Economia chinesa reage, enquanto PIB de EUA e Brasil despenca

Nação asiática, onde o novo coronavírus foi reportado pela primeira vez, é também a primeira onde a produção de riquezas volta a crescer. Governo chinês anuncia que manterá programas para criar empregos e erradicar a pobreza

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Economia da China se recupera em meio a pandemia

Ao mesmo tempo que a economia norte-americana desaba – o Goldman Sachs projetou em seu relatório de sábado recuo de 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano – e a brasileira segue o mesmo rumo – o Ministério da Economia torce por uma queda de 4,7% em 2020 –, a chinesa ultrapassou as estimativas e cresceu 3,2% entre abril e junho.

Para o Escritório Nacional de Estatísticas (BNS), ainda que no primeiro semestre a economia tenha caído 1,6% em um ano, os dados dos últimos três meses são alentadores e mostram uma recuperação sustentável ainda em meio às dificuldades derivadas da pandemia do coronavírus. A agência avaliou como positivo o crescimento do país e como boas as expectativas de mercado.

O governo chinês projeta uma recuperação maior para o resto do ano porque cada vez mais empresas estabilizam suas operações, graças ao controle gradual sobre a Covid-19. A doença foi responsável pela queda de 6,8 pontos no PIB durante o primeiro trimestre deste ano, a primeira que a China reporta no indicador desde 1976.

No ano passado, a economia da China cresceu 6,1%, o menor resultado desde 1990, em um dos anos mais complexos devido aos desafios e pressões múltiplas que puseram à prova sua resiliência.

Analistas e especialistas preveem um dinamismo discreto do gigante asiático porque esteve sob um assédio mais forte pelo conflito comercial desatado pelos Estados Unidos, que levou à implementação mútua de várias rodadas de impostos adicionais sobre artigos importados.

O governo lançou uma série de medidas, incluindo mais gastos fiscais, isenção de impostos e cortes nas taxas de empréstimos e nas reservas bancárias, para reviver a economia devastada pelo coronavírus e apoiar o emprego.

Devido aos estragos da Covid-19, interna e externamente, o estado asiático decidiu não fixar uma meta de crescimento econômico para este ano. Em vez disso, continuará investindo na priorização dos programas orientados a criar mais empregos, erradicar a pobreza e manter a estabilidade social.

A China, onde o vírus foi detectado em dezembro, antes da propagação para o resto do mundo, foi o primeiro país a retomar as atividades e pode ser um indicativo da esperada recuperação da economia mundial.

A retomada da economia se deve “tanto ao êxito (do país) na gestão do vírus como à política de apoio do governo”, afirma a agência de classificação financeira Fitch. O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera que a China cresça 1% neste ano, e 8,2% em 2021, quando os efeitos da crise já tiverem sido majoritariamente superados.

Sucesso chinês favorece Brasil

Já o desastrado modelo econômico de Paulo Guedes, que desce a ladeira de braços dados com seu colega ianque Steven Mnuchin, será favorecido pelo sucesso chinês. Para os analistas econômicos, a rápida recuperação asiática reforçará as exportações brasileiras, que neste ano já apresentam resultados melhores do que no ano passado.

A China é o principal parceiro comercial brasileiro e foi destino de 28,1% das exportações em 2019, segundo o Ministério da Economia. O gigante asiático foi responsável pela compra de US$ 65,389 bilhões (R$ 346,561 bilhões) de produtos do Brasil no último ano, principalmente soja, minério de ferro e proteína animal. Em contrapartida, os chineses venderam US$ 35,881 bilhões (R$ 190, 169 bilhões) ao país.

A diretora-executiva do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Claudia Trevisan, avalia que mesmo com o recuo histórico do PIB chinês nos três primeiros meses deste ano, e a consequente crise econômica mundial causada pelo novo coronavírus, as exportações brasileiras cresceram 14,6% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2019. “A tendência é manter esse crescimento ao longo do ano, principalmente se a economia chinesa continuar se recuperando”.

A alta, segundo a entidade, foi puxada pelo aumento de 165% das exportações de carne bovina e 167% de carne suína após uma crise sanitária que ano passado forçou a redução da produção de proteína animal na China. Além disso, a soja teve aumento de 31% e o minério de ferro cresceu 27% no último semestre. “A China tem uma política de crescimento pautada no investimento em infraestrutura, com muito uso do aço. Então a previsão é que a venda do minério de ferro também cresça nos próximos meses”, conclui a economista.

Especialista em China, o professor de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Roberto Dumas Damas diz que o agronegócio brasileiro será o maior beneficiado pela retomada da economia do país asiático. Além da baixa produção de proteína animal, o professor aponta o aumento do poder aquisitivo das famílias chinesas como propulsor deste crescimento ante queda das atividades econômicas em outros parceiros comerciais do Brasil.

“Com essa recessão nos Estados Unidos e União Europeia, mais de 70% do nosso agronegócio está indo para a China”, diz o economista, citando ainda outras questões internacionais como ponto positivo ao Brasil. “A recente rusga com a Austrália, que vendia proteína animal para os chineses, também tende a beneficiar os produtores brasileiros.”

Professor de relações internacionais na Fundação Getúlio Vargas (FGV), Pedro Brites chama a atenção para o fato de a China já mostrar sinais de recuperação no momento que outras economias ainda se esforçam para combater o vírus. “Na medida que outros países têm uma recuperação mais lenta, a China está vai estar à frente, e é possível que ela se torne ainda mais preponderante na balança comercial brasileira”, afirma.

Apesar da detecção de um novo foco de Covid-19 no mês passado em Pequim, nesta quinta-feira o país registrou apenas um caso da doença. Os Estados Unidos estão prestes a bater a marca dos 3,5 milhões de casos confirmados, e o Brasil, dos dois milhões.

Da Redação

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