Formalização do emprego chega a 61,1% em abril, maior taxa desde 2016

Crescimento de ofertas com carteira assinada leva analistas a rever projeções do mercado para 2023. Recuperação do setor público e da construção civil por Lula alavancam retomada, aponta economista

José Paulo Lacerda/CNI

O crescimento acima do esperado foi puxado pelo bom desempenho do país nos setores da indústria (+0,9%) e de serviços (+0,6%)

Após uma série de correções feitas por analistas econômicos quanto às projeções de crescimento do PIB brasileiro em 2023, todas agora acima de 2%, chegou a vez do mercado de trabalho. Reportagem do jornal Valor, publicada nesta quarta-feira (21), aponta que especialistas também estão revendo projeções de crescimento do emprego formal no país. E não é à toa: segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, o índice de formalização do mercado atingiu 61,1% no trimestre concluído em abril, o maior nível desde o início da série histórica, em 2016. A exceção é o ano de 2020, marcado por oscilações no mercado, ocorridas por causa da pandemia.

O cenário difere fortemente daquele construído no desgoverno Bolsonaro, especialmente durante a pandemia, quando houve aumento da informalidade. Afinal, a aposta do ministro-banqueiro Paulo Guedes era a geração de empregos de pior qualidade e baixa remuneração. Dos 1,9 milhão de empregos criados no setor privado nos 12 meses encerrados em abril, 705 mil postos formais foram gerados apenas nos quatro primeiros meses do governo Lula.

“Tanto o Caged quanto a Pnad vêm mostrando aumento da oferta de vagas formais”, constatou o economista da LCA Consultores, Bruno Imaizumi, em entrevista ao Valor. “De certa forma, isso faz parte do processo de normalização do mercado de trabalho, após um início de recuperação pós-pandemia focado no setor informal. O que tem surpreendido é a magnitude da melhora do setor formal”, declarou o economista.

Vagas formais no Caged

A LCA avalia que haverá criação de 1,5% milhão de postos formais de trabalho em 2023. Já a Tendências Consultoria calcula que haverá a abertura de 1,2 milhão de vagais formais no Caged neste ano. Os empregos devem empurrar a taxa de desemprego para 8,0%, destaca a consultoria. A LCA também considera que a taxa de formalização deve se manter estável em relação ao ano passado.

Ao jornal, ele pontuou que o aumento da formalização se deve, em parte, a dois fatores: a volta ao emprego no pós-pandemia não se concentrou apenas no setor privado, mas também, na esfera pública, como escolas e hospitais, uma vez que o governo Lula voltou a priorizar o setor.

Para Imaizumi, a maior parte desses empregos pode ser explicada pela normalização das atividades, não apenas de escritórios e lojas, mas também nas escolas e hospitais. A administração pública, continua, se beneficiando dessas tendências e também da mudança de governo. “Vimos uma retomada de abertura de vagas no setor público após quatro anos de perdas e é de se esperar que um governo do PT se reflita em uma tendência mais forte de contratações”, avaliou.

Construção civil

O aquecimento da construção civil, outro foco do governo Lula, que retomou projetos de obras paralisadas, também explica a retomada, segundo o economista.

“Embora seja um setor mais sensível a crédito e com grande participação de trabalhadores informais, a gente vê alguma resiliência principalmente pela retomada das obras públicas, um ramo em que a formalização do vínculo de emprego é mais exigida”, reconheceu Imaizumi.

Juros atrapalham aumento do emprego e da renda

O crescimento do emprego formal, apesar dos números promissores para o ano de 2023, poderia ser bem maior, não fosse pelos juros escorchantes praticados pelo Banco Central. A taxa Selic, no patamar de 13,75%, inibe a atividade produtiva e o crescimento da renda, considera o presidente Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sergio Nobre.

“Nenhuma empresa vai fazer investimento produtivo que gere emprego com esse patamar de juros”, afirmou Nobre, em ato contra a política monetária do Banco Central, na terça-feira (20), em Brasília.

“Infelizmente estamos vivendo um quadro de paralisação de empresas, que estão dando férias coletivas, demitindo trabalhadores e na raiz disso estão os juros altos”, denunciou o sindicalista.

O Banco Central vem sofrendo um aumento da pressão popular para reduzir os juros. O Comitê de Política Monetário da instituição deve anunciar nesta quarta-feira (21), se fará ou não um corte na Taxa Selic.

Da Redação, com Valor e CUT

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