Cuba anuncia a quinta vacina contra a Covid-19

Dois dos imunizantes em estudo são os primeiros desenvolvidos na América Latina a atingir a fase 3 de testes. Se as pesquisas forem bem-sucedidas, a ilha pretende vacinar todos os habitantes até o fim do ano e ainda oferecer os medicamentos para turistas estrangeiros

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Enquanto os países mais ricos disputam os lotes de vacinas contra Covid-19 disponíveis no mercado internacional, e os mais pobres dependem das Nações Unidas para obter frações disponíveis na plataforma Covax, Cuba inicia o desenvolvimento da quinta vacina, a Soberana 01A. O anúncio foi feito nesta quarta (3) pelo presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez, em sua conta no Twitter.

“A ciência cubana continua fornecendo boas notícias”, afirmou Canel, lembrando que a fase 3 dos testes clínicos da Soberana 02 e da Abdala começará em breve. Os fármacos são os primeiros projetos latino-americanos de luta contra a doença a atingir esse estágio, entre 76 candidatas em testes clínicos em todo o mundo.

Mais avançada das candidatas pesquisadas em Cuba, a Soberana 02 foi criada no Instituto Finlay de Vacinas (IFV), e a Abdala foi concebida no Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB). A Soberana 01 se encontra na fase 2. Há também a Mambisa, ainda na primeira fase de testes clínicos, que pode ser o primeiro medicamento contra a Covid-19 com aplicação nasal.

O mestre em ciências Eduardo Ojito Magaz, diretor do Centro de Imunologia Molecular (CIM), instituição responsável pela fabricação da matéria-prima das vacinas Soberanas, afirmou ao ‘Granma Internacional’ que as mais de 300 mil doses da Soberana 02 necessárias para o teste já são produzidas.

Marta Ayala Ávila, diretora-geral do CIGB, garantiu que a instituição, que se dedica à produção do antígeno para a Abdala e a Mambisa (CIGB-669), tem experiência de mais de 30 anos em produções dessa natureza.

Todas as pesquisas passam por uma rigorosa análise da documentação apresentada ao Centro de Controle Estatal de Medicamentos, Equipamentos e Dispositivos Médicos (Cecmed). Até o momento, as medicações provaram ser seguras e capazes de alcançar uma resposta imunológica poderosa ao vírus.

Após a permissão do Cecmed, os testes começarão nos próximos dias em oito municípios de Havana. Nesta semana, o país começou a recrutar 44 mil voluntários com idades entre 19 e 80 anos para o experimento de duas doses aleatório e controlado com placebo. Também será realizado um teste de intervenção que deverá incluir mais de um milhão de pessoas.

Se os testes forem bem-sucedidos, até o fim do ano Cuba inoculará toda a população de 11 milhões de habitantes. O governo cubano também disse que, se tudo sair como planejado, a ilha deverá exportar a vacina e oferecê-la a turistas. O país tem um histórico de exportação de vacinas e de turismo médico.

Produção em escala industrial já começou

O doutor em Ciências Eduardo Martínez Díaz, presidente do grupo empresarial das indústrias da Biotecnologia e Farmacêuticas de Cuba (BioCubaFarma), anunciou que, em paralelo com os estudos, a produção em escala industrial das soluções injetáveis está avançada.

Gerardo Guillén, diretor de pesquisa biomédica do CIGB, informou que a pesquisa cubana se concentra nas “vacinas baseadas em partículas semelhantes a vírus, que apresentam vantagens em termos de capacidade de fortalecer e ativar o sistema imunológico”, e são um ponto forte da pesquisa de vacinação cubana.

Elas incluem as que são administradas por via nasal, como a vacina terapêutica contra a hepatite B crônica desenvolvida em Cuba, a primeira no mundo a ser administrada por via nasal contra uma doença infecciosa crônica.

“E agora, já que estamos lidando com uma doença respiratória, acreditamos que ter uma plataforma de imunização através da mucosa terá logicamente um impacto maior na obtenção de uma resposta funcional e eficaz contra esse vírus”, afirma o cientista.

A ilha não adquiriu vacinas no mercado internacional, nem é um dos países que aderiram ao mecanismo Covax, criado sob os auspícios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para impulsionar o acesso equitativo à imunização para nações de baixa e média renda. Também enfrenta o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, que gerou um prejuízo estimado em US$ 114,4 bilhões em quase seis décadas.

Cuba tem uma longa experiência no desenvolvimento e produção de vacinas. A indústria biofarmacêutica nacional fabrica oito das 11 utilizadas no programa ampliado de imunização. Isso permite ao país uma cobertura vacinal próxima a 100%, com impacto significativo na eliminação de diversas doenças infecciosas e redução do índice de incidentes de outros.

“Cuba produz quase 80% das vacinas do Programa Nacional de Imunizações. Tal é a capacidade do país de fabricar vacinas. Tem o Instituto Finlay e tem uma grande área de inovação tecnológica”, elogia o diretor cubano da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o chileno José Moya.

Além dos imunizantes, Cuba desenvolveu o Interferon Alfa 2B, remédio com eficácia de até 80% no tratamento de pacientes em estado moderado da doença. Também lança respiradores próprios para atender casos graves. São cinco modelos de respiradores criados com impressoras 3D, pela equipe do Grupo de Indústria, Eletrônica, Informática, Automatização e Comunicações de Cuba (Gelect).

Os protótipos começaram a ser produzidos em maio do ano passado e agora estão prontos para serem analisados pelo Cecmed, que deve dar o aval para o uso em pacientes em estado avançado da infecção. Somente os sensores e o motor dos respiradores são importados, o restante foi fabricado por profissionais cubanos.

Depois de quase um ano do caso zero, Cuba registra nesta sexta (5) 53.308 casos, com 48.341 pacientes recuperados e 336 mortes. O Ministério de Saúde Pública cubano estima que, entre os 4277 casos ativos, 35 enfermos estão em estado grave.

Da Redação

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