Após quatro meses de desastre sanitário, Bolsonaro premia incompetência de Pazuello
General será efetivado por Bolsonaro como titular na pasta da Saúde nesta quarta-feira (16). Em 120 dias de comando interino de Eduardo Pazuello no ministério, a pandemia deixou um rastro de destruição no país: são 4.349.723 contaminações e 132.125 mortos, ante 220 mil casos e 14,9 mil mortes em 15 de maio, quando o general assumiu a pasta interinamente
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No dia 15 de maio, em plena escalada do coronavírus, o Brasil deixava de ter ministro da Saúde. Na ocasião, Nelson Teich deixou o cargo antes de completar um mês, após discordâncias com o Palácio do Planalto quanto ao uso da cloroquina no protocolo de atendimento das redes do Sistema Único de Saúde (SUS). Quando Teich sucumbiu às pressões do presidente Jair Bolsonaro, o país tinha 220 mil casos e 14,9 mil mortes provocadas pelo Covid-19.
Quatro meses depois, sob o comando interino do general Eduardo Pazuello, a pandemia deixou um rastro de destruição: são 4.349.723 contaminações e 132.125 mortos, segundo atualização do consórcio de veículos de imprensa. Ao invés de uma demissão, no entanto, o militar considerado “especialista” em logística foi premiado pelo desastre sanitário que ajudou a causar: nesta quarta-feira Pazuello será efetivado como titular na pasta da Saúde.
Nomeado para “acertar” a logística da pasta, nas palavras do ministro da Casa Civil, Braga Netto, Pazuello seguiu à risca a estratégia de sabotagem de Bolsonaro ao enfrentamento da pandemia, deixando o surto completamente descontrolado pelo país. Também operou para dificultar o acesso às informações sobre a doença, quando, em junho, passou a atrasar a divulgação de dados e número de casos e mortes em nome de “adequações” para possibilitar “informações detalhadas” sobre a pandemia. Na verdade, a mudança afetou a credibilidade na transparência da pasta na crise sanitária, o que levou veículos de imprensa a criarem um consórcio para coletar dados diretamente com as secretarias de Saúde estaduais e municipais.
“Por meio da nova plataforma será possível trabalhar as curvas logarítmicas sem desconsiderar os totais de casos e óbitos, pois entende-se que um tipo de dado trabalhado não dispensa o outro”, justificou a pasta, à época, por meio de nota. A estratégia consistia em anunciar apenas números confirmados em 24 horas, deixando de considerar dados acumulados. Após críticas de especialistas, a pasta voltou atrás, informando que passaria a divulgar total de casos.
Atrasos no repasses de verbas de emergência
Nesses quatro meses, o ministro interino também foi responsável por um atraso no repasse de verbas emergências para ações de combate à pandemia nos estados e municípios. Quase metade dos R$ 39,2 bilhões disponibilizados ainda não havia sido executada até o mês passado. Além disso, a pasta também deixou de entregar medicamentos, respiradores e kits de testes aos hospitais da rede pública. De acordo com reportagem do ‘Estadão’ de 4 de setembro, quase 10 milhões de testes do tipo PCR estão encalhados por falta de insumos.
Ao mesmo tempo, o general Eduardo Pazuello fez com que a ministério quintuplicasse a distribuição de hidroxicloroquina para estados e municípios, mesmo sem comprovação de eficácia no tratamento de pacientes infectados por Covid-19. Os testes com a substância foram inclusive abandonados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em junho.
Mesmo assim, o Ministério da Saúde distribuiu 6,3 milhões de comprimidos de cloroquina às unidades do SUS. A desova corresponde a 455% a mais do que o enviado em 2019 entre março e julho. Alguns estados avisaram a pasta de que não precisam mais de novas remessas da droga, caso de Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo, que devolveu 450 mil unidades de cloroquina ao governo.
Genocídio
O desgaste de Pazuello ficou evidente em julho, quando a militarização da pasta foi duramente criticada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. “Não podemos mais tolerar essa situação que se passa no Ministério da Saúde”, afirmou Mendes, durante um debate transmitido pela internet.
“Não é aceitável que se tenha esse vazio. Pode até se dizer: a estratégia é tirar o protagonismo do governo federal, é atribuir a responsabilidade a estados e municípios. Se for essa a intenção é preciso se fazer alguma coisa. Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas”, advertiu o ministro, antes de acrescentar: “é preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso”, disse ainda Mendes, na ocasião.
Campanha de desinformação
Pazuello também calou-se diante do ataque à saúde desferido por Bolsonaro e que foi transformado em campanha antivacina pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). A declaração “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina” dita pelo presidente foi criticada por médicos, infectologistas e constitucionalistas, para quem desestimular a vacinação é “inconstitucional” porque coloca em risco a saúde da população como um todo.
A página sobre vacinação do Ministério da Saúde no Facebook ficou quase três meses sem uma publicação a respeito da imunização contra a Covid-19, enquanto dezenas de páginas com conteúdo antivacina utilizaram a fala de Bolsonaro e a peça de campanha publicitária da Secom para espalhar desinformação junto à população. Tudo sob o conveniente silêncio de Pazuello.
Da Redação