Paulo Nogueira Jr: “Com Lula, Brasil terá importante papel no mundo”

Ao Jornal PT Brasil, ex-vice presidente do Banco de Desenvolvimento dos BRICS aponta para um novo protagonismo do bloco em um eventual governo Lula. “O Brasil é um dos gigantes do mundo”, avalia Nogueira

Divulgação

Paulo Nogueira: "Há um vácuo de liderança no mundo"

Uma eventual consagração eleitoral do Movimento Vamos Juntos pelo Brasil, liderado pelo ex-presidente Lula, trará novos ventos para a economia nacional e para o papel do Brasil no redesenho do tabuleiro geopolítico mundial que começará a tomar forma nos próximos anos. A avaliação é do economista Paulo Nogueira Batista Jr., ex-diretor executivo do FMI, entre 2007 e 2015, e ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, criado pelos BRICS, entre 2015 e 2017. Em entrevista ao Jornal PT Brasil, na manhã desta sexta-feira (15), Nogueira Jr. reafirmou a força econômica do país no mundo e o papel de Lula na superação das desigualdades e na reconstrução de relações multilaterais na política externa.

“A economia brasileira é uma das maiores do mundo. Ela vem perdendo peso na economia relativa mundial, desde a crise de 2015/2016, mas essas comparações são enganosas, porque são feitas com base nas taxas de câmbio correntes”, explicou o economista. “A economia brasileira ainda é a oitava do mundo em termos de tamanho, o Brasil é um dos gigantes do mundo”, apontou Paulo Nogueira, que é autor do livro O Brasil  não cabe no quintal de ninguém, uma compilação de textos dos tempos em que trabalhou no FMI e no banco dos BRICS, além de análises sobre a importância do nacionalismo na luta contra nosso complexo de vira-lata.

“A partir de 2023, se a gente não cometer o desatino de reeleger o atual presidente, o Brasil será uma das maiores economias do mundo, sendo presidido por um líder de grande respeitabilidade e influência mundial, que é o Lula”, ressaltou. “Isso é um fato, podem não gostar disso, os adversários domésticos de Lula podem não reconhecer, mas é um fato”.

“Vácuo de liderança no mundo”

Segundo Paulo Nogueira, Lula poderá conferir ao Brasil uma nova oportunidade de interferir positivamente nas relações internacionais e no desenvolvimento dos países, em especial da América do Sul. “Há um vácuo de liderança no mundo”, observou o economista. “O Brasil pode desempenhar um papel, para si mesmo, para os seus vizinhos, para o mundo inteiro até, dadas as dimensões do país em que nós vivemos”, argumentou.

Nogueira reconheceu o tamanho do desafio de reconstruir o Brasil, especialmente na economia doméstica. “A atual situação econômica do país é difícil, porque nós temos a economia crescendo pouco, apesar de ter passado por uma longa recessão, um longo período de estagnação, continua crescendo pouco”.

Ele descreveu o quadro de desesperança social que varreu o país sob o desgoverno Bolsonaro. “O desemprego caiu, é verdade, mas continua muito alto, o subemprego muito alto, muita gente desalentada, os salários reais caindo, a inflação comendo o poder de compra dos salários, os alimentos subindo muito, a energia”, elencou. “Os preços que sobem mais são aqueles que atingem mais as classes menos favorecidas”, lamentou Nogueira Jr.

“Então você tem um processo de concentração de renda muito intenso, não é à toa que existe uma grande insatisfação. Há 33 milhões de pessoas passando fome, em situação de insegurança alimentar aguda. Ou seja, estamos vivendo uma crise social profunda, que só pode ser superada se nós tivermos a oportunidade de trocar de governo”, pontuou.

BRICS

“E temos uma sorte importante, que é um líder da experiência do Lula disposto a assumir de novo o encargo de conduzir o Brasil, o que não é fácil”, definiu o economista. “Costumo dizer que o cargo mais difícil do mundo é a Presidência do Brasil: você tem que lutar, sendo presidente, não só contra as barreiras que sempre existem, mas contra a sabotagem que muitos brasileiros fazem com o próprio país. Existe uma espécie de Quinta Coluna, sobre a qual é preciso escrever um ensaio de 400 páginas, no mínimo, para descrever a quantidade de barbaridades que fizeram, não só no passado recente, mas antes também”.

O economista apontou que o papel geopolítico do bloco BRICS, que integra Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, será maior, caso Lula vença as eleições de outubro. “Os BRICS dependem muito da atuação de cada um dos cinco países. E o Brasil está apagado nesse processo BRICS desde o governo Temer”, observou.

“Como antes, no tempo de Dilma e Lula, o Brasil era um dos motores do grupo, ele se ressentiu quando o Brasil entrou em uma espécie de eclipse”,afirmou. “Lula foi um dos fundadores dos BRICS lá atrás, em 2008, e conhece bem o grupo, como o Celso Amorim [ex-ministro das Relações Exteriores de Lula], que participou da criação. Então é muito provável que a atuação brasileira venha a ser um fator de impulsionamento desse grupo, que atua em um contexto totalmente diferente do que existia quando nós criamos, em 2008”.

Polarização 

“Temos uma situação de polarização geopolítica muito intensa, Rússia versus Ocidente, China versus EUA”, analisou Nogueira Jr. “Essa polarização naturalmente vai afetar o funcionamento do grupo, porque dois dos países que os EUA consideram adversários são membros dos BRICS, Rússia e China”.

Ele expressou ter dúvidas sobre os efeitos positivos ao Brasil de uma eventual expansão do grupo com a entrada de novos países, que poderiam conferir ao bloco um caráter mais antagônico aos EUA. “Tenho a impressão de que o Brasil quer os BRICS sejam caracterizados, como sempre foram, como um grupo pró-desenvolvimento, de seus membros, dos países em desenvolvimento, mas não anti-EUA, anti-Europa”, opinou. “É o espírito dos BRICS original, que também é o espírito da política externa de Lula, que sempre foi ampla,” defendeu.

Nogueira Jr. finalizou a conversa ressaltando a importância do caráter conciliador dos governos lulistas. “Repare que Lula foi amplo para dentro, como está sendo de novo, fazendo uma frente ampla, e amplo para fora. Não tratou de antagonizar nenhum bloco, nenhum país, sempre procurou as melhores relações com o sul global, com os EUA, com a África, Europa, América Latina e Caribe, e assim por diante”, comentou. “Essa é a vocação brasileira, que acho que será mantida, se o Lula se eleger como esperamos”.

 Da Redação

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