Desumano, Bolsonaro desonra 100 mil vidas perdidas: “vamos tocar a vida”

Incapaz de demonstrar empatia e solidariedade, presidente volta a minimizar tragédia de famílias brasileiras. Enquanto Bolsonaro desrespeita a população em mais um ato de omissão, o país ultrapassa a marca de 100 mil óbitos neste final de semana e se aproxima dos 3 milhões de infectados com 2.927.807 casos de Covid-19. “A dor das famílias que perderam alguém na pandemia não tem valor para Bolsonaro”, lamenta a presidente do PT e deputada federal Gleisi Hoffman

Em mais uma de suas ruidosas e deslavadas mentiras, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, em transmissão pela internet, na quinta-feira, 6, que busca “uma maneira de se safar desse problema”. O “problema” é a pandemia do coronavírus, que ceifou a vida de 100 mil brasileiros, triste marca a ser anunciada entre esta sexta-feira (7) e sábado. Ao lado de Eduardo Pazuello, o general colocado interinamente na pasta da Saúde para consolidar a estratégia de sabotagem do Planalto ao combate à pandemia, Bolsonaro voltou a demonstrar desprezo pela vida humana: “a gente lamenta todas as mortes, já está chegando ao número 100 mil, talvez hoje. Vamos tocar a vida”. Enquanto desonra a população em mais um ato de desumanidade, o país se aproxima dos 3 milhões de infectados pela doença, com o registro de 2.920.807 casos.

“Jair Bolsonaro, você é responsável por essas mortes e você vai pagar por isso. Algum dia você vai pagar pelos crimes que você está cometendo. Nesse momento triste, só há uma coisa a dizer: Fora, Bolsonaro”, afirmou o líder da bancada do PT, deputado Enio Verri (PR). “A dor das famílias que perderam alguém na pandemia não tem valor para Bolsonaro”, afirma a presidente do PT e deputada federal pelo Paraná, Gleisi Hoffman. “Dizer que é preciso tocar a vida em momento de luto coletivo é total desprezo às mortes e às famílias. São quase 100 mil vidas perdidas sem que o governo tenha feito algo de efetivo para poupá-las”, lamentou  Gleisi.

“Tocar a vida” não é exatamente o que Bolsonaro tem feito desde que a pandemia aterrissou no país, em fevereiro. Como ocupante do Palácio do Planalto, a exemplo líderes mundiais como o argentino Alberto Fernandéz ou alemã Angela Merkel, tocar a vida deveria traduzir-se em trabalho árduo para proteger a população. Todas as ações de Bolsonaro foram, contudo, no sentido de colocar em jogo milhares de vidas. Fez, como ele mesmo colocou, “o possível e o impossível” para isso. E conseguiu.

Com uma coleção de frases que chocaram o mundo ao longo de cinco meses – “é uma gripezinha”, “e daí?”, “não sou coveiro”, “vamos todos morrer um dia”, “[o vírus] está superdimensionado”, “não precisa entrar em pânico”, “tá com medo de quê?”, entre outras, o líder de extrema direita fez o que pôde para minimizar os efeitos da doença. A cada pronunciamento ou aglomeração da qual participou, fez nada menos do que colocar em risco a vida humana. Antes ou mesmo depois de ter dito que fora contaminado pelo vírus, a estratégia nunca mudou.

Ora, a suposta boa intenção de Bolsonaro na “busca uma maneira de se safar desse problema” não resiste a uma checagem dos fatos. Se quisesse evitar o “problema”, teria começado fazendo bom uso das informações que ele mesmo tinha à disposição. Em março, por exemplo, a Agência Brasileira de Informação (ABIN), chamou a atenção do presidente sobre a letalidade do vírus. Segundo reportagem do The Intercept, publicada no mesmo mês, uma relatório da agência, datado do dia 23, avisou o presidente sobre a possibilidade de o país ter 200 mil casos e mais de 5 mil mortos até o início de abril. Ao invés de alertar a população sobre a gravidade da situação, Bolsonaro ocupou a cadeia nacional de rádio e televisão para fazer virulentos ataques a governadores e prefeitos por fecharem escolas e o comércio.

Assim como os EUA, cujo Centro de Controle de Doenças reúne alguns dos maiores especialistas do mundo, o Brasil possui instituições renomadas de pesquisa, como a Fiocruz, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), além de universidades e do Comitê Científico Consórcio do Nordeste, entre várias outras. Todas vem disponibilizando, desde antes da chegada do coronavírus, informações qualificadas, essenciais para a formulação de estratégias de combate à pandemia.

Os relatórios produzidos são baseados nas mais eficazes medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros institutos que são referência mundial no campo da pesquisa científica. O próprio corpo técnico do Ministério da Saúde, cujos melhores profissionais foram afastados por Bolsonaro por não concordarem com a visão negacionista do presidente, tentou evitar a catástrofe. Não foram bem-sucedidos, assim como ocorreu com os auxiliares de Trump nos EUA.

No mês passado, o ‘Estado de S. Paulo’ revelou que o Comitê de Operações de Emergência da pasta (COE) alertou o ministro interino Eduardo Pazuello sobre os riscos de os impactos da pandemia durarem até dois anos, caso medidas de isolamento não fossem mantidas. “Sem intervenção, esgotamos UTIs, os picos vão aumentar descontroladamente, levando insegurança à população que vai se recolher mesmo com tudo funcionando, o que geraria um desgaste maior ou igual ao isolamento na economia”, advertiam técnicos da pasta, em ata de reunião realizada em maio. Como se vê, Bolsonaro jamais se preocupou em encontrar maneiras de enfrentar a pandemia, o tal “problema” apontado por ele.

Semeador do caos, o presidente e sua negligência acabaram condenados até mesmo pelo ídolo e “aliado” de ocasião, Donald Trump. Nesta semana, o presidente americano voltou a citar o Brasil como péssimo exemplo na condução do país diante da crise sanitária. “Neste momento a Espanha está tendo um grande aumento, e há um tremendo problema no mundo. Você olha para Moscou, olha o que está acontecendo com Moscou, olhe para o Brasil, olha o que está acontecendo nestes países”, afirmou Trump. 

Bolsonaro sabotou o combate à pandemia e estimulo contágio. Imagem: Site do PT

Negacionismo

Templos do negacionismo, Brasil e EUA têm dois presidentes que adotaram a estratégia de polarizar as discussões sobre pandemia. O uso ideológico e político de uma crise sanitária sem precedentes na história recente transformou as duas nações em usinas de transmissão do vírus. A um altíssimo preço: somados, os dois países respondem por quase 8 milhões dos casos mundiais, mais de 41% do total de infecções e mais de 260 mil mortes. A bomba de Hiroshima, uma das maiores tragédias da história, dizimou pelo menos 90 mil pessoas há 75 anos. Já a Guerra do Vietnã ceifou a vida de 58 mil americanos.

Tanto nos EUA quanto no Brasil, seguidores dos dois líderes populistas fizeram pouco caso  da doença. Desde fevereiro, bolsonaristas desafiam autoridades de saúde, retirando máscaras ao entrar em padarias e outros estabelecimentos., exatamente como Bolsonaro fez inúmeras vezes. Em junho, o  negacionismo dos bolsonaristas foi levado às últimas consequências quando um pequeno grupo atirou fogos de artifício contra a sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Nenhum integrante da chamada Marcha dos 300 manifesta-se favoravelmente ao isolamento social.

Fake News

Da mesma forma, nos EUA, milhares de americanos concluíram sem demora que a pandemia do coronavírus não passava de fake news. Foi o caso de um grupo de jovens do Arizona, estado que decidiu suspender medidas de lockdown – o bloqueio total de atividades. A próxima decisão foi reabrir bares e clubes. E, como vários estados brasileiros que reabriram prematuramente, o vírus espalhou-se como brasa. O Arizona tem atualmente 185 mil infectados e mais de 4 mil mortes. Mais da metade dos contágios no estado atingiram pessoas abaixo de 44 anos.

“Covid-19 era uma piada para nós”, declarou o jovem Jimmy Flores à rede de TV ‘BBC’. Após a reabertura no Arizona, frequentou boates e bares, até contrair o vírus, dias depois. Passou oito dias internado, entre a vida e a morte. “Nunca imaginei na minha vida que estaria em um hospital, respirando por um tubo. Eu senti que iria mesmo morrer”, revelou Flores. Recuperado, o jovem passou  a dedicar parte do tempo a gravar vídeos para alertar amigos e familiares sobre a gravidade da doença.

Máscaras, “inimigas” da liberdade

Outra forma de negacionismo típica de Trump que espalhou-se pelo país diz respeito às recomendações de autoridades de saúde para o uso de máscaras em locais públicos. Como cada estado estabelece as próprias diretrizes sobre a recomendação, o assunto virou tema de debate político. Segundo pesquisas, defensores do uso de máscaras são identificados com uma parcela da população que apoia os democratas, enquanto os que consideram que a proteção prejudica  a liberdade individual apoiam o partido republicano.

“Você está retirando nossas liberdades e pisoteando em nossos direitos constitucionais por meio da imposição de ordens ou leis de uma ditadura comunista”, afirmou uma mulher que participava de uma manifestação em Palm Beach, na Flórida, no mês de junho. Segundo o diário britânico ‘Guardian’, vários manifestantes justificaram a campanha contra o uso de máscara. Entre elas, a convicção de teorias conspiratórias por trás da medida, ou o simples fato de que “máscaras atiram pela janela um maravilhoso sistema respiratório criado por Deus”. Qualquer semelhança com um certo país da América do Sul não é mera coincidência.

“Não precisava ser assim”

Enquanto isso, milhares de trajetórias são interrompidas por um vírus que se alimenta, principalmente, de ignorância e da pura irracionalidade oficial. Por hora, ficam a dor e o lamento de líderes como o ex-presidente Lula, cujas palavras de despedida ao ex-deputado petista José Mentor, vítima da Covid-19, encarnam o sofrimento de uma nação. “É muito triste que se vá nesse momento no qual sequer podemos prestar nossas últimas homenagens. Mais uma das milhares de vidas brasileiras que perdemos nessa pandemia pela irresponsabilidade de algumas autoridades. Não precisava nem deveria ser assim.”

Da Redação, com informações de ‘The Guardian’ e ‘BBC’

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