Negligência e saúde privada explicam tragédia norte-americana

Diante do caos instalado, a Organização Nacional de Médicos e Enfermeiros dos EUA está em campanha por melhores condições de trabalho

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Ao Brasil, com certeza, não interessa conflitos desse tipo.

Os Estados Unidos acusam a China de ocultar datas e números sobre a eclosão do coronavírus em seu território. No entanto, é o governo norte-americano quem tem demonstrado falta de transparência no trato da pandemia. Na última semana, vieram à tona novas informações sobre o inicio da circulação do novo coronavírus no país.

Os principais jornais norte-americanos noticiaram que as duas primeiras mortes nos Estados Unidos ocorreram em 6 e 17 de fevereiro, na cidade de Santa Clara, na Califórnia. Até então, o registro da primeira morte atribuída à Covid-19 teria ocorrido em 26 de fevereiro, no estado de Washington. O estudo publicado pela revista The New England Journal of Medicine concluiu que o primeiro registro da presença do coronavírus foi em 15 de janeiro.

A disseminação do novo coronavírus também ocorreu à margem do controle das autoridades, segundo especialistas. Pesquisadores concluíram, por exemplo, que o vírus se espalhou por Nova York durante o mês de fevereiro, antes da explosão verificada a partir do mês de março. De acordo com os epidemiologistas, a cidade registrou anteriormente vários casos “misteriosos” de pneumonia, antes da adoção de testes.

Sistema privado e caro

Sem contar com um sistema como o SUS, 30 milhões de norte-americanos não possuem seguro médico, e outros 40 milhões só têm acesso a planos deficientes. Além disso, a maioria dos planos exige pagamentos complementares e seguros muito caros. De acordo com a Kaiser Family Foundation, o medo das pessoas de não poder pagar as caríssimas consultas e tratamentos conspira para impedir que os contágios pelo coronavírus sejam detectados.

Em artigo publicado no jornal The Guardian, o ex-secretário [“ministro”] do Trabalho durante o governo Clinton, Robert Reich, afirma que: “Em lugar de um sistema de saúde público, temos um sistema privado com fins de lucro, para as pessoas que têm a sorte de pagá-lo, e um sistema de seguro social desarranjado, para as pessoas que ainda têm a sorte de possuírem um trabalho em tempo integral”.

A crise empurrou cerca de 27 milhões de trabalhadores que perderam os empregos e, junto com eles, os planos de saúde, mesmo precários e caros. Assim como apostam implantar no Brasil, nos Estados Unidos não existe legislação para obrigar as empresas a pagar licença de saúde aos trabalhadores.  A consequência são 911 mil infectados e 51 mil mortos, registrados na sexta-feira (24).

Negligência e descaso

A negligência das autoridades norte-americanas resultou em descaso oficial no combate à pandemia, segundo profissionais de saúde. Todas as regras básicas para enfrentar a disseminação do novo coronavírus foram ignoradas, denunciam enfermeiros, médicos e outros trabalhadores do setor. Além da lentidão para agir, faltou planejamento estratégico e também equipamentos médicos, dizem os profissionais.

De acordo com a Comissão de Fiscalização do Congresso dos EUA, cerca de 90% do estoque nacional de equipamentos de proteção pessoal (EPI) já foram utilizados. A última encomenda de respiradores N95, máscaras cirúrgicas, protetores faciais e luvas é do início de abril, feitas pelo Departamento de Saúde e Recursos Humanos. A necessidade e a urgência levou Trump a promover pirataria internacional para confiscar equipamentos.

Diante do caos instalado, a Organização Nacional de Médicos e Enfermeiros dos EUA está em campanha por melhores condições de trabalho. O maior sindicato do setor da saúde nos EUA, a União Nacional das Enfermeiras, já havia alertado as autoridades sobre os riscos. É consenso entre especialistas que as autoridades deveriam ter tomado medidas mais sérias e abrangentes bem antes.

Com Página 12 e Agência Internacionais

 

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