País terá 90 mil mortos e 2,5 milhões doentes em duas semanas, diz estudo

Projeções refletem falta de coordenação do governo federal frente ao coronavírus. Críticas do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, à atuação das Forças Armadas expõem fragilidade de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde. Enquanto Bolsonaro tergiversa sobre a nomeação de profissional ligado ao setor para assumir a pasta, a doença avança, implacável: nesta terça-feira (14), foram registrados 1.895.555 casos e 73.161 mortes

Lucas Silva

Bolsonaro se volta contra o povo

As críticas do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, à atuação das Forças Armadas diante da pandemia fizeram mais do que causar mal estar entre generais do Exército. A desastrosa militarização do Ministério da Saúde apontada por Mendes também chama a atenção da opinião pública para a fragilidade do general Eduardo Pazuello. Nomeado ministro interino há dois meses pelo presidente Jair Bolsonaro, Pazuello apostou fichas na hidroxicloroquina, um remédio não apenas ineficaz como perigoso para pessoas infectadas. Enquanto cresce na população a certeza sobre a incapacidade dos militares em lidar com a crise, a doença avança, implacável: nesta terça-feira (14), foram registrados 1.895.555 casos e 73.161 mortes, segundo o consórcio de imprensa.

E o prognóstico também não é animador: uma projeção da PUC-RJ e da FGV indica que o país terá 90 mil mortos e mais de 2,5 milhões de infectados até o fim de julho. Os dados foram reunidos pelo grupo Covid19Analytics, formado por economistas das duas instituições. “Não parou de morrer gente e isso vai continuar”, declarou o economista Marcelo Medeiros, um dos coordenadores do grupo, ao ‘Estadão’.

Em meio ao contínuo aumento de casos e mortes, a fratura na Saúde ficou ainda mais exposta depois das declarações de Mendes. Adotando o mesmo tom mais brando de domingo, ele voltou ao assunto nesta segunda-feira: “Nenhum analista atento da situação atual do Brasil teria como deixar de se preocupar com o rumo das nossas políticas públicas de saúde. Estamos vivendo uma crise aguda no número de mortes pela covid-19, que já somam mais de 72 mil. Em um contexto como esse, a substituição de técnicos por militares nos postos-chave do Ministério da Saúde deixa de ser um apelo à excepcionalidade e extrapola a missão institucional das Forças Armadas”, afirmou o ministro.

O imbróglio aumentou a pressão sobre Bolsonaro, que tergiversa há dois meses sobre a escolha de um nome ligado, de fato, à saúde. Articulistas de imprensa apontam que os próprios militares, além de interlocutores do Centrão, passaram a pressionar o presidente para a retirada de Pazuello do cargo. Enquanto Bolsonaro pensa no assunto, estados e municípios continuam esperando repasses de verbas emergenciais para o combate à pandemia, como a compra de respiradores e equipamentos de proteção individual.

Taxa de mortes

Os pesquisadores manifestaram preocupação com a média de mortos, atualmente na casa de mil registros diários, considerado muito alto. Apesar de ainda alta, a taxa de mortalidade apresentou queda desde o dia 17 de junho. De acordo com a média móvel, modelo de cálculo usado pelo consórcio de veículos de imprensa para calcular a taxa média semanal de óbitos, esta semana foram registradas 1.042 mortes em média. Já a média de novos casos por dia é de 37,4 mil casos, número também elevado. O índice de mortes no Brasil representa 12,6% das perdas fatais no mundo. 13,1 milhões de pessoas já foram contaminadas e mais de 573 mil morreram em decorrência da Covid-19.

Segundo o levantamento dos especialistas, considerado um dos mais precisos do país – a margem de erro é de apenas 2% -, a pandemia avança pelo interior de maneira heterogênea. “São várias ondas diferentes e misturadas”, pontuou Medeiros. Ele alertou que os números não refletem a recente flexibilização das medidas de isolamento social em vários Estados.

“A chegada e a velocidade com que o vírus se propaga em cada localidade depende de várias características: conectividade entre habitantes e com outras localidades em diferentes estágios da pandemia, densidade demográfica, condições sanitárias, política local de intervenção não-farmacêutica (quarentena), entre outros fatores socioeconômicos”, explicam os pesquisadores, no relatório.

“Estados com municípios mais isolados, como na região Norte, têm menos transmissão cruzada e, portanto, tendem a ter curvas epidemiológicas mais curtas”, constatam os economistas no relatório. “Estados com municípios mais interligados, como na região Sudeste, têm mais dificuldades para baixar o número efetivo de reprodução por conta da retroalimentação da epidemia entre municípios”.

Como se vê, as peculiaridades de cada estado e município exigem um nível profundo de conhecimento da realidade brasileira para uma ampla capacidade de resposta, seja em logística, seja em políticas de saúde pública. O relatório dos economistas poderá ser valioso para a elaboração de um plano nacional de enfrentamento da pandemia se e quando Bolsonaro nomear um ministro da Saúde.

Da Redação.

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