Lula: “A Petrobrás é um patrimônio deste país e não apenas dos acionistas” 

Em entrevista à Band FM, o presidente Lula defende que a empresa retome os investimentos para garantir a soberania energética do país. E volta a denunciar a absurda política de juros do Banco Central

Ricardo Stuckert

Presidente Lula. Foto: Ricardo Stuckert

Lula defendeu, em entrevista ao programa O É da Coisa, da Band FM, na noite de quinta-feira (2), uma Petrobrás comprometida não só com o pagamento de dividendos a acionistas, mas também com investimentos que garantam a soberania energética do país. O presidente também voltou a denunciar a política de juros altos do Banco Central.

Na conversa com o jornalista Reinaldo Azevedo, Lula criticou o fato de a Petrobrás ter distribuído R$ 215 bilhões para acionistas no ano passado enquanto cortou drasticamente os investimentos em pesquisa e no futuro da própria empresa. 

“A Petrobrás é uma indústria de energia e tem que fazer investimento para que possa, cada vez mais, descobrir novas coisas. Ela precisa investir em etanol e biodiesel de segunda geração, em hidrogênio verde. A Petrobrás é um patrimônio deste país e não apenas dos acionistas”, defendeu o presidente. 

Ele explicou que, como acionista majoritário da estatal, o governo vai mudar o direcionamento da empresa, que nos últimos anos, além de cortar os investimentos, passou a vender seus ativos, como a empresa de distribuição BR, refinarias e gasodutos.

“A Petrobrás não é uma empresa para vender seus ativos como está vendendo. E, se ela não tivesse investido em pesquisa, não teríamos descoberto o pré-sal. Nós temos que pensar a Petrobrás como empresa, mas também como uma indústria de interesse estratégico do Brasil. A gente, jamais, vai querer que a Petrobrás tenha prejuízo, mas a Petrobrás tem que fazer investimento, se não ela fica uma empresa ultrapassada”, alertou.

Outra preocupação do presidente é com a política de preços da empresa, que fez com que o brasileiro pagasse cada vez mais caro pelos combustíveis e pelo gás de cozinha. Mas, para realizar essa mudança, é preciso concluir o processo de formação da nova diretoria e do novo conselho da empresa, o que só deve ocorrer em abril.

“Você está lembrado que eu disse que vamos abrasileirar o preço do petróleo. É que fizeram uma mudança nas empresas estatais que, para indicar os diretores e o conselho, leva tempo. Nós só vamos ter o controle da Petrobrás em abril. Aí nós vamos discutir com mais seriedade o papel da Petrobrás no desenvolvimento econômico deste país”, anunciou (veja no vídeo abaixo).

Juros altos não têm justificativa

Em outro momento da entrevista, Lula voltou a alertar para a ameaça ao crescimento do país representado pela altíssima taxa de juros praticada pelo Banco Central, que faz o Brasil ter hoje a maior taxa de juros real do mundo.

“Qual é a explicação de você ter juros de 13,75% num país em que a economia não está crescendo? Saiu o PIB do último trimestre, foi negativo, apesar da fanfarrice do Paulo Guedes. E você tem desemprego, informalidade, trabalhadores ganhando pessimamente porque a massa salarial caiu muito, não tem crédito. Então, eu queria uma explicação de por que os juros estão a 13,75%”, cobrou (assista ao trecho a seguir).

Lula disse que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não pode tornar o país refém de uma política claramente equivocada. “Eu fui eleito para presidir o país e, mesmo assim, eu não tenho autonomia. Tenho que prestar contas ao Congresso Nacional, ao Tribunal de Contas da União, à sociedade brasileira, aos meio de comunicação. Ora, por que esse cidadão, que não foi eleito para nada, acha que tem o poder de decidir as coisas e dizer ‘ah, eu vou pensar como eu posso ajudar o Brasil’?”, questionou.

“Você não tem que pensar como ajudar o Brasil, tem que pensar como reduzir a taxa de juros, para que este país volte a ter crédito, para que a economia volte a funcionar”, prosseguiu. “Esse país não pode ser refém de um único homem.”

O presidente lembrou ainda que, além de controlar a inflação, é obrigação de Campos Neto, conforme a lei que deu autonomia ao BC, promover o emprego e o crescimento da economia. E defendeu seu direito em apontar o mal que a política de juros tem causado ao país.

“É engraçado porque, de repente, as pessoas escrevem que o presidente não pode criticar o presidente do Banco Central. Que absurdo! O que eu não posso é ser leviano e dizer coisas que não sejam verdadeiras. Eu estou dizendo a máxima verdade: não existe explicação para a taxa de juros ser 13,75%. Não existe excesso de consumo, inflação causada por consumo neste país. A economia não está crescendo, o povo não está comendo, então não tem nenhum razão para os juros altos”, concluiu.

Da Redação

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