A marca da maldade: auxílio reduzido e suspenso em setembro

Bolsonaro decide inovar e tira da cartola de ilusionismo de Paulo Guedes um novo truque: a “redução escalonada” do seguro quarentena. A ideia é retirar R$ 100 de cada parcela da ajuda governamental até a suspensão do benefício em setembro. PT briga no Congresso para manter R$ 600 pelo menos até o final deste ano

O governo decidiu inovar na maldade. Em vez de suspender o pagamento do auxílio emergencial de uma vez, o Palácio do Planalto agora quer promover uma “redução escalonada” da concessão do benefício aos trabalhadores autônomos e às famílias inscritas no Cadastro Único do governo federal. Em vez de estender o pagamento de R$ 600 pelos próximos três meses – ou até dezembro, como defende o PT e a oposição – Bolsonaro propõe tirar R$ 100 a cada vez, até a suspensão definitiva do seguro-quarentena a partir de setembro.

A justificativa da equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes, é que a manutenção dos R$ 600 pagos atualmente – graças à pressão do PT e dos partidos da oposição no Congresso – teria um custo fiscal muito alto pelo governo. A despesa mensal é de 50 bilhões, uma bagatela perto do volume de recursos que o governo reservou ao sistema financeiro nacional – algo em torno de R$ 1,3 trilhão – durante a pandemia. “O PT vai brigar para manter o auxílio emergencial pelo menos até dezembro de 2020”, avisa a deputada Gleisi Hoffmann, presidenta nacional da legenda. “Não pode haver redução de nenhum centavo”.

O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), considera ser preocupante a hipótese do governo não prorrogar a concessão do benefício do auxílio emergencial, justamente quando as projeções apostam que o país ainda sofrerá mais no segundo semestre os efeitos da combinação perversa da omissão do Planalto diante da pandemia e da política de austeridade fiscal preconizada pelo Ministério da Economia.

“A dupla Guedes-Bolsonaro se mostra um desastre para o setor produtivo brasileiro. Guedes só pensa em salvar os bancos e não está preocupado com os empregos do povo brasileiro”, lamenta. O líder do PT na Câmara, Enio Verri, lembra que o auxílio emergencial vai ajudar inclusive a roda da economia girar neste momento de pandemia. “Só haverá recuperação econômica se as pessoas estiverem vivas”, ressalta.

Pressão na Câmara

O PT pressiona o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a manter o pagamento do auxílio emergencial, no mínimo, até dezembro. Maia disse que ainda não foi procurado por Bolsonaro, e defende o pagamento de outras duas parcelas de R$ 600 à população. Até economistas de corte liberal, como a pesquisadora Monica de Bolle, da Universidade Johns Hopkins e do Instituto Peterson, defende a manutenção do benefício até o final do ano. “Acho positivo que o governo não esteja mais falando em acabar com o benefício, mas reduzir hoje não é solução. A crise continua aguda”, afirma ela.

“Enquanto o governo ignora a pandemia, o vírus avança por lugares onde não chegava e volta àqueles por onde já passou. Cálculos mostram 3 milhões de infectados”, criticou o ex-ministro da Saúde, senador Humberto Costa (PT-PE), que também defende a prorrogação do auxílio de R$ 600 aos milhões de brasileiros que estão sem emprego e dependendo da ajuda do Estado para sobreviver. “É uma guerra cujas vítimas são os brasileiros, especialmente os mais vulneráveis”, advertiu.

No começo da manhã desta quinta-feira, 25, o General Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo, afirmou que a extensão do auxílio emergencial por três meses teria parcelas de R$ 500, R$ 400 e R$300. A informação foi publicada pelo ministro no Twitter, mas, em seguida, foi apagada. Ele informou à imprensa que a publicação está incorreta e que o assunto ainda está em discussão no governo.

Da Redação

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