIES para fazer curso superior, isso não é gasto. Na hora que esse jovem se formar, ele vai retribuir à sociedade brasileira com a sua capacidade, o conhecimento que adquiriu”.
“Se o Estado cumprir com suas funções, vai fazer investimento na melhoria da qualidade de vida das pessoas”, assegurou. “Às vezes os economistas filosofam muito. Na hora que colocarmos o povo pobre no orçamento da prefeitura, do estado e da União, e o rico no imposto de renda, a gente começa a resolver parte desses problemas”.
“Muito dinheiro na mão de poucos é concentração de riqueza. Pouco dinheiro na mão de muitos é distribuição de riqueza. Na hora que a pessoa humilde tem um dinheirinho, não vai comprar dólar, vai comprar comida, um chinelinho, uma caneta, um lápis para o filho”, definiu. “O dinheiro volta a circular no mercado muito rapidamente”.
Compromisso histórico com o povo
Lula defendeu ainda os legados do PT, reforçou o compromisso histórico do partido com a classe trabalhadora e assegurou que a legenda é a única com condições de trazer dignidade ao povo brasileiro. “O PT está preparado para voltar a governar esse país”, destacou.
“O PT precisa voltar para reconstruir o país, para que as pessoas voltem a sentir prazer de ser brasileiro, a ser feliz. Todos nós temos que acordar de manhã com otimismo de que o amanhã vai ser melhor. Não podemos ficar nesse clima de ódio, de mau humor”, afirmou.
Genocida
Lula lamentou a divisão do Brasil, hoje refém da política de ódio e das mentiras de Bolsonaro. “Temos um presidente que estimula a compra de arma ao invés de livros, que estimula o ódio, ao invés da paz, a desavença, em vez de incentivar a harmonia”, declarou Lula, destacando que é papel do partido restabelecer a convivência pacífica entre forças divergentes.
“Embora a CPI não tenha colocado a palavra por terem alegado implicações jurídicas, nós sabemos que o Bolsonaro se comportou como um verdadeiro genocida”, disse Lula, em referência aos crimes cometidos por Bolsonaro durante a pandemia. “Para ele, sacos pretos carregando corpos não significavam nada. Essa é a verdade”, enfatizou.
Política externa
Lula fez uma avaliação do tabuleiro geopolítico mundial e reafirmou a importância de o Brasil recuperar o protagonismo na política externa, alcançado nos governos do PT. “Quando tomei posse em 2003, botei na cabeça que era possível o Brasil mudar a geopolítica internacional, virar protagonista. A primeira lição de casa foi que o Brasil tinha de se aproximar da América do Sul, porque, historicamente, ficamos de costas para a Região. Da África, uma Região com 54 países e eles adoram o Brasil. E o Brasil nunca deu importância, do ponto de vista da relação política, do comércio”, apontou o ex-presidente, para quem o país sempre foi dependente das relações com os EUA.
“É preciso que se construa relações de Estado, foi isso o que eu fiz”, relatou. “Visitei todos os países da América do Sul, 29 países da África, os EUA, estabeleci uma relação com Obama, Bush, Chirac, Sarcozy, com a Alemanha…”, enumerou. “O Brasil tem interesses, e é preciso fazer com que essas pessoas estejam convencidas da sua seriedade nessa relação de interesses entre Estados”.
“É importante lembrar que, quando chegamos à Presidência, o Brasil não tinha nem R$ 100 bilhões de fluxo de comércio exterior e quando deixamos o governo tínhamos R$ 500 bilhões, o que ainda é pouco para um país do tamanho do Brasil”, ressaltou. “Na medida que Bolsonaro fica brigando com a Argentina, a gente prejudica nossas exportações”, criticou.
BNDES
Lula também reagiu às críticas de que os governos do PT emprestaram dinheiro para países por afinidade ideológica, por meio do BNDES. “Quando a gente faz um empréstimo, a condicionante é que tudo que seja comprado para aquele investimento, seja do Brasil. Ou seja, o Brasil não está apenas emprestando, está exportando serviço”, esclareceu.
“O Brasil precisa emprestar, para ajudar a desenvolver outros países, como o Brasil recebeu em momentos históricos, desde que esse dinheiro preste serviço ao país, gerando emprego e vendendo produtos brasileiros lá fora”, concluiu.
Da Redação