Covid-19 | A imunização de rebanho. Estamos mesmo protegidos?

Cientistas e especialistas não tem consenso sobre o fenômeno da imunidade coletiva. Segundo estudos do Reino Unido, os anticorpos contra o Coronavírus podem desaparecer com o tempo. 

Da Redação, Agência Todas, com informações da Folha de S. Paulo e The Guardian

 

A disseminação do Coronavírus em solo brasileiro continua preocupante. A epidemia segue agora pelo Sul, Centro Oeste e interior, provocando cerca de 40 mil infecções e mais de 1.000 mortes no Brasil todos os dias — principalmente na população mais pobre. 

Enquanto outros países tomaram decisões rápidas e seguras aliadas a políticas de saúde e econômicas, aguardaram o pico da curva em isolamento social e estão conseguindo reabrir seus espaços, o governo brasileiro segue completamente negacionista e irresponsável. Não há protocolo nacional de combate ao Coronavírus e os governadores e prefeitos estão tentando de diversas formas de conter a pandemia. O resultado, por exemplo, é a flexibilização da quarentena em estados como São Paulo quando a curva ainda não começou a achatar e se espalha pelo interior — onde há menos infraestrutura de saúde pública. 

De olho no combate internacional, a chamada “imunidade coletiva” ou “proteção de rebanho” tem ganhado destaque nas mídias, principalmente por conta das experiências dos países da Europa — que saíram da quarentena e, por enquanto, não vêm enfrentando aumento significativo de novos casos — também conhecida como “segunda onda”.  

Em reportagem à Folha de S. Paulo, epidemiologistas e estudos brasileiros apontaram dois possíveis fatores para  que esse fenômeno da imunização coletiva ocorresse: 

1) Muito mais pessoas pegaram o vírus e desenvolveram anticorpos que diminuem com o tempo, resultando depois em testes negativos; ou elas se curaram mesmo sem a criação de anticorpos

2) O principal vetor de transmissão do vírus seriam os adultos jovens, que circulam mais pelas cidades, sobretudo em transportes coletivos.

 

Mas isso funciona mesmo?

É preciso ter cuidado com essas constatações, porque elas podem levar as pessoas a entender que se “expor” ao vírus pode ser benéfico — piorando ainda mais o estado de calamidade em saúde que o país já enfrenta em diversas cidades. 

Os próprios especialistas, como a doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência, Natália Pasternak, afirmam que a imunidade total só pode ser obtida com um número muito elevado de mortes. Ou seja, para que fosse possível atingir um número de pessoas vivas imunes ao Coronavírus em nível comunitário, seria necessário a morte de muito mais pessoas. A outra forma de se garantir imunidade total seria com uma vacina.

Daniel Soranz, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, também reforçou que o número elevado de mortes em algumas cidades do Brasil ajudaria a explicar a inexistência de uma segunda onda de infecções, apesar da reabertura desses locais.

“Isso ocorre às custas de muitas mortes. Pois se fôssemos desenhar um cenário ruim, não poderíamos criar nada pior do que o que vimos em algumas cidades do Brasil, sobretudo nas comunidades mais pobres, como as daqui do Rio”, afirmou Soranz à Folha de São Paulo.

 

Se eu contrair Coronavírus e sarar. Meus anticorpos me salvam?

Não necessariamente. Novos estudos do Reino Unido revelaram que pessoas recuperadas da Covid-19 podem perder a imunidade contra o vírus, dentro de semanas. Cientistas analisaram a resposta imune em mais de 90 pacientes e trabalhadores da saúde  e encontraram níveis de anticorpos que podem destruir o vírus. Esses anticorpos atingiram o pico por volta de três semanas após o início dos sintomas, no entanto, rapidamente diminuíram.

Jonathan Heeney, virologista da universidade de Cambridge, disse que o estudo confirmou o aumento das evidências de que a imunidade à Covid-19 tem vida curta. 

“Mais importante: esse estudo coloca outro prego no caixão do perigoso conceito de imunidade de rebanho”, afirmou Heeney ao The Guardian. 

Exames de sangue também revelaram que, enquanto 60% das pessoas produziram uma resposta potente de anticorpos no auge da batalha contra o vírus, apenas 17% mantiveram a mesma potência três meses depois. Os níveis de anticorpos caíram 23 vezes no período. Em alguns casos, voltaram a se tornar indetectáveis. 

“Eu não posso subestimar como é importante que o público entende que ser infectado pelo vírus não é uma boa coisa”, reafirmou o virologista.

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