Letras Por Elas | Revista ‘Queimada’ alterna humor e lucidez em tempos de pandemia

Pensada totalmente para o Instagram e produzida por dezenas de mulheres, revista inova na linguagem com posts escritos até 1 mil caracteres, ilustrações e design

Ana Clara, Agência Todas

Para quem pode ficar em casa e tem acesso à internet, rolar o feed nas redes sociais tem sido uma rotina que se tornou uma aventura, quase sempre, dolorosa. Cada dia uma angústia diferente na agenda política, a escalada do autoritarismo, fronteiras fechadas, desinformação científica, alternada com técnicas de autocuidado, meditação, exercícios e lives, muitas lives, de todos os assuntos. 

Como aquela amiga capaz de sintetizar as desgraças do mundo sem perder a esperança, a revista Queimada, @_queimada, pensada totalmente para o Instagram, compila o senso de urgência nacional em três doses diárias de muito bom senso. Produzida totalmente por mulheres, nas mais diversas áreas, elas já chegam colocando fogo no parquinho. 

“O Brasil tem, hoje, 25 mil mortos. As pessoas estão perdendo o emprego, não têm dinheiro para comprar comida. O governo federal inexiste. Ou melhor, existe e atrapalha. Não dá para esquecer isso nem por um minuto”, explica Rita Palmeira, uma das fundadoras da revista. 

Atualmente, são 22 colaboradoras que desenham ou escrevem sobre política, ciência, confinamento, perdas, lutos, educação, desigualdade, imagens e cidade — e estão unidas pelo esforço permanente de olhar para além das aflições pessoais e sintetizar, em até 1 mil caracteres ou por meio de ilustrações, as angústias coletivas. O guia da intuição, explica Rita Palmeira, é manter um formato convidativo “que alterna a sobriedade e gravidade do momento, com o humor necessário para não sucumbirmos de vez”, pontua. 

A revista reúne nomes como Anne Pinheiro, Bia Abramo, Eliane Dias, Fernanda Ficher, Flávia Natércia, Ilana Feldman, Klara Schenkel, Laura Carvalho, Laura Erber, Luli Penna, Maria Homem, Maria Shirts, Maria Tereza Barbosa, Marta Machado Michele Oliveira Paloma Vidal, Rita Palmeira, Samira Feldman, Sirlene Barbosa, Vera Iaconelli, Veridiana Scarpelli e Veronica Stigger

 

Como surgiu o projeto

A ideia surgiu em 2016 e, inicialmente, era uma revista de ensaios online inspirada no Trópico, site editado pelo jornalista Alcino Leite Neto. Idealizado pela editora Rita Palmeira, a psicanalista Maria Homem e a pesquisadora de cinema Ilana Feldman, o projeto da revista acabou sendo engavetado. 

Neste ano, durante a quarentena, as idealizadoras se reuniram novamente (de forma virtual, claro) e o formato do Instagram ganhou corpo, simplificou o projeto e exigiu chamar mais colaboradoras.  Luli Penna, ilustradora e quadrinista, e a Fernanda Ficher, designer, foram incorporadas ao projeto — que pedia, agora, mais apelo visual e gráfico. 

Nascida para acabar, porque o plano é durar apenas no período de isolamento, a revista Queimada é dividida em seções que refletem a irônica tragicômica realidade brasileira. “O passeio de Jairzinho”, com ilustrações sobre as viagens messiânicas do presidente; “Alarido”, com apontamentos sobre o que vem causando barulho nas redes; “A curva”, que traz análise de gráficos sobre a Covid-19; além de visões de brasileiras que estão em Milão, Nova Iorque e Copenhague, entre outras seções que transitam entre a seriedade necessária para o momento e o alívio da racionalidade do caos. 

Mais do que um perfil a mais para acompanhar, a revista Queimada é uma alternativa para sintetizar posicionamentos em diversas áreas: direito, política, ciência e cidade — e economizar tempo no feed, com regularidade, bom conteúdo e a sensatez inevitável de mulheres que andam juntas. 

 

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