Por que transparência não é só disponibilizar dados

Conheça o caso do Coronavirus-MG, iniciativa pioneira de sistematização de dados de Covid-19 por município

Ana Clara, Agência Todas

Imagine que qualquer pessoa em Extrema, no sul de Minas; em Manga, no norte do estado; ou na pequenina Serra da Saudade, menor município mineiro, consiga saber em poucos cliques a situação do Covid-19 na própria cidade. Isso já é realidade desde o dia 8 de março, graças ao site Coronavirus-mg, uma iniciativa pioneira de dois jornalistas especializado em dados. Com muito apoio da sociedade civil e pressão em cima do governo, eles anteciparam a necessidade de sistematização dos dados, compartilharam publicamente e, hoje, são referência dos grandes veículos de comunicação do estado. 

Conversamos com Cristiano Martins, um dos fundadores do Coronavírus-MG. Ele conta que, no início, o governo do estado de Minas Gerais disponibilizava apenas o boletim em pdf — um formato considerado “fechado”, porque além de não conter todas as informações necessárias, não possibilita fazer análises mais complexas, comparações históricas e uma leitura mais adequada. Mesmo assim, eles foram montando um banco de dados, por meio de planilha, e começaram a cobrar o poder público para que os dados fossem disponibilizados em formato aberto. 

A partir de uma plataforma fácil de ser consultada, mesmo por leigos, com fácil visualização, esse trabalho voluntário e independente já foi utilizado como fonte em 50 reportagens, mas não apenas. A UFMG baseou-se nesse levantamento para produzir um artigo científico que levanta dados e argumentos contra a flexibilização da quarentena — e outras universidades vêm utilizando para diversos tipos de estudos e pesquisas. 

“A partir do momento que se tem a informação, a decisão do que se faz com ela é pessoal. Mas é direito de todo mundo ter acesso à informação, clara, transparente e rápida”, afirma Cristiano Martins. 

O uso dos dados do Coronavirus-MG por universidades, por exemplo, demonstra a importância da transparência pública para a inovação e criação de soluções para a melhoria da vida nas cidades e decisões políticas mais adequadas. 

“Não tem como nenhum governo, instituição se pautar por uma questão de comunicação social, pensando em publicidade e marketing, mais do que em transparência. É o contrário.”, afirma o jornalista. 

 

Competição saudável

A pressão da sociedade civil por mais transparência gerou uma pressão em todos os governos de estado, no sentido de estarem compromissados com o combate ao Covid-19 de forma transparente. Com a ocultação de dados do governo Bolsonaro na semana passada, o receio era de que os estados seguissem essa tendência, mas a repercussão da ação do governo federal foi tão ruim que isso não aconteceu. 

“Felizmente, a reação negativa foi tão grande que, felizmente, isso não teve repercussões de os estados darem um passo atrás na transparência. Mas a mancha ficou, como a queda da credibilidade internacional”, pontua Cristiano. .

Lutar pela transparência pública é uma forma de manter controle sobre as ações do governo, seja por ações individuais, pesquisa ou trabalho de imprensa — a transparência é a única forma de garantir possibilidade e soluções para sair mais rápido dessa crise. 

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