Com protocolo da cloroquina, Bolsonaro oficializa sua mais ousada fake news

Sem resultado medicinal comprovado na cura da Covid-19, Bolsonaro “vende” o uso da cloroquina como uma solução mágica para tentar esconder a inércia do governo no combate à pandemia. Sem comprovação de eficácia, a cloroquina teve sua produção ampliada pelos laboratórios do Exército, que avalizou a decisão de Bolsonaro.

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Em "live", Bolsonaro posa de mascate de remédio que tem uso questionado por especialistas.

Na interinidade do general Eduardo Pazuello à frente do Ministério da Saúde, o governo oficializou nesta quarta-feira (20) o protocolo que libera uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no Sistema Único de Saúde (SUS). O protocolo amplia o uso do medicamento para casos leves de Covid-19, até agora limitado para casos graves da doença. “Hoje teremos novo protocolo sobre a Cloroquina pelo Ministério da Saúde”, festejou Bolsonaro pela manhã em seu perfil no Twitter. Sem comprovação de eficácia, a cloroquina teve sua produção ampliada pelos laboratórios do Exército, que avalizou a decisão de Bolsonaro. Sem justificativa, o protocolo não tem assinatura de nenhuma autoridade do Ministério da Saúde ou ligada ao governo federal.

Inerte diante da explosão da pandemia, e negando a ciência mais uma vez, Bolsonaro aposta em sua mais ousada fake news para “vender” uma ilusão de cura para a população. Com a aprovação do novo protocolo, ele conclui sua cruzada pelo uso do medicamento também defendido pelo presidente norte-americano, Donald Trump. A irresponsável peça publicitária custou a demissão de dois ministros, deixando o Ministério da Saúde acéfalo no auge da crise no país, e conta com a contrariedade de médicos e especialistas, que questionam a adoção indiscriminada do remédio. Assim como Trump, como um mascate dos tempos antigos,  Bolsonaro desfila com cartelas de cloroquina, agindo como um garoto-propaganda do remédio questionado por especialistas.

No final da manhã, em dois posts no Twitter, Bolsonaro deu sequência a sua clássica estratégia de confundir a opinião publica na mídia tradicional para acobertar a difusão de fake news pelas redes das milícias digitais a seu serviço.  “Ainda não existe comprovação científica, mas sendo monitorada e usada no Brasil e no mundo”, reconheceu Bolsonaro, mesmo tendo autorizado o uso da cloroquina. E completou, confessando seu objetivo com a medida: “contudo, estamos em Guerra: “Pior do que ser derrotado é a vergonha de não ter lutado”. Também pela manhã, o diretor de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, reafirmou que a cloroquina e a hidroxicloroquina não têm eficácia comprovada para o tratamento de coronavírus.

Falsa esperança

O protocolo divulgado hoje pelo governo vem acompanhado de um termo de consentimento destinado aos pacientes que praticamente desaconselha o uso da cloroquina. Talvez por precaução diante de futuros questionamentos, por meio de um termo de consentimento, o protocolo transfere ao paciente a responsabilidade do uso. O termo ressalta que “não existe garantia de resultados positivos” e que “não há estudos demonstrando benefícios clínicos”. O texto ainda destaca que o remédio pode ter efeitos colaterais como “disfunção grave de órgãos, prolongamento da internação, incapacidade temporária ou permanente, e até ao óbito”.

Apesar de ter seu uso incluído em cestas de medicamentos para o tratamento de pacientes de Covid-19 em diversos países, a cloroquina divide a opinião de especialistas em todo o mundo. Vários estudos, no entanto, demonstraram não existir relação direta entre o uso do medicamento e a redução da mortalidade por Covid-19. A Universidade de Albany, nos EUA, realizou testes com 1.438 pacientes infectados com coronavírus, em 25 hospitais de Nova York, e chegou a essa conclusão. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina orienta que o uso do medicamento deve respeitar a autonomia do médico e a relação médico-paciente, na busca do melhor tratamento disponível. “O uso da cloroquina como salvação de todos os males não devia gastar tanta energia. É um falso debate”, diz Humberto, que foi o primeiro ministro da Saúde no governo Lula, em 2003.

 

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